Tribuna Ribeirão
Geral

Fiscal de contratos nega irregularidades

MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ouviu nesta terça-feira, 6 de julho, a servidora do Mi­nistério da Saúde Regina Célia Oliveira. Fiscal de contratos de vacinas no órgão, ela foi apon­tada pelo também servidor da pasta Luis Ricardo Miranda e pelo irmão dele, deputado fe­deral Luis Miranda (DEM-DF), como responsável pelo contrato assinado entre o governo federal e a Bharat Biotech para compra da vacina indiana Covaxin.

O documento foi posterior­mente suspenso em função das suspeitas de irregularidades. Segundo a denúncia, a fatura de pagamento referente ao contra­to de aquisição de 20 milhões de doses do imunizante teria indícios de irregularidades e, mesmo assim, foi aprovada pela servidora. Em sua defesa, Regi­na Célia afirmou que não identi­ficou “nada atípico” na fiscaliza­ção do contrato para compra da vacina indiana Covaxin.

“Não achei nada atípico no processo, no que me cabe. Em relação à minha função de fis­calizar a execução do contrato, não teve nada atípico”, decla­rou. Logo no início de sua ex­posição, Regina Célia desmen­tiu a declaração dos irmãos Miranda à CPI sobre os trâmi­tes da importação da vacina.

“Não seria verdade o fato de se ter pagamento antecipado para esse contrato”, garantiu. Se­gundo ela, o pagamento só seria feito após aprovação da vacina pela Agência Nacional de Vigi­lância Sanitária (Anvisa). A ser­vidora disse ainda aos senadores que também fiscalizou contra­tos do governo federal com a Pfizer, o Instituto Butantan, a Janssen e a União Química.

Ao responder a perguntas de senadores sobre por qual moti­vo teria demorado a notificar o atraso da companhia no envio de doses, Regina Célia explicou que à época não podia fazer nada, pois ainda não havia sido nomeada para a função de fis­calizar o contrato da compra da Covaxin. Segundo a servidora, o processo ficou quase um mês sem ninguém para fiscalizá-lo.

À CPI, Regina Célia afir­mou que sua nomeação como fiscal do contrato se deu no dia 22 de março, cinco dias após o descumprimento do prazo de envio das primeiras doses por parte da Bharat Biotech, fabri­cante da vacina negociada por meio de um acordo do Minis­tério da Saúde com a Precisa Medicamentos assinado no dia 25 de fevereiro. “A portaria que me indicou como fiscal desse contrato só foi publicada no dia 22. Eu não poderia me ma­nifestar antes disso”, explicou.

A servidora acrescentou que a primeira manifestação dela com questionamentos a respeito dos atrasos na entrega das doses foi feita no dia 30 de março, três dias depois de o segundo prazo também ter sido descumprido e dez dias depois da suposta visita do deputado federal Luís Miran­da ao presidente Jair Bolsonaro.

O Brasil não chegou a rece­ber nenhuma dose da Covaxin, no mês de junho; depois das de­núncias, o Ministério da Saúde suspendeu o contrato. Regina Célia disse aos senadores que na função que desempenha não tem competência para paralisar o processo de importação da Covaxin. A servidora também negou ter sofrido pressão ou ameaça de exoneração de seu cargo comissionado para facili­tar a aquisição de vacinas.

Impostos
Segundo Regina Célia, o pa­gamento de impostos e tributos relativos à compra da Covaxin deveria ser feito no Brasil, como determinava o contrato original­mente assinado com a empresa Precisa Medicamentos. Apesar disso, segundo o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), uma mudança contratual transfe­riu essa responsabilidade para a empresa Madison Biotech, com sede em Cingapura.

“O contrato da Covaxin pre­vê que esses custos devem ser absorvidos pela Precisa Medi­camentos. Por isso, não seria ca­bível o que fizeram. Por que os encargos deveriam ser pagos em uma empresa em paraíso fiscal? Isso é um horror”, criticou Ca­lheiros. A servidora reconheceu que o pagamento de tributos em separado pela Madison Biotech “não seria cabível”.

Mas justificou que a avalia­ção sobre esse ponto do contrato deveria ter sido feita por outro setor no ministério, a Divisão de Importação da pasta. “Os tributos têm que estar incluídos no preço final do produto, não fica separado”, disse. Ainda du­rante o depoimento, a servido­ra do Ministério da Saúde con­firmou que aprovou mudança na quantidade de doses da Co­vaxin que seriam entregues na primeira remessa, de quatro milhões para três milhões.

Invoice
Entre os pontos suspeitos, levantados pelos irmãos Mi­randa, está o fato de a invoice (fatura) da primeira remessa de doses ter vindo no nome da Madison Medicamentos. A empresa ainda não havia sido citada na negociação e seria uma terceira nesse processo. A fabricante da Covaxin é a em­presa Barath Biotech e a repre­sentante da empresa no Brasil é a Precisa.

Perguntada sobre negocia­ções com essa terceira empre­sa, a servidora disse que não considerou o aceite da invoice com a inclusão da Madison como intermediadora do con­trato. Perguntada pelo relator se seria possível efetuar o paga­mento a uma terceira empresa que não constava no contrato, a servidora respondeu que não e que esse tipo de ação nunca teria acontecido antes no Mi­nistério da Saúde.

Suspeita de favorecimento
Durante o depoimento, Re­gina Célia garantiu que não fa­voreceu de nenhuma maneira a Precisa Medicamentos e que nunca recebeu da empresa ofer­tas de vantagens. A servidora negou que houvesse alguma situação incomum na execu­ção de contratos de produtos relacionados à pandemia. Ela também afirmou que a empresa não influenciou na escolha dela como fiscal do contrato e nunca a orientou sobre como proceder.

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