Tribuna Ribeirão
DestaqueGeral

Furtos de cabos de energia crescem em ritmo alarmante 

  Crime organizado impulsiona furto de fios e cabos de cobre, gera prejuízos milionários e ameaça funcionamento de serviços essenciais em todo o país  (Alfredo Risk)  

O furto de cabos de transmissão de energia elétrica se transformou em uma verdadeira epidemia urbana no Brasil. Em 2024, as distribuidoras de energia registraram aumento superior a 40% nas ocorrências, que se espalham por todas as regiões do país e afetam diretamente os serviços básicos oferecidos à população. 

O crime, altamente lucrativo devido ao valor do cobre no mercado ilegal, causa prejuízos bilionários às concessionárias, prefeituras, empresas e cidadãos. Mais do que um problema técnico, trata-se de uma ameaça à segurança pública e ao bom funcionamento das cidades. 

Agindo de forma organizada, muitas vezes com uniforme e equipamentos que simulam equipes de manutenção, os ladrões de cabos conseguem atuar em plena luz do dia sem levantar suspeitas. O cobre, material nobre e altamente valorizado, é vendido ilegalmente por até R$ 40 o quilo, sendo derretido para dificultar a identificação de sua origem. 

De acordo com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (ABRADEE), os prejuízos com furtos de cabos já ultrapassam R$ 1 bilhão por ano. Os casos mais graves se concentram nas capitais e em regiões metropolitanas, mas cidades do interior também vêm enfrentando o problema. 

Apagões, insegurança e serviços paralisados 

A consequência mais visível é o apagão de trechos inteiros de iluminação pública, o que compromete a segurança de moradores e facilita a criminalidade. Mas os efeitos vão além: sem energia, semáforos deixam de funcionar, hospitais e escolas são afetados, e empresas acumulam prejuízos por paralisações forçadas. 

Em São Paulo, mais de 10 mil casos foram registrados em 2024. Em Belo Horizonte, a média chegou a 5 ocorrências por dia. No Recife, bairros inteiros ficaram sem luz por mais de 48 horas após ações de criminosos. 

Mercado clandestino de sucatas alimenta o crime 

A cadeia de receptação é o elo que mantém o crime funcionando. Sucateiros compram o material furtado sem verificar a procedência, muitas vezes burlando a fiscalização com notas falsas ou sequer registrando a entrada dos metais. Investigações recentes da Polícia Civil apontam para a existência de quadrilhas interestaduais envolvidas com o tráfico de cobre e alumínio. 

Autoridades apontam que o combate eficaz ao crime passa necessariamente pela repressão ao receptador. “Enquanto for fácil vender o material furtado, o crime vai continuar compensando”, afirma o delegado Rafael Tavares, especialista em crimes patrimoniais. 

Soluções ainda tímidas tentam frear prejuízos 

As concessionárias de energia têm adotado medidas emergenciais para mitigar o problema. Entre elas, estão a substituição de cabos de cobre por materiais alternativos, a instalação de sensores, o reforço da segurança em áreas críticas e o uso de tecnologia para monitorar falhas em tempo real. 

Em cidades como Curitiba e Salvador, ações integradas entre as prefeituras e forças policiais já mostram resultados positivos. Na capital baiana, por exemplo, um programa de fiscalização em ferros-velhos interditou 18 estabelecimentos e reduziu em 30% os registros no último trimestre. 

Apesar da gravidade do problema, a legislação ainda é branda com os receptadores. Projetos de lei que tramitam no Congresso buscam agravar penas e criar obrigações de rastreamento para o comércio de sucata, mas enfrentam resistência. 

Atualmente, o furto de cabos é enquadrado como crime patrimonial, com pena de reclusão entre 1 e 4 anos, podendo ser aumentada em casos de dano ao serviço público. A receptação, por sua vez, prevê pena de até 8 anos — mas, na prática, poucos são presos ou condenados. 

Especialistas em segurança e representantes do setor elétrico defendem uma resposta mais contundente. Isso inclui maior fiscalização nos pontos de compra de metais, integração entre governos e concessionárias e, principalmente, conscientização da população sobre a gravidade do problema. 

