A equipe médica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – que participou da primeira cirurgia para separar as gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de um ano e sete meses, no sábado (17), disse nesta segunda-feira, 19 e fevereiro, em entrevista coletiva, que as irmãs passam bem e seguem internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
As meninas nasceram com os crânios colados. Elas são naturais de Patacas, no distrito de Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará. No total serão quatro cirurgias, uma a cada dois meses, e a expectativa é que todo o procedimento seja finalizado em novembro. Trinta profissionais de diferentes áreas estão envolvidos.
Segundo a médica intensivista pediátrica Ana Paula Carlotti, o quadro clínico das irmãs é bom e a previsão é que elas tenham alta da UTI nesta terça-feira (20), já que não apresentam déficits neurológicos. “Já estão se alimentando por boca, normalmente. Tudo corre muito bem e, por enquanto, sem complicações”, diz.
A cirurgia no sábado foi comandada pelo chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Machado, e teve a participação do médico norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto. Ela só foi possível por causa da uma parceria da Faculdade de Medicina com o Montefiore Medical Center, em Nova York, Estados Unidos.
O procedimento para começar a desconectar os vasos sanguíneos e expandir a pele na cabeça durou sete horas. A separação total das gêmeas só deve acontecer na última cirurgia. Segundo a médica, na cirurgia de sábado foram feitas as separações da vasculatura, na parte interna dos crânios, mas por fora elas ainda estão unidas. Ana Paula diz que, olhando para as crianças, parece que nada aconteceu, “mas a gente já viu pelos exames de imagem que até o momento o que foi planejado foi muito bem sucedido”. A família foi orientada a permanecer em Ribeirão Preto para o acompanhamento pós-operatório, mesmo após a alta da unidade.
De acordo com o neurocirurgião Ricardo Santos de Oliveira, a primeira cirurgia ficou restrita à separação vascular das irmãs. Apesar de uma das meninas ser dominante em relação a outra, o médico explica que o tempo de recuperação, estimado em dois meses até o próximo procedimento, permite ao organismo de cada uma delas a reorganização das veias.
“Nós utilizamos um material como se fossem lâminas. Chama-se silástico, similar ao silicone e que nós já colocamos depois de realizada essa separação, já prevendo na última etapa, quando nós tivermos que retomar essas cirurgias. É para que não haja aderência através da cicatrização entre o que nós já fizemos”, afirma, ressaltando que o planejamento em etapas reduz o risco na separação desses vasos.
Para auxiliá-los, foi desenvolvido um molde tridimensional em acrílico, com as veias e as artérias das crianças reproduzidas fielmente. Mesmo o modelo feito em 2017, excluindo o crescimento das irmãs, permitiu a aplicação das técnicas estudadas anteriormente pela equipe. Apesar de terem nascido unidas pelo topo do crânio, as irmãs não compartilham o mesmo cérebro. No entanto, a proximidade e o sistema vascular em partes interligado são considerados os fatores mais inquietantes para a equipe.
“Como elas têm uma anatomia muito diferente, seria muito interessante que a gente soubesse exatamente que áreas estão comprometidas. Esses exames que ainda estão em andamento são pra gente tentar desvendar isso, mas é impossível saber no momento quais áreas estão envolvidas”, afirma Machado. Nesta segunda-feira, a assessoria de imprensa do HC divulgou imagens da cirurgia.