João Camargo
A fotógrafa Karoline Saadi, moradora de Ribeirão Preto, teve de se reinventar nesta época de quarentena para continuar fazendo o que ama: fotografar. Apesar de ter sofrido com projetos remarcados, ela resolveu utilizar as plataformas de vídeo-chamadas para realizar trabalhos gratuitos para seus clientes.
Karoline conta que parou completamente com os trabalhos presenciais e fez isolamento voluntário antes mesmo da quarentena começar na cidade. “Fiz isso por responsabilidade social e responsabilidade com as famílias que atendo. Trabalho com bebês pequenos, gestantes, enfim, não queria colocar em risco nem minha família, nem as famílias que atendo”, comentou.
Ela acredita que este momento que enfrentamos é de reflexão e, neste período, tem focado em fazer manutenção das redes sociais, estudar fotografia e evoluir como profissional. Mas, o fato de não estar fotografando e se envolvendo com seus clientes despertou um impulso em Karoline para que os trabalhos com vídeo-chamadas fossem colocados em prática.
“O impulso para começar as vídeo-chamadas surgiu com a ideia de realizar uma troca de carinho, de estar junto, levar e receber conforto para pessoas que assim como eu estão tendo que lidar com um mundo novo. Eu estava me sentindo triste, tanto por estar sem contato com as famílias, quanto por estar sem fotografar. É um trabalho gratuito, feito para trazer bons momentos, para que a gente tenha uma boa manhã juntos, ou uma boa tarde”, informou.
Essa maneira de fotografar é, mais do que nunca, uma via de mão dupla. Karoline faz as ligações de seu computador para o celular da família que posa para as fotos e tenta articular o aparelho para um ponto de melhor luz na casa.
“Não direciono poses, quando começamos a chamada, vejo onde fica o melhor ponto de luz na casa, peço que posicione o celular e começamos. Parte das imagens eu capturo por print da tela, parte eu fotografo a tela. Não tem um padrão. Basicamente eu lido com o improviso do momento, e isso é muito legal também, porque eu tenho a possibilidade de me reinventar em cada ligação”, ressaltou a fotógrafa.
Parto à distância
Karoline conta que nunca havia fotografado por vídeo-chamada, nem havia sido algo que tinha considerado ser possível. Foi algo gerado exclusivamente pela e para a quarentena.
Ela tem feito fotografias de famílias, gestantes, mães e pais com recém-nascidos na rotina diária. No entanto, o que mais se destacou foi um parto domiciliar, no qual a família estava no Rio Grande do Sul.
“Para mim o parto domiciliar foi o ápice de onde pude chegar com essa maneira atípica e registrar histórias. Poder presenciar a vida chegando, a renovação de esperança em um momento tão adverso foi incrível, emocionante. Foi lindo. Além do teor de confiança trocada. Algo que ficará marcado em mim para sempre”, disse.
Até o momento em que Karoline concedeu a entrevista, ela havia realizado 20 video-chamadas, com 20 famílias diferentes.
Famílias
Karoline Saadi começou a fotografar desde que teve seu primeiro contato com uma câmera profissional. A partir disso, começou a pesquisar na internet os princípios básicos da fotografia e nunca mais a largou. Hoje, já faz dez anos que a fotografia é parte de sua vida.
No entanto, ela tem sua especialidade e segue para um caminho diferente: famílias. “A fotografia de família me faz sentir pertencente a um espaço. Faz eu me sentir acolhida. Eu sempre digo que não tenho clientes, eu ganho famílias. É uma constante de suprir algo meu, com doar algo meu. Acredito que a fotografia tenha alicerce nessa troca. As relações familiares são intensas, complexas e sinceras”, explicou.
Em novembro de 2019, a fotógrafa teve um álbum de fotos premiado no prêmio Golden Leans Awards, que equivale a um “Oscar” na fotografia. Além dessa premiação, Karoline ficou na 35ª posição na categoria melhor fotografia de família, em que concorreu com outros 251 profissionais. Entre os brasileiros que também disputaram, ela foi a 5ª mais bem colocada.
O álbum de 20 fotos, que deu o prêmio para a fotógrafa, foi fruto de um ensaio com Marcela Mendonça e seus dois filhos, Luisa e Bruno – este último com paralisia cerebral.