Em 1983 o saudoso Gonzaquinha lançou o Álbum – Alô, Alô Brasil, onde emplacou o sucesso Guerreiro Menino (Um homem também chora). A letra forte traz um trecho que merece destaque: “um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vidae a vida é trabalho e sem o seu trabalho um homem não tem honra e sem a sua honra se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz.”
Habilmente o compositor reuniu sonho, trabalho, vida, honra e felicidade, elementos fundamentais para o ser humano. Aqui talvez esteja uma das respostas para tanta violência que acontece no país. A ausência do trabalho mata sonhos, traz desonra, acaba com a felicidade e com a vida.
A cruel realidade brasileira ficou escancara nos últimos dias, pois, com a flexibilização das medidas de isolamento social, mais pessoas voltaram a procurar emprego, elevando a taxa de desemprego para 14,4%, no trimestre encerrado em agosto, a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012. São 13,8 milhões de pessoas buscando um posto de trabalho.
Na rotina de enviar currículos e visitar empresas, muitos ficaram surpresos ao perceber que certas profissões serão extintas ou bastante reduzidas como: assistente administrativo, auxiliar de escritório e vendedor de comércio varejista. Por outro lado, surgiram novas como analista de soluções de alta conectividade, especialista em logística 4.0, especialista em gestão da informação, especialista em internet das coisas. Todas exigem qualificação e, em alguns casos, sobram vagas e faltam pessoas habilitadas.
A retomada da economia começa pela educação, pela qualificação profissional e chega até a garantia de fomento para geração de emprego e renda, que deve ser a prioridade de qualquer pessoa que postule cargos no executivo. Quando o gestor público tem coragem e ousadia para desenvolver ações concretas junto ao arranjo produtivo, discutindo estratégias para garantir celeridade nas aprovações de alvarás, licenças e trâmites burocráticos, sem renúncia ao controle sanitário, ecológico e ambiental.
Cada cidade possui a própria potencialidade nas áreas econômicas, sendo missão dos gestores públicos identifica-las, especialmente destacando criatividade, inovação e tecnologia, palavras de ordem nos novos tempos. Passou da hora de estabelecer estratégias de desburocratização propiciando um bom ambiente de negócios.
Os necessários programas de transferências de renda devem ser mantidos, mas não podem ser eternos, tão poucos desvirtuados para fins meramente eleitoreiros. O ser humano necessita do trabalho digno e a justa remuneração para ter a própria renda e fazer as suas escolhas. A ausência de trabalho fragiliza o indivíduo, mas também desestrutura o coletivo.
Na prática devem ser implementadas medidas como a retomada de obras públicas paradas e da política de desenvolvimento da agricultura familiar; reforço da política de apoio à economia solidária e colaborativa e redução da informalidade. Também estimular o setor produtivo com incentivos vinculados à manutenção ou ampliação de postos de trabalho. Considerando que a crise é mundial, o comércio exterior também deve ser vetor de recuperação da economia, estimulando a produtividade e a competitividade da produção nacional, sem prejuízo da consolidação de parcerias internacionais para novos investimentos na planta produtiva e em infraestrutura.
O brasileiro é considerado um guerreiro e voltando à canção do Gonzaguinha, em outro trecho aprendemos que “Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis. Guerreiros são meninos no fundo do peito. Precisam de um descanso, precisam de um remanso, precisam de um sonho que os tornem refeitos.”
Vamos sonhar com novos tempos e com gestores que compreendam que a geração de emprego e renda é uma prioridade nacional.