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Geraldo Pereira, um sambista original

Geraldo Theodoro Pereira, nasceu em Juiz de Fora, em 23 de abril de 1918, e como todo bom mineiro, sempre calado e desconfiado, fazendo as coisas em silêncio, suas brigas, conquistas amorosas e sambas só apareciam para o público quando faziam sucesso.

O sambista veio para a Mangueira aos dez anos de idade, para morar com o irmão mais velho Mané Araújo, homem rico no morro, que tinha muitas mulheres, muitas casas e um bar que era administrado pelo irmão mais novo.

Além da fama de briguento, que foi alimentada por uma lenda criada em torno da sua figura, Geraldo também era um conquistador. Começou a se relacionar com Eulíria Salustiana, garota ‘de menor’, e foi obrigado pelo irmão da mesma, ‘sheriff’ e valentão do morro, a se casar.

Casou, mas não morou com ela, foi para o Engenho de Dentro, onde de cara desbancou um valente chamado Canela do Largo dos Pilares, a quem botou a nocaute com um soco só. Foi levado para a delegacia junto com o valente desmaiado e algemado, mas o delegado que já conhecia bem os seus sambas, o libertou, dando-lhe os parabéns por ter dominado o Canela, homem que enfrentava duas radiopatrulhas de uma só vez.

Geraldo teve o seu primeiro samba gravado por Roberto Paiva em 1939, chamado “Se você sair chorando”, que conseguiu ser finalista do Concurso de Músicas Carnavalescas do DIP, de Getúlio Vargas, tendo sido tocado nas rádios e cantado nas ruas do Rio de Janeiro, projetando o autor no meio artístico carioca. Ao fazer o arranjo para a gravação do samba, Pixinguinha ficou impressionado imensamente com a origina­lidade da melodia, o que o fez pedir ao cantor Roberto Paiva para que apresentasse o arranjo ao autor, para a sua aprovação.

Um dos maiores sucessos do sambista foi “Falsa Baiana” gravada por Cyro Monteiro em 1944, que tem essa letra inesquecível: “baiana que entra no samba e só fica parada, não samba, não dança, não bole nem nada, não sabe deixar a mocidade louca. Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira, que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras, deixando a moçada com água na boca. A falsa baiana quando entra no samba ninguém se incomoda, ninguém bate palma, ninguém abre a roda, ninguém grita ôba, salve a Bahia, senhor. Mas a gente gosta quan­do uma baiana samba direitinho, de cima embaixo, revira os olhinhos dizendo eu sou filha de São Salvador”.

Geraldo viveu muito mais de noite, de boemia e dos seus sambas, esquecendo a mulher Eulíria, brigando com a sua paixão e grande proble­ma amoroso Isabel, com quem juntava e largava. Sua vida era nos cabarés e bares, até se meter com a mulher do valente do Engenho de Dentro, que deu-lhe um prazo para se mudar, e o sambista, agindo com a razão e sabe­doria preferiu cair fora a ter que enfrentar uma parada dura e indigesta.

Em uma noite de maio de 1955, no auge da sua carreira, fazendo um programa semanal na Rádio Mundial, Geraldo Pereira se envolve em uma briga com Madame Satã, outro valente que dominava as áreas frequentadas pelo sambista. Diz a lenda que eles eram amigos e até bebiam juntos, mas havia uma diferença a ser tirada. No Bar e Restau­rante A Capela os dois se enfrentaram na calçada para não prejudicar o ambiente. Dizem que Madame Satã deu um único soco, e que Geraldo bateu com a cabeça na calçada e ficou ferido e desacordado.

Segundo o depoimento de Satã, a ambulância demorou para chegar e ele morreu por relaxamento dos médicos. Geraldo foi para o pronto-socorro e morreu uma semana depois. Em seu enterro, Isabel desmaiou, Eulíria quis bater em umas mulheres que estavam chorando demais ao lado do morto e todo o pessoal da gafieira desceu para pres­tar homenagem ao sambista.

A Mangueira perdeu um representante de grande valia, a música brasileira perdeu um dos personagens mais famosos dos anos 40 e 50 e uma lenda foi criada e perpetuada pelo imaginário popular.

Salve o sambista original, o grande Geraldo Pereira!

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