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Filme explora as descobertas da maternidade

Por Luiz Carlos Merten – Especial para o jornal O Estado de S. Paulo

Foi uma conversa amigável, não necessariamente baseada nos mesmos pontos de vista. Dainara Toffoli demorou anos para levantar, e concluir, o projeto de Mar de Dentro. “Quando comecei a trabalhar não havia muitos filmes sobre maternidade, agora o que não falta são produções que abordam o tema.” Pedro Almodóvar, de Tudo Sobre Minha Mãe, colocou Penélope Cruz na disputa do Oscar de melhor atriz este ano por Mães Paralelas. A maternidade percorre o novo, e belíssimo, filme de Nanni Moretti, Tre Piani, em cartaz. São filmes de homens, falando sobre mulheres.

O repórter comenta o Nanni, que Dainara ainda não havia visto. Entre as muitas personagens femininas está a de Alba Rohrwacher.

A grávida da primeira cena convive mal com a maternidade. Sofre de depressão pós-parto. “Em geral os filmes realizados por homens encaram a situação por meio de patologias. A inadequação das mulheres, a tristeza que pode se seguir ao parto, comprometendo o vínculo com o bebê. Vivemos numa sociedade em que a expectativa pela maternidade é imensa. Desde pequenas, construímos nossa identidade para, um dia, sermos mães. Hoje existem mulheres que não querem o papel. E quando o vestem sofrem as consequências. Você não imagina o porcentual de mulheres que perdem o emprego ou comprometem sua vida profissional após a licença maternidade.”

Reflexão

Como homem, o repórter observa que o filme de Dainara tem um lado que parece tese. Tudo tem de dar errado para a personagem de Monica Iozzi. São muitas desgraças compondo o plot.

O pai da criança, o ótimo Rafael Losso, as mutações físicas que se operam na protagonista, as noites em claro, a difícil volta ao emprego. “O filme tinha muito mais plot. Na montagem, Willem Dias e eu fomos eliminando para nos concentrarmos no essencial.”

Ela completa: “Não tem tese nenhuma, não sou da Academia, sou uma diretora. Quando tive filho, dei-me conta de que sabia pouco da maternidade. Era uma coisa nova para mim e comecei a refletir sobre o assunto. Nas redes sociais, existem muitos grupos de mães trocando experiências, querendo se informar. Na nossa cultura, a responsabilidade de criar os filhos é da mulher. Você disse que é pai, sabe disso. A licença paternidade é de menos de uma semana. É uma coisa que pode ser cruel com muitos homens, mas é muito mais cruel com as mulheres.”

E vem delas a resposta mais imediata ao filme. “Vocês (homens) demoram mais, mas tenho tido respostas muito interessantes. Não apenas de amigos. Muitos espectadores masculinos me dizem que não sabiam como essas coisas funcionam.”

No fundo, no centro de Mar de Dentro está um desejo de expor o mundo privado e empoderar as mulheres. Na hora de encontrar sua protagonista, Dainara não vacilou. “Havia visto a Mônica numa comédia, Mulheres Alteradas, num papel completamente diferente. Monica não acrescentou apenas à personagem, acrescentou ao filme Apesar do papel pequeno, Gilda (Nomacce) soma, Magali (Biff) idem. E a equipe é predominantemente feminina. Não quis excluir os homens da história nem da produção, mas o ponto de vista feminino predomina no filme”, finaliza. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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