Participei, recentemente, na Alemanha, de reuniões sobre o futuro do automóvel e da distribuição de veículos. Foram contatos com presidentes de associações nacionais de distribuidores, concessionários e experts no assunto. Uma visão geral das grandes mudanças que virão em breve, embora ainda não haja consenso sobre como estas se materializarão.
O tema de combustíveis alternativos esteve presente na totalidade dos encontros. Existem hoje no mundo cerca de 6 bilhões de automóveis rodando e emitindo vasta quantidade de gás carbônico, altamente poluidor. No Brasil, são 80 