Morar onde Jesus Cristo nasceu e onde Ele foi morto. Frei Anízio Rodrigues de Oliveira, radicado em Ribeirão Preto viveu por cinco anos nestes dois locais considerados os mais sagrados da cristandade: a Basílica da Natividade e a do Santo Sepulcro. Em clima de Natal e no verdadeiro sentido da data, o nascimento de Cristo, o Tribuna entrevistou o Franciscano que contou um pouco dessa experiência única.
Frei Anízio frisa que tudo começou com São Francisco de Assis, em plena Idade Média. “Naquela época Francisco envia os frades, seus companheiros, para cuidarem dos lugares santos. De lá para cá, os franciscanos do mundo inteiro podem fazer uma experiência na Terra Santa, ajudando a cuidar dos lugares santos. Em 2012, eu desembarco nestas terras para uma experiência maravilhosa que durou cinco anos”.
Ele diz que qualquer frei franciscano do mundo pode se oferecer para uma experiência na Terra Santa. Basta o candidato enviar uma carta para seus superiores que analisarão. Se o mesmo for achado idôneo, terá as portas de todos os conventos franciscanos abertos para ele. “Foi assim que aconteceu comigo”.
Apesar da experiência, Frei Anízio disse que sua recepção foi bem simples, algo nato nos Franciscanos. “Não tive nenhuma grande recepção, porque não é do feitio dos freis que lá vivem. Porém, desde o primeiro dia que lá cheguei, fui muito bem acolhido por todos”, lembra.
Latim, o desafio
A primeira experiência de Frei Anízio foi na Basílica da Ressureição, ou como também é conhecida, a Basílica do Santo Sepulcro, localizada no Quarteirão Cristão da Cidade Velha de Jerusalém onde, segundo a tradição (João 19:41- 42), Jesus teria sido crucificado, sepultado e, ao terceiro dia, teria ressuscitado.
Lá apenas dez freis são escolhidos para cuidar do local sagrado. Frei Anízio celebrava missa em português e em latim próximo ao túmulo de Cristo. “Meu primeiro e grande desafio foi ter que aprender esta língua em pouco tempo. Além do latim, também celebrava em italiano, espanhol e português”, ressalta. Além do latim, ele diz que outras dificuldades “tenham sido a distância da família e a saudades do Brasil”.
Vida e Morte de Cristo
Pelo nascimento e morte de Cristo, Natal e Páscoa eram datas concorridas. Frei Anízio lembra como eram as visitações. “Nestas datas o país recebe milhares de peregrinos do mundo todo. Por causa deste grande fluxo de pessoas, era um pouco difícil e complicado desenvolver nossas funções. Por exemplo, a Basílica do Santo Sepulcro, local onde vivi um ano e meio, possui uma única porta. Imaginem a cena, batalhões de gente entrando e saindo pela mesma porta. Era um verdadeiro caos! Mas, lindo de se ver! Era lindo ver a fé movendo aquele batalhão de pessoas do mundo todo”, diz.
A experiência mudou a forma de olhar do franciscano em relação ao que era antes. “Acho que o maior ensinamento foi bíblico. Hoje, eu leio a bíblia e reflito as passagens da vida de Jesus Cristo de outra forma. Penso que foram agregados muitos novos conhecimentos. Outro maior ensinamento foi aprender a respeitar as diferenças que existem entre as pessoas; sejam elas, religiosas e culturais. Convivi com pessoas das mais diferentes nacionalidades: africanos, asiáticos, americanos e europeus; enfim, convivi com pessoas de todos os continentes. Esta miscigenação ao mesmo tempo que foi um desafio, foi também de uma grande riqueza humana e espiritual. Aprendi muito também sobre Judaísmo e Islamismo”, conta.
Pedimos para Frei Anízio deixar uma mensagem de Natal aos leitores e prontamente ele atendeu: “que o Menino-Deus que se fez carne e história nascendo no meio daquele povo; que ELE possa também construir uma linda história de amor nos povos do mundo todo, e principalmente do Brasil! Desejo a todos um Feliz Natal e um 2019 abençoado! E convido a todos a irem comigo conhecer aquela terra santificada por ter acolhido o santo-dos-santos, Jesus Cristo, nosso salvador”.