Na próxima terça-feira, 2 de novembro, Dia de Finados, os três cemitérios de Ribeirão Preto – Bom Pastor, Girassóis, Saudade – e o do Distrito de Bonfim Paulista deverão receber milhares de pessoas. Todas em busca de matar a saudade e homenagear familiares e amigos enterrados em um deles. Localizado no bairro Campos Elíseos, zona Norte, o Cemitério da Saudade é o mais antigo e o maior da cidade. Possui 7.604 sepulturas e 134 mil pessoas enterradas.
Inaugurado em 1893, o cemitério possui muitos jazigos imponentes, construídos em uma época em que a importância e o status econômico de quem falecia eram traduzidos em seus túmulos. Por isso, lá é possível encontrar, lado a lado, desde grandes jazigos pertencentes a famílias consideradas tradicionais na cidade, até construções mais simples, mas que buscam destacar publicamente a importância sentimental e a saudade de quem está enterrado.
Uma característica peculiar do Cemitério da Saudade é que os jazigos de uma mesma quadra não obedecem uma ordem numérica cronológica. Isso porque, no começo da comercialização deles – nos anos 1900 – o comprador podia escolher a localização do túmulo e o número dele era dado a partir da venda seguindo uma ordem numérica. Assim o jazigo de numero 50, por exemplo, não está localizado ao lado do 51, mas em outra parte qualquer do cemitério.
Essa descontinuidade numérica dificultou durante muito tempo, que alguém que não conhecesse a localização do túmulo de um parente ou amigo, pudesse localizá-lo rapidamente. Em alguns casos era obrigado a esperar até uma semana para que os funcionários o localizassem. Outro fator que contribuía para essa demora, era a não informatização da parte administrativa do cemitério. Os registos dos sepultamentos e a localização de cada túmulo eram feitos em livros.
Há quinze anos o servidor municipal Manoel Carlos Sabino é o responsável pela administração e pelo dia a dia do Cemitério da Saudade. Ele quem iniciou sua vida pública há trinta e três anos, como digitador, no hoje extinto Departamento de Urbanizacão e Saneamento de Ribeirão Preto (Dursarp) foi o responsável pela informatização do local.
Atualmente, segundo Sabino, 85 % dos registros de sepultamentos e a localização de grande parte dos jazigos estão informatizados. Já o percentual que falta está sendo informatizado pelos servidores quando não estão executando outro serviço.
Túmulos mais visitados
O Cemitério da Saudade tem os túmulos campeões de visitação. O que lidera o ranking é o “Menino Zezinho”, que nasceu em Altinópolis, em 1938, mas veio para Ribeirão Preto ainda bebê.
Zezinho foi diagnosticado com filariose, uma doença parasitária caracterizada pelo alojamento de parasitas no sistema linfático, gerando um inchaço extremo dos membros (braços, pernas) e órgãos genitais. Causada por vermes conhecidos como filárias, que são transmitidos através da picada de mosquitos, a filariose é popularmente conhecida como elefantíase.
Segundo reza a lenda, Zezinho, inspirava a compaixão de todos por causa da deformidade causada pela elefantíase, numa época em que não se tinha tratamento para a doença e contraiu nefrite crônica (inflamação dos rins) aos sete anos. Nessa época, teria tido uma visão com Santo Antônio e passado a benzer pessoas. Segundo relatos em jornais da década de 1940, filas se formavam para receber as bênçãos do menino.
Zezinho morreu ainda criança, aos nove anos, em 22 de novembro de 1947, e foi sepultado no Cemitério da Saudade. Ninguém sabe explicar como teve início a devoção e a crença de que ele era milagreiro, mas desde aquela época seu túmulo (sepultura nº 1.632 da quadra 12) é o mais visitado. Tido como santo para muitos, o mausoléu do menino tem quase 300 placas de agradecimentos, oferendas e até objetos simbolizando graças alcançadas.
Túmulo das almas
Outro túmulo que recebe muitas visitas é o “das almas”. O jazigo foi construído para que pessoas que têm parentes ou amigos no ossuário do cemitério tivessem um local para realizar suas preces e orações. Os ossuários são locais construídos para guardar os ossos remanescentes das pessoas falecidas que não tinham como comprar um jazigo. Essas construções são, geralmente, estruturas verticais que contêm gavetas lacradas. Há mais de vinte anos o Cemitério não tem mais jazigos para serem comercializados.
Personalidades
Ex-prefeitos e personalidades de Ribeirão Preto também estão sepultados no Cemitério da Saudade. São eles: Antônio Duarte Nogueira, Veiga Miranda, Fábio Barreto, Costábile Romano, Alfredo Condeixa Filho e Camilo de Mattos.
O jornalista e radialista Wilson Toni, que faleceu em 1º de dezembro de 2005, também foi enterrado no local. Considerado um dos maiores comunicadores da região – ele editava o jornal diário Verdade e apresentava um programa, também diário no rádio e na TV, chamado Clube Verdade.
Cão chama atenção
Além das tradicionais esculturas de Santas sobre muitos jazigos, a escultura de um cão da raça dálmata chama a atenção. A escultura teria sido colocada para homenagear a fidelidade do cachorro de um senhor que foi enterrado no local em 25 de maio de 1968. Após a morte de seu dono, o cão que teria acompanhado o enterro deitou ao lado do túmulo e de lá não saiu mais. Não comia nada que lhe ofereciam e teria ficado no local até ficar doente e morrer.
Em homenagem à fidelidade do animal, os amigos do falecido mandaram fazer a escultura de um cão e fixaram sobre o jazigo.
Outros personagens que podem ser vistos no cemitério são os macacos sagui. Um bando com cerca de vinte integrantes vive por lá, sobre as árvores, há um bom tempo.
Cemitérios seguirão protocolos sanitários
Em conformidade com o Decreto municipal 220/2021, que autoriza excepcionalmente atividades ao ar livre, os cemitérios municipais de Ribeirão Preto funcionarão no Dia de Finados, 2 de novembro. O horário de visitação será das 7 às 18 horas e o atendimento administrativo, das 7h30 às 17 horas. Os eventos ficarão restritos à celebração de missas, orações por entidades religiosas e entrega de mensagens consoladoras.