Por Ederson Hising
O cantor e compositor baiano Gilberto Gil teve a concessão do título de doutor Honoris Causa aprovada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na terça-feira, 28. A aprovação da honraria ocorreu duas semanas após a Câmara de Florianópolis (SC) negar o título de cidadão honorário ao ex-ministro e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) – o mesmo havia ocorrido em 2020. No domingo, 26, ele se apresentou em evento comemorativo aos 350 anos da capital catarinense. Gil tem canções feitas na cidade e de histórias vividas nela.
A aprovação do título pela UFSC se deu por unanimidade entre os 42 conselheiros presentes na reunião do Conselho Universitário. O processo, encaminhado pelo reitor Irineu Manoel de Souza, conta com mais de 20 páginas de justificativa e trajetória do artista. Atualmente, a universidade tem 21 títulos de doutores Honoris Causa atribuídos em vida e quatro para já falecidos, em 62 anos de atividade.
O título é concedido pela instituição “a pessoas eminentes, que não necessariamente sejam portadoras de um diploma universitário, mas que se tenham destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições”.
Na justificativa, o texto aprovado diz que há um “conjunto de motivações”, como a contribuição do artista à cultura brasileira como cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical, político e escritor, além das singularidades da presença da ciência em sua obra. Gil, que tem 80 anos, é um dos criadores do movimento Tropicalista e vencedor de inúmeros prêmios internacionais, como o Grammy. Ele também foi ministro da Cultura do governo Lula entre 2003 e 2008 e vereador de Salvador entre 1989 e 1992.
Relação da música de Gil com Santa Catarina
A música de Gilberto Gil também passa por Santa Catarina. No documento do título, a universidade lembra que foi na capital catarinense que o artista compôs A Novidade, uma das mais conhecidas do repertório do baiano. O trecho da canção que diz “a novidade era a guerra/ Entre o feliz poeta e o esfomeado/ Estraçalhando uma sereia bonita/ Despedaçando o sonho pra cada lado” abre o documento, que também destaca a potência lírica ao fazer “a contraposição da beleza da poesia com a tragédia da nossa desigualdade”.
Outra história citada no texto da honraria foi a prisão do cantor em Florianópolis, em 1976, quando estava em turnê com o grupo Doces Bárbaros. À época, Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos por porte de maconha e levados para a cadeia. Depois, eles foram encaminhados para o Instituto Psiquiátrico São José, onde ficaram por quatro dias. Deste episódio, nasceu a música Sandra, do disco Refavela, de 1977.
Na canção, Gil cita mulheres que conheceu nos dias de turnê em Curitiba (PR) e Florianópolis e também homenageia a ex-mulher Sandra Gadelha, que não tinha o acompanhado nos shows. A história da música é contada pelo artista no livro Todas as Letras, da Companhia das Letras. “Dulcina, que era a mais calada, a mais recatada de todas na clínica, a mais mansa – era como uma freira – , foi a única que um dia veio e me deu um beijo na boca”, diz em trecho.
O Estadão entrou em contato com a assessoria de imprensa de Gilberto Gil sobre o título e aguarda retorno.