Por Maria Fernanda Rodrigues
Flora Süssekind, uma das principais pesquisadoras da Fundação Casa de Rui Barbosa, que é um dos mais importantes centros de pesquisa do Brasil e referência para pesquisadores de todo o mundo, decidiu se aposentar. Sua aposentadoria foi publicada no Diário Oficial de sexta-feira, 31, quase 40 anos depois de ela ter chegado à instituição como bolsista e é uma consequência dos rumos que a Casa de Rui Barbosa está tomando.
“Eu estava em licença prêmio desde janeiro, pensando se devia de fato sair, se seria mais útil, nesse momento, à Casa Rui, lá dentro ou fora. Conclui pelo fora. Mas é uma dor”, diz a pesquisadora de 64 anos ao Estadão.
A licença à que Flora Süssekind se refere foi tirada logo após a sua exoneração, em janeiro, como chefe do Centro de Pesquisa em Filologia. Na mesma data, foram exonerados ou dispensados outros quatro servidores de funções de chefia, entre os quais a jornalista Jouelle Rouchou, que era chefe do Centro de Pesquisa em História. Ela se aposentou em abril, depois de 32 anos na Casa de Rui Barbosa, que é ligada à Secretaria Especial da Cultura.
A decisão de Letícia Dornelles, presidente da instituição, foi vista na época pelo servidores como política. O grupo estava entre os que questionavam sua nomeação, em outubro de 2019: a jornalista de TV não tem os requisitos mínimos necessários para o cargo e havia sido feita uma eleição interna para definir um nome para a presidência, sugestão que não foi levada em consideração.
A permanência do grupo também era vista como um entrave para transformar a Casa de Rui Barbosa em um museu-casa e diminuir sua produção cultural. A missão da fundação é preservar a memória nacional; formar, preservar e difundir o acervo bibliográfico e documental (estão ali cerca de 150 acervos de importantes intelectuais e escritores, além de coleções); desenvolver estudos e pesquisas em suas áreas de atuação (estudos ruianos, de política cultural, história, direito e filologia) e em cultura brasileira em geral; entre outras atividades.
Por meio da assessoria, em janeiro, Letícia Dornelles disse que a dispensa dos servidores de seus cargos de chefia foi uma medida de “otimização administrativa, decisões de governo”.
O que acontece na fundação carioca é exemplar do que ocorre no País, na opinião de Flora Süssekind. “Como em outras instituições, nomeiam-se para funções de direção espécies de interventores (encastelados) que não preencham minimamente os requisitos de formação ou de experiência em gestão exigidos para o cargo e a isso se seguem tentativas de questionamento ou pendengas jurídicas, que vão sendo proteladas enquanto se trava o funcionamento (cultural/científico) eficaz do órgão, atua-se (velada ou explicitamente) sobre as redes sociais, transformadas em instrumento de propaganda (algumas vezes de autopropaganda) e se amesquinha o potencial de intervenção da instituição no debate público de modo a que, se extinta, a força dessa extinção se tornará crescentemente diminuta.”