A menina dos olhos da indústria automotiva neste momento são os veículos autônomos. Apesar de ainda estarmos dominando apenas as tecnologias básicas deste setor, algumas empresas já projetam os carros que serão totalmente automatizados. Mas, uma questão que fica no ar é: quando chegarmos à popularização destes veículos, quanto tempo eles vão durar?
Em uma entrevista ao The Telegraph, em Londres, John Rich, chefe de operações da Ford Autonomous Vehicles, revela que “o que menos me preocupa neste mundo é a diminuição da demanda por carros”, porque “esgotaremos e esmagaremos um carro destes a cada quatro anos neste tipo negócio”. Traduzindo: a demanda será tão alta, e o nível de manutenção tão estressante, que os carros se deteriorarão rápido.
Para efeito de comparação, um taxi comum em Nova Iorque dura, em média, 3,8 anos. O que pode significar que muitos deles são novos e outros tantos estão à beira do colapso. O dado fica ainda mais alarmante quando comparamos com veículos de uso normal nos Estados Unidos; os americanos mantêm seus carros por quase 12 anos, em média. Já na Inglaterra por exemplo, um proprietário mantém seu veículo por quase 10.
Preço alto e baixa durabilidade?
Como algo que custa bilhões para ser planejado pode durar tão pouco? Segundo Rich, para um veículo autônomo valer a pena, ele precisa ser utilizado o tempo todo. “Os veículos de hoje passam a maior parte do dia estacionados. Para desenvolver um modelo de negócios rentável e viável [para veículos autônomos], eles precisam estar funcionando quase o dia inteiro”, comenta.
De fato, a Ford ainda não pensa em vender carros autônomos para o consumidor final. Ao invés disso, planeja usar os veículos em frotas autônomas como serviço prestado por outras empresas, inclusive como veículos de entrega. A Ford vê “a comercialização inicial de VAs centrada em frotas”, disse Rich.
O pessoal do TechCrunch, que entrevistou o mesmo John Rich, perguntou se a previsão para a vida útil de carros autônomos está ligada a sua expectativa de que os veículos autônomos da Ford sejam movidos por motores de combustão interna. A maioria das montadoras parece estar investindo em novas arquiteturas de motores deste tipo que prometem maior eficiência e menos emissões, mas que ainda exigem mais peças do que carros elétricos. E quanto mais partes estão sendo estressadas (vide o que dissemos acima), maior a probabilidade de que algo se quebre.
Rich disse que a idéia é fazer a transição para veículos elétricos a bateria (BEV) eventualmente, mas que a Ford também precisa “encontrar o equilíbrio certo que ajude a desenvolver um modelo de negócios viável e lucrativo. Isso significa iniciar com híbridos primeiro”. Como é de conhecimento dos leitores do Canaltech, um dos carros mais usados pela Ford quando se trata de testes autônomos é o Ford Fusion, seu híbrido mais conhecido.
Outro desafio é a tecnologia a bordo do carro. Os testes mostram que mais de 50% da bateria, por exemplo, será utilizada para os sistemas autônomos. E isso não conta a descarga em ar condicionado e opções de infotenimento, extremamente necessários para este tipo de serviço.
Nem tudo está perdido
Apesar de poluir o ar e tudo o que já sabemos sobre ocorrências ambientais deste setor, um carro pode ser reciclado. De acordo com levantamento do ISRI (Instituto de Indústrias de Reciclagem de Sucata), entre 80% e 86% de um veículo pode ser reciclado e reutilizado. Os Estados Unidos, por exemplo, reciclam mais de 150 milhões de toneladas de sucata por ano, sendo 85 milhões de ferro e aço.
Com uma vida útil de um carro autônomo sendo tão baixa, é evidente que as prepocupações ambientais se fazem presentes, principalmente por causa das baterias dos híbridos. Mas, é sempre bom lembrar que essa previsão de Rich soa mais como pessoal do que propriamente embasada em números e estudos.
Até o momento, a Ford já investiu quase US$ 4 bilhões (R$ 16 bilhões) na produção e desenvolvimento de tecnologias autônomas.
Resta a nós esperar para ver.
Via Canaltech