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Fim do imbróglio da maria-fumaça da Mogiana?

ALFREDO RISK

 

A tentativa de retirada da maria-fumaça estacionada na Avenida Mogiana, em Ribeirão Preto, em dezembro de 2017, que seria transportada para Itu (SP), gerou polêmica, virou caso de polícia e alvo de uma batalha judicial que tramita até hoje. A locomotiva ficou na cidade por meio de uma liminar. Passados quase três anos, o Citrem – Con­sórcio Intermunicipal do Trem Republicano, que envolve as ci­dades de Salto e Itu, conseguiu outra máquina para puxar os vagões e o seu projeto deve sair do papel, depois de 15 anos, no próximo mês. Por outro lado, a maria-fumaça de Ribeirão está no mesmo estado de abandono.

Representantes de entidade ligadas ao setor de turismo, que entraram com o pedido de limi­nar e conquistaram na Justiça que a locomotiva fique na aveni­da Mogiana até o julgamento do processo, esperam que o Citrem desista dessa batalha judicial. “Vamos conversar com os pre­feitos de Salto e Itu, para que eles desistam, mas sabemos que a locomotiva não é do tipo Maria­-Fumaça, é uma movida a diesel. Outro ponto é que estamos no final de um processo eleitoral, temos também de esperar para saber quem governará essas ci­dades”, disse um dos represen­tantes que pediu para não ser identificado.

Consórcio Intermunicipal do Trem Republicano, que envolve as cidades de Salto e Itu, conseguiu outra locomotiva para puxar os vagões e o seu projeto sairá do papel

Se a maria-fumaça da Mogiana está abandonada, o projeto Trem Republicano ga­nhou corpo e data para entrar em atividade. Sem a locomo­tiva do acervo turístico de Ri­beirão Preto, o Citrem buscou uma máquina, mais moderna, que estava em Campinas, e estavam sendo usadas na li­nha turística que faz o trecho Campinas-Jaguariúna. Outros carros de passageiros que es­tavam em Curitiba, em outra rota famosa que liga a capital paranaense à Morretes, tam­bém foram transportados à cidade paulista.

A composição chegou a Itu, após ser transportada por mais de 500 quilômetros pela BR-116. A locomotiva e um vagão foram descarregados nesta terça-fei­ra (10), na Estação Ferroviária de Itu, que receberá ainda mais uma locomotiva e dois vagões até o fim do ano.

Modelo é uma das três remanescentes do fabricante alemã Borsig no Brasil

Projeto Trem Republicano
Iniciado há 15 anos, o proje­to turístico do Trem Republica­no passa a operar oficialmente na segunda quinzena de dezem­bro. A rota de aproximadamente oito quilômetros será percorrida entre os municípios de Itu e Sal­to. A Serra Verde Express, atual concessionária dos trens turísti­cos na ferrovia Paranaguá-Curi­tiba, é a responsável pelo serviço no interior de São Paulo.

Depois de serem transportados por 500 quilômetros pela BR-116, uma locomotiva e um vagão chegam na Estação Ferroviária de Itu

O local escolhido para rece­ber a composição do Trem Tu­rístico será também o ponto de partida do passeio, a partir de dezembro. Na Praça Dr. Gas­par Ricardo, no bairro Liberda­de, em Itu, a Estação Ferroviá­ria foi inteiramente restaurada para receber os passageiros e operar o serviço. O imóvel sedia a Secretaria Municipal de Turismo, Lazer e Eventos e funciona ainda como central de informações turísticas.

O espaço foi escolhido por contar com uma oficina para a manutenção dos trens. A esta­ção ferroviária em Salto, escolhi­da como destino final, também foi restaurada e está pronta para receber os turistas.

A atração é considerada uma das apostas para a retomada da economia regional no período de pós-pandemia e conta com um projeto arquitetônico arro­jado, moderno e aconchegante, com arquitetura dos vagões assi­nada pela arquiteta Lucille Ama­ral. “Nos três vagões, o Trem Republicano vai transportar 132 passageiros em cada viagem e prevê ainda espaço para pets”, afirma Adonai Aires de Arruda, diretor presidente da Serra Ver­de Express. A composição res­taurada deve levar aproximada­mente uma hora para percorrer os 7,6 quilômetros do passeio.

O que é o Trem Republicano
O projeto turístico Trem Republicano busca o resgate da história da Companhia Ytuana de Estrada de Ferro. O nome é uma referência à Convenção Republicana realizada em abril de 1873, em Itu, considerado o primeiro passo efetivo para a proclamação da República no Brasil. A inauguração da ferrovia Ytuana coincidiu com o evento político.

Curitiba a Morretes
Além do Trem Republicano, a Serra Verde Express também é responsável pelo passeio ferrovi­ário entre Curitiba e Morretes, que percorre a maior porção contínua de Mata Atlântica preservada no Brasil. Mais de três milhões de passageiros foram transportados durante os 22 anos de operação nessa rota, o que rendeu à empresa premia­ções nacionais e internacionais, além da nomeação pelo jornal The Guardian como um dos 10 passeios de trem mais espetacu­lares do mundo.

OUTRA MARIA-FUMAÇA DE RIBEIRÃO, A AMÁLIA ESTÁ SENDO REFORMADA
A locomotiva alemã Borsig foi retirada da praça Francisco Schimdt, na avenida Jerônimo Gonçalves, na região da Baixada, na divisa do Centro Velho com a Vila Tibério, em Ribeirão Preto, no dia 18 de julho, para ser restaurada. Todo o trabalho foi acompanhado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac), que aprovou o tombamento provisório da maria-fumaça.

Os trabalhos de restauração da locomotiva – batizada de “Amália” por causa da usina a que per­tencia antes de ser doada ao município, o nome está gravado nas laterais do equipamento – foi feito com guinchos e caminhões munck. A prefeitura de Ribeirão Preto abriu licitação, em maio, no valor de R$ 808,33 mil, mas o serviço será feito por uma empresa de Campinas por cerca de R$ 805 mil

Os recursos para o restauro da locomotiva são oriundos do empréstimo feito pelo município por meio do Programa de Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) da Caixa Econômica Federal. A recuperação da maria-fumaça obedece a várias etapas que incluem desde a retirada da locomotiva do local para ser restaurada em ambiente apropriado até seu retorno à praça Francisco Schimdt.

A locomotiva Phantom, popularmente conhecida como maria-fumaça, pertencia a Usina Amália e em 1912 foi doada para Ribeirão Preto pelas Indústrias Matarazzo. O modelo é uma das três remanescentes do fabricante alemã Borsig no Brasil. As outras duas estão em Itapetininga e Jaguariúna. Abandonada, a ribeirão-pretana serviu durante muito tempo como dormitório de pessoas em situação de rua e também de abrigo para usuários de drogas – a praça chegou a ser uma das “cracolândias” da cidade.

TENTATIVA FRUSTRADA


Tentativa de retirada da Maria-Fumaça, em dezembro de 2017, provocou polêmica e até a pre­sença da Polícia Federal. A locomotiva de fabricação inglesa, modelo 4-6-0 Then Weeler, foi adquirida pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em 1893 e está exposta na cidade há mais de 40 anos.

 

 

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