O Festival Tanabata de Ribeirão Preto, que desde 1993 vem construindo uma cronologia partilhada com diferentes gerações de moradores da cidade, celebra, em sua 24ª edição, os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, com a chegada do navio Kasato Maru ao país, em 18 de junho de 1908. No próximo final de semana, entre sexta-feira (6) e domingo, 8 de julho, a “Festa das Estrelas” vai ocupar o Morro do São Bento, no Jardim Mosteiro.
Os organizadores esperam por mais de 70 mil pessoas em três dias de evento, que traz para Ribeirão Preto um pouco da cultura japonesa – mesmo público do ano passado. Suas tradições despertam a curiosidade e o encanto de milhares de ribeirão -pretanos, além das pessoas que moram na região. A montagem da estrutura já começou.
O festival, que em 2016 não foi realizado porque o governo Dárcy Vera alegou falta de verba, é inspirado numa antiga lenda da mitologia japonesa e realizado com dedicação pela comunidade nikkei (japoneses radicados e descendentes). A abertura oficial acontece às 19 horas de sexta-feira, 6 de julho, com a tradicional cerimônia xintoísta. Em 2017 participaram o presidente da Igreja Terinkyo, Oscar Hara, e o presidente da Comissão Organizadora do Tanabata, Teruo Abe, além do prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) e da secretária municipal da Cultura, Isabella Pessotti.
O Festival Tanabata terá mais de 100 atrações da cultura japonesa, que irão acontecer nos palcos tradicional e “seinenkai” (público jovem), com músicas, artes marciais, grupos de taiko e 65 expositores, segundo a prefeitura de Ribeirão Preto. Também terão diversas oficinas para quem quiser aprender a fazer origami, pipa-modelismo, mangá e a culinária japonesa.
Sucesso das últimas edições do Tanabata, o palco “seinenkai “traz diversas atrações para os jovens amantes da cultura japonesa. Criado em 2012 para promover a fusão entre a tradicional e a pop japonesa no festival, terá uma programação variada e promove o tradicional concurso de cosplay, apresentações musicais, workshop e diversas atividades.
O Tanabata leva muitas pessoas ao Morro do São Bento interessadas em saborear a culinária típica japonesa na praça de alimentação. Por isso, o festival tem um cuidado especial com o conforto do público. Em 2017, fechou uma parceria com a ONG Resolvi Mudar. As equipes recolheram todo o material descartado nas lixeiras e nas mesas, como latas, copos e pratos.
O festival se tornou patrimônio cultural imaterial de Ribeirão Preto. Uma consideração do município em relação à divulgação da cultura japonesa que deixou a colônia muito contente com o reconhecimento. Para a secretária da Cultura, Isabella Pessotti, o evento traz para Ribeirão Preto a essência da cultura japonesa. “Temos uma cultura milenar que precisa ser preservada. O Tanabata é um festival que, durante três dias, faz os ribeirão-pretanos vivenciarem a cultura japonesa e a ver como ela é rica em detalhes”, ressalta a secretária.
“O Tanabata é importante para cidade. Uma tradição que não pode ser esquecida, pois todas as manifestações culturais devem ser incentivadas”, afirma o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB). A realização é da Associação Nipo Brasileira de Ribeirão Preto (presidida por Hazime Nakamura) e Associação Cultural Japonesa de Ribeirão Preto (de Sadao Sakai), com apoio da prefeitura – por intermédio da Secretaria Municipal da Cultura. Em 2017 a “Festa das Estrelas” atraiu 70 mil visitantes.
No ano passado, as visitas ao Morro do São Bento foram suspensas por decisão da juíza Roberta Steindorff Malheiros Melluso, da 1ª Vara da Fazenda Pública, que concedeu liminar ao Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) e à Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo e barrou a visitação pública a vários locais do parque. A prefeitura obteve o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e passou a elaborar um plano para evitar incêndios no local. No entanto, o Ministério Público Estadual (MPE) ainda cobra providências.
Manifestação cultural
Por meio das suas várias manifestações artísticas, como danças folclóricas, música e seus delicados instrumentos (shamizen, shakura, artes marciais, tambores japoneses (taikô), canto (karaokê), artes plásticas (pintura, origami, kirigami, etc), arranjos florais (Ikebana), cultivo de árvores em miniaturas (bonsai) há o fortalecimento da cultura de um povo aos seus descendentes estimulando a formação de uma sociedade nipo-brasileira fortemente alicerçada na educação e na cultura.
O Festival Tanabata é uma das mais belas manifestações do folclore japonês. Sua origem data de 1.300 anos e baseia-se numa lenda chinesa nascida há mais de quatro mil anos. Conhecida como a maior festa tradicional do Japão no Brasil, é baseado em uma lenda milenar japonesa, que relata a história da princesa “Orihime” e seu amado “Kengyu”. Conta a lenda que o encontro do casal ocorre apenas uma vez por ano, no mês de julho, quando é realizado o evento.
Na mitologia japonesa, este casal é representado por estrelas situadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano: Vega (Orihime) e Altair (Kengyu). A história de amor entre princesa “Orihime” e seu amado “Kengyu” teve início na Corte Imperial do Japão há cerca de 1.150 anos, e lá tornou-se feriado nacional em 1.603. Atualmente o Tanabata é uma das maiores festas populares do Japão. É realizado em diversas cidades, o mais tradicional é o de Miyagui, que se realiza em agosto, aproveitando as férias de verão das escolas japonesas.
Devido à grande concentração de imigrantes japoneses e descendentes em Ribeirão Preto e região, a festa foi introduzida no calendário oficial de eventos da cidade em 1994. Tem como objetivo estreitar as relações entre a colônia japonesa e a comunidade em geral, ao mesmo tempo em que desperta e reforça o interesse da sociedade na formação e transferência do conhecimento desta cultura milenar.
A lenda do Tanabata, a ‘Festa das Estrelas’
A lenda do Tanabata diz: “Era uma vez, uma única vez na história, no tempo da formação do Universo”. O Soberano Celestial (“Ten no Ô”) ainda estava atarefado em confeccionar estrelas e dependurá-las no firmamento, para brilhar durante a noite. Também as nuvens ainda estavam sendo tecidas e esta tarefa cabia a bela filha do Soberano Celestial, a princesa Tanabata Tsume. Ela sabia como ninguém fazer as mais tênues tramas de tecido e, justamente por isso, era conhecida como “Orihime”, a Princesa Tecelã, conhecida no Hemisfério Sul da Via Láctea com o nome de estrela “Vega”.
Dia após dia, ela trabalhava sem parar em seu tear. Dele saíam tecidos tão leves e diáfanos, tão finos, macios e maleáveis que seu pai os pendurava no céu entre as estrelas, por vezes deixando-os cair em pregas até quase tocarem a Terra. Hoje damos a estes tecidos o nome de nuvem, névoa e cortina de nevoeiro, conforme a densidade. Inteiramente absorvido pela tarefa de formar o céu, o Soberano Celestial orgulhava-se muito da habilidade da filha e a ajuda de “Orihime” era muito valiosa.
Porém, um dia, ele percebeu que a Princesa Tecelã estava pálida e a liberou para um passeio no “Amanogawa” – o Rio Celeste, conhecido como Via Láctea, onde ela conheceu Altair, o vaqueiro, chamado “Kengyu no Hikoboshi”, pastor de gado. Daquele encontro casual começou a brotar um sentimento de felicidade, nunca antes sentido por “Orihime”, e eles se apaixonaram. A partir de então, a vida de ambos girava apenas em torno do belo romance, deixando de lado suas tarefas e obrigações diárias.
Indignado com a falta de responsabilidade do jovem casal, o pai de “Orihime” decidiu separar os dois, obrigando-os a morar em lados opostos da Via Láctea. A separação trouxe muito sofrimento e tristeza para “Orihime”. Sentindo o pesar de sua filha, seu pai resolveu permitir que o jovem casal se encontrasse, porém somente uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar, desde que cumprissem sua ordem de atender todos os pedidos vindos da Terra nesta data. Na mitologia japonesa, este casal é representado por estrelas situadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano: “Vega (Orihime)” e “Altair (Kengyu)”.
A chegada do Kasato Maru
O Kasato Maru, originalmente um navio russo chamado Kazan que foi utilizado como navio-hospital durante a Guerra Russo-Japonesa, foi adaptado para transportar passageiros e levou os soldados que tinham combatido na Manchúria de volta para o Japão. Em seguida, passou a ser utilizado para transporte de imigrantes japoneses para o Havaí, em 1906, e para o Peru e o México, em 1907.
Em 1908, trouxe o primeiro grupo oficial de imigrantes japoneses para o Brasil. A viagem começou no porto de Kobe e terminou 52 dias depois, no Porto de Santos, em 18 de Junho de 1908. Vieram 165 famílias (781 pessoas) que foram trabalhar nos cafezais do oeste paulista. Depois de algum tempo, Kasato Maru foi transformado em navio cargueiro e ainda voltou ao Brasil uma segunda e última vez, em 1917, transportando cargas.
Em 1942, foi requisitado pela Marinha Imperial do Japão e passou a fazer parte da esquadra japonesa na Segunda Guerra Mundial como navio cargueiro. No dia 9 de agosto de 1945, foi bombardeado por três aviões russos das 11h15 às 14h30. Afundou a seguir no mar de Bering nas águas russas próximas da Península de Kamchatka. Está atualmente submerso a uma profundidade de 18 metros e em bom estado de conservação.