“É um crime que atinge a todos, direta ou indiretamente. Não podemos naturalizar o apagão, a falta de internet, o colapso nos semáforos. Isso tem nome: furto de infraestrutura pública. E precisa ser combatido com a mesma seriedade que se combate qualquer crime organizado”, alerta o engenheiro elétrico Marcos Vinícius Braga, consultor do setor. 

No fim das contas, quem paga pelos prejuízos causados pelo furto de cabos são os cidadãos. As concessionárias precisam repor o material, aumentar os gastos com segurança e manutenção, e esses custos acabam repassados às tarifas. 

Sem uma ação coordenada e eficaz, o Brasil continuará convivendo com ruas escuras, serviços instáveis e um rombo crescente em seus cofres — reflexo direto de um crime que ainda se mantém à margem da atenção pública. 

‘Epidemia’ de furtos de fios em RP  

O furto de fiação semafórica disparou em 2025. Em todo o ano de 2024, foram registradas 128 ocorrências, com um total de 3.084 metros de fios furtados, gerando um prejuízo de R$ 37.008,00 aos cofres públicos. 

Já no primeiro trimestre de 2025, os números praticamente igualaram — e em alguns aspectos superaram — os registros do ano anterior: foram 127 ocorrências, 4.992 metros de fios furtados (um aumento de 62% em relação ao ano anterior inteiro) e um prejuízo estimado em R$ 59.904,00, quase 62% a mais do que todo o prejuízo registrado em 2024. 

O crescimento abrupto em tão curto espaço de tempo demonstra uma escalada preocupante dessa modalidade criminosa, que afeta diretamente o funcionamento dos semáforos e, consequentemente, compromete a segurança viária e a mobilidade urbana. 

Em março deste ano o prefeito Ricardo Silva anunciou uma força-tarefa para combater o furto de fiação em semáforos e, na ocasião, informou que ações já estavam em andamento, com operações contra o crime e tratativas com lideranças da segurança pública. “Esse problema acaba atingindo as pessoas no dia a dia. É semáforo que apaga. É a praça que fica escura. É um problema sério”, comentou. 

O diretor superintendente da RP Mobi, Marcelo Santos Galli, em entrevista ao Tribuna Ribeirão, disse que a empresa solicitou “apoio imediato às autoridades” como Polícia Militar, Polícia Civil, e GCM para coibir a atuação dos receptadores. 

“Esses receptadores são clandestinos, fazem a recepção desses cabos de cobre, às vezes até em troca de droga — a gente não sabe qual é o real intuito. Mas já fizemos uma abordagem recente, até prefeito Ricardo Silva também fez uma ação imediata, e foram encontrados cabos de cobre furtados, até placas de sinalização vertical da cidade”. 

Segundo Galli, o objetivo agora é intensificar essas abordagens, por meio da Fiscalização Geral, com apoio da PM para combater os receptadores. 

“Nós somos diretamente afetados, principalmente pela manhã, quando ocorrem esses furtos. Todo mundo que sai para trabalhar é impactado. Por isso, estamos substituindo os cabos de cobre por cabos de alumínio com revestimento de cobre. Uma tecnologia que conseguimos implantar, seguindo o exemplo de outras capitais. Esse tipo de cabo tem um valor muito baixo para comercialização, então, aos poucos, os criminosos vão entendendo que não há mercado para isso, e a tendência é que os furtos diminuam. Mas o fato é que isso tem aumentado os nossos custos: com os agentes que vão até as vias para interditar, com a equipe de manutenção semafórica que precisa agir rapidamente, e com o tempo que a gente perde. Aquilo que eu sempre falo: o nosso ‘material pensante’, que deveria estar focado em ajustar e aprimorar os semáforos — por exemplo, para garantir a maior coerência possível das ondas verdes em Ribeirão — acaba tendo que agir de forma reativa, apenas para repor o que foi danificado. Isso é lamentável e prejudica muito a cidade de Ribeirão Preto,” finaliza. 

 

 

 

Postagens relacionadas

Prefeitura zera a fila de creche   

Redação 2

Daerp já consertou 1.163 vazamentos

Redação 1

O valor previsto para o salário mínimo é de R$ 1.412 a partir de janeiro

Redação 2

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com