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Cultura

Festival de Cinema de Toronto começa em formato híbrido em ano de incertezas

Por Mariane Morisawa

Em março, como todos os outros eventos do tipo, o Festival de Cinema de Toronto deparou com a dúvida se deveria ou não cancelar a edição deste ano, como acabaram fazendo Cannes e Telluride, entre outros. Ao decidir ir adiante, em que formato? Virtual? Híbrido (digital com algumas sessões ao vivo)? Ou presencial, como o 77º Festival de Veneza, que terminou sábado, 12?

Toronto decidiu pela alternativa do meio: algumas exibições em cinemas, outras ao ar livre, somente para moradores do Canadá, que também podem ver filmes no streaming pela primeira vez. Visitantes estrangeiros foram proibidos de ir ao festival – educadamente, lógico, em se tratando de um evento canadense.

A imprensa, incluindo a local, foi convidada a assistir tudo pelo computador. Por questões de segurança, houve uma redução no número de credenciados, o que gerou protestos.

A experiência de cobrir um festival de cinema de casa não é a mesma de acompanhar in loco, obviamente. Um festival de cinema do tamanho de Toronto, com muitas estreias mundiais de filmes e burburinho para o Oscar, tem uma vibração própria. Não é possível esquecer o frenesi causado por Moonlight: Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins, que lotou a exibição para jornalistas, teve várias sessões extras e saiu dali para ganhar o Oscar. Ou das filas dando volta no quarteirão para os longas da Midnight Madness, acompanhados de gritos e muita animação.

Fora isso, por questão de direitos e segurança, alguns dos cerca de 60 filmes – uma redução de mais de 70% no número de títulos – não vão ser exibidos para a imprensa, como Ammonite, com Kate Winslet e Saoirse Ronan, Bruised, estreia na direção da atriz Halle Berry.

O longa de abertura, American Utopia, um registro de uma residência de David Byrne na Broadway, dirigido por Spike Lee, só estava disponível para baseados no Canadá. O filme, que estreia na HBO americana em outubro, teve boa recepção da crítica, com muitos dizendo que é tão bom ou melhor que Stop Making Sense, sobre uma performance da banda de Byrne, Talking Heads, dirigido por Jonathan Demme e considerado um marco nesse tipo de filme. “O sutil formato da narrativa, que mistura meditações filosóficas intermitentes e uma mensagem motivacional, oferece uma prova dos valores de sinceridade, otimismo e fé no nosso semelhante, mesmo num tempo de inescapável ansiedade. Byrne empresta a definição de James Baldwin de nós como uma obra em construção, defendendo a crença de que ainda somos capazes de mudança”, publicou o The Hollywood Reporter.

Quando Byrne e banda tocam e cantam cover de Hell You Talmbout, de Janelle Monáe, Spike Lee faz uma série de tomadas em direção a fotos gigantes de Eric Garner, Emmett Till, George Floyd e Breonna Taylor, todos vítimas de brutalidade policial ou racismo.

A ausência do burburinho do festival também afeta uma parte importante de Toronto: o mercado. A ICM, por exemplo, não esperou os festivais para promover One Night in Miami…, estreia na direção de Regina King, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante ano passado por Se a Rua Beale Falasse, de Barry Jenkins. Vendeu para a Amazon depois de mandar uma parte do filme para potenciais compradores com um prazo apertado – uma espécie de simulação do ambiente de um festival.

A falta de definição em relação à reabertura das salas de cinema faz com que qualquer investimento seja arriscado para os distribuidores que dependem desse tipo de exibição. Em teoria, isso beneficiaria os serviços de streaming, como Netflix, Amazon, Apple e os novos HBO Max e Peacock. Até porque a paralisação da produção periga resultar num deserto de filmes em alguns meses. Se eles vão se interessar por uma maioria de produções sem grandes nomes no elenco, como é o caso da seleção em Toronto e em outros festivais do outono no hemisfério norte, é outra indefinição de um ano cheio delas.

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