A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da USP Ribeirão passa por um processo de eleições nesta quinta-feira (9). Por se tratar de uma das principais da USP local e uma das mais conceituadas do Brasil, o jornal Tribuna Ribeirão elaborou algumas questões para os dois candidatos a Diretor, os doutores André Lucirton Costa (que tem como candidato a vice o professor Fábio Augusto Reis Gomes) e Márcio Mattos Borges de Oliveira (que tem como candidata a vice a professora Adriana Maria Procópio de Araújo).
As perguntas foram as mesmas para ambos os candidatos:
Dr. André Lucirton Costa
Professor e Pesquisador FEARP – USP
Coordenador do Grupo de Pesquisa em Administração e Economia em Saúde (GPAES)
Logística do Setor de Saúde e Operações em Organizações Estatais
Tribuna Ribeirão – Quais são os cursos e as principais linhas de pesquisa da FEA/RP?
Dr. André –A FEA-RP oferece hoje quatro cursos de graduação: Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas e Economia Empresarial e Controladoria (ECEC). Oferecemos também três programas de pós-graduação, com nível de mestrado e doutorado: Administração de Organizações, Controladoria e Contabilidade e Economia Aplicada. Ainda na pós-graduação contribuímos com outros programas, como o Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina (PROLAM) e o Mestrado Profissional em Gestão de Organizações de Saúde.A unidade também oferece mais de uma dezena de cursos de especialização (MBA’s), nas modalidades presencial e EAD. São cursos de formação de executivos oferecidos por meio de convênios com a Fundace.As linhas de pesquisa dentro de Administração, Economia e Contabilidade são diversas incluindo mais de 20 grupos de pesquisa estabelecidos e programas que vão deste a iniciação científica até o pós-doutorado. Para citar algumas destas linhas destacamos: economia social; inovação, tecnologia e competitividade; inovação e internacionalização de empresas; gestão e políticas públicas; transparência e governança no setor público; neuromarketing; eficiência; finanças aplicadas; administração e economia da saúde; franchising; sustentabilidade; sustentabilidade corporativa; ciência da decisão; transparência contábil, contabilidade internacional, contabilidade socioambiental e contabilidade tributária.
Tribuna Ribeirão – Como a universidade pode interagir com a sociedade e alterar o ambiente em que está inserida?
Dr. André –Cada parte do tripé que sustenta a universidade (ensino, pesquisa e extensão) tem capacidade de mudar a sociedade. A FEARP tem a missão de formar profissionais de excelência seja para o mercado de trabalho seja para o próprio meio acadêmico e esses profissionais impactam a sociedade. Temos esta mesma visão com relação à pesquisa e em especial à participação dos pesquisadores nos debates públicos, contribuindo com conhecimento técnico e pesquisa científica.A chamada extensão, que é o envolvimento direto com a sociedade, é a forma mais clara desta influência da universidade. Neste sentido existem projetos vitoriosos que têm envolvimento direto dos alunos como o Pé de Meia, Finanças em Dia, Núcleo de Empreendedorismo, Junior FEARP, Clube de Mercado Financeiro, além da participação no Projeto Rondon e muitos outros.
Tribuna Ribeirão – Recentemente, a USP adotou a política de cotas para população de baixa renda, qual a sua opinião sobre o tema? O perfil dos alunos já se alterou, quais foram as consequências?
Dr. André –Somos a favor das políticas de inclusão na universidade como uma forma de democratizar o acesso ao ensino para todas as camadas da população. Percebemos que o perfil dos alunos tem mudado, trazendo mais diversidade para a universidade, o que é benéfico. Por vezes, surgem questionamentos quanto ao aprendizado dos alunos. Na nossa unidade não identificamos mudanças sistemáticas no que diz respeito a isto.Finalmente, uma preocupação que sempre norteia nossas ações é o aprimoramento dos mecanismos de seleção.
Tribuna Ribeirão – No próximo dia 09 ocorrerá a eleição para o maior cargo dentro da faculdade, qual é o papel que o diretor desempenha e qual a sua importância na sua opinião?
Dr. André –O diretor tem um papel de gestão na unidade o que inclui desde a gestão de pessoal e de infraestrutura até o relacionamento institucional dentro do campus e com a reitoria. O papel mais importante, porém, é ser capaz de harmonizar as diversas necessidades de alunos, servidores técnicos e docentes, coordenando esforços e dialogando de forma a atingir um objetivo comum.
Tribuna Ribeirão – O que o senhor espera e fará, caso eleito, nos próximos 4 anos, em especial, na relação com a sociedade de Ribeirão Preto e região?
Dr. André –A USP é financiada pela sociedade pois recebemos um percentual do ICMS paulista e mais repasses de instituições de fomento. Por isso, além de formar profissionais de excelência e desenvolver pesquisas de alto impacto, temos a obrigação de participar ativamente dos debates de interesse da sociedade. A FEARP possui grupos de pesquisa que já fazem essa ponte com a sociedade e podemos estimular isso. Há outros canais, como nosso envolvimento com ações de transparência da Câmara Municipal. Um ótimo instrumento para ampliarmos estas parcerias com a cidade é a Fundace. Por meio dela é possível elaborar estudos que possam embasar decisões dos gestores públicos e privados, por exemplo.
Tribuna Ribeirão – As ideologias políticas debatidas em nível nacional interferem no debate interno, como o senhor vê o cenário político nacional?
Dr. André –Um dos motivos de nossa candidatura foi justamente a promoção do debate de ideias dentro da FEARP. Nos cremos que nesse momento de polarização da sociedade devemos ser exemplos, sendo capazes de promover o diálogo, a tolerância e o respeito aos diversos posicionamentos. Nós acreditamos em diversidade sem divisão.Como eleitores todos sofremos quando não encontramos lideranças que nos representem e que possam nos inspirar. Por isso, ao concebermos a candidatura da chapa desenvolvemos uma Plano de Gestão por meio do diálogo com professores, servidores e alunos. Mais, ao longo de toda campanha incentivamos todos a lerem as propostas de cada chapa (www.andreefabio.fearp.usp.br). Queremos que o eleitor conheça as ideias em debate e vote naquela chapa com a qual se identifica.
Tribuna Ribeirão – Qual o reflexo, na sua opinião, do congelamento por 20 anos dos investimentos em educação (PEC do Teto dos Gastos Públicos), que já levou, inclusive, as agências de fomento da cortarem bolsas e outros investimentos?
Dr. André –O Brasil tem passado por uma crise fiscal séria. A expectativa de retomada do crescimento não se confirmou, pelo menos não na velocidade esperada. Isso tem limitado o crescimento da arrecadação e, portanto, tem impactos nos gastos públicos. Em particular, a receita da USP, que depende do ICMS, sofre com a ausência de crescimento econômico.
Somos favoráveis a uma gestão séria da parte fiscal da economia. Precisamos pensar na geração atual e, também, nas gerações futuras. Havendo uma conscientização que há um limite para os gastos, a sociedade precisa deixar ainda mais claro para aqueles que alocam o orçamento público – os políticos –, quais são suas prioridades. Em breve teremos a oportunidade de nos manifestarmos quanto a isso, indo até as urnas escolher inclusive nosso próximo presidente.
Márcio Mattos Borges de Oliveira
Ph.D. – Prof. Titular – Full Professor – ADM – FEARP-USP
Tribuna Ribeirão – Quais são os cursos e as principais linha de pesquisa da FEA/RP?
Dr. Márcio –A FEARP está em Ribeirão Preto desde 1992 e os cursos pioneiros de graduação foram: Administração, Contabilidade e Economia todos no período noturno. Após 15 anos, sentimos a necessidade de oferecer o curso de Administração em período diurno e um novo curso unindo duas áreas: Contabilidade e Economia, com o curso Economia Empresarial e Controladoria (ECEC). Temos várias linhas de pesquisas: Administração de Produção, Recursos Humanos, Sustentabilidade, Marketing, Agronegócios, Finanças, Contabilidade Financeira, Tributária, Contas Públicas, Metodologia de Ensino e Formação Docente, Economia de empresas, Economia Pública, Inovação, entre outras. Estamos juntos desde então, sendo que eu ingressei em 1993 e a Profa. Adriana, minha vice, desde 1994. Ajudamos a construir tudo isso.
Tribuna Ribeirão – Como a universidade pode interagir com a sociedade e alterar o ambiente em que está inserida?
Dr. Márcio –Buscando por soluções de problemas reais. O nosso objetivo é construir o aprendizado do nosso aluno sob a perspectiva teórica para que na prática ele possa solucionar problemas e buscar as melhores alternativas para que a sociedade seja beneficiada. Esse é o objetivo maior do nosso trabalho. A teoria nos dá a visão dos conceitos e permite uma reflexão sobre a leitura do ambiente de forma crítica. Desta forma, a Universidade dá o conhecimento para o egresso se adaptar a um mundo em constante mudança. E a prática levará ao exercício deste conhecimento, com responsabilidade e competência.
Tribuna Ribeirão – Recentemente, a USP adotou a política de cotas para população de baixa renda, qual a sua opinião sobre o tema?
Dr. Márcio –O perfil dos alunos já se alterou, quais foram as consequências? Temos que dar oportunidades para todos. O processo de inserção é necessário e dentro da Universidade esse assunto foi muito debatido e está sendo consolidado. A nossa proposta é para que o bom aluno venha e isso tem sido uma constante. Não foram observadas diferenças de rendimentos do aluno que ingressa por ampla concorrência – vestibular ou do aluno que preenche a vaga pelo sistema de cotas. Todos estão no mesmo nível.
Tribuna Ribeirão – No próximo dia 09 ocorrerá a eleição para o maior cargo dentro da Faculdade, qual é o papel que o diretor desempenha e qual a sua importância na sua opinião?
Dr. Márcio –Acho que temos que completar sua pergunta. O diretor e o vice-diretor comporão a gestão da Escola. No meu caso, a Profa. Adriana estará comigo. Ela também conhece a FEARP, tanto quanto eu, e tem todos os atributos para gerenciar a Escola junto comigo. Além disso, representa a força feminina no processo em que tanto se discute o direito de igualdade de gêneros. Nossa missão é trabalharmos como facilitadores do processo e buscarmos soluções para problemas, em um momento de recursos escassos e cenários pessimistas para os próximos anos. Quando o orçamento está restrito, surge a necessidade ainda maior de usarmos nossa criatividade e a participação de todos. Neste sentido, a USP e a FEARP continuarão a dar mostras de sua capacidade reconhecida por todos. Assim, nossa proposta é contribuir para que a FEARP seja uma unidade da USP em que as pessoas sintam vontade de trabalhar, estudar e visitar.
Tribuna Ribeirão – O que o senhor espera e fará, caso eleito, nos próximos 4 anos, em especial, na relação com a sociedade de Ribeirão Preto e região?
Dr. Márcio –Nossa Faculdade tem uma atuação direta na Sociedade Ribeiropretana. Temos frentes atuantes em empresas da cidade e região por meio de projetos da FUNDACE (fundação de apoio à FEARP) e também por iniciativas individuais dos docentes, através de seus grupos de pesquisas. Prestamos serviços voluntários em várias instituições. Buscamos pela excelência de ensino e pesquisa nas áreas de negócios, entre eles: Agronegócio, Prestação de Serviços Públicos e Gerenciais.
Tribuna Ribeirão – As ideologias políticas debatidas em nível nacional interferem no debate interno, como o senhor vê o cenário político nacional?
Dr. Márcio –As escolhas políticas e ideológicas são individuais. A Universidade, como o próprio nome diz, deve sim estar aberta ao debate e às opiniões universais. Não é nosso papel definir qual ideologia é a melhor, mas sim, debater todas. Nossa chapa não entrou nesta questão ideológica por entender que cada um tem a liberdade de escolha da que melhor lhe represente. Assim, tanto a Profa. Adriana quanto eu, respeitamos todas as correntes ideológicas e não entraremos no mérito de qual é a melhor. Para a nossa gestão, acreditamos que este fator não interfere no trabalho a ser realizado no dia-a-dia. O importante é que cada um, docentes, discentes e colaboradores, façam o melhor para uma FEARP mais forte em pesquisa, ensino e extensão.
Tribuna Ribeirão – Qual o reflexo, na sua opinião, do congelamento por 20 anos dos investimentos em educação (PEC do Teto dos Gastos Públicos), que já levou, inclusive, as agências de fomento a cortarem bolsas e outros investimentos?
Dr. Márcio –Embora seja difícil, sabemos que temos que ajustar nossas contas. A USP passa por um momento delicado. Temos sérias restrições orçamentárias e por ser uma realidade, temos que nos ajustar. Se temos restrições orçamentárias, precisamos gastar melhor e é esse o nosso desafio. Utilizar bem os recursos que temos e da melhor maneira possível. Temos que gastar bem. Mais uma vez menciono a participação da Profa. Adriana, que é administradora e contadora e tem sólidos conhecimentos para auxiliar nesta tarefa. Eu, como engenheiro de formação, sou muito prático e objetivo. Não tem milagre para isso, temos que ajustar o nosso orçamento para a realidade e por mais que tenhamos nossas convicções, o que pesa é o que de fato temos. Assim, entendemos que o esforço para o equilíbrio das contas públicas é uma tarefa de todos nós, em conjunto e que precisamos resgatar o equilíbrio financeiro das instituições públicas. Estamos cientes e acreditamos que este seja o caminho a seguir. Acreditamos firmemente na capacidade de superação. Uma crise não pode ser encarada apenas como um problema, ela oferece um universo de possibilidades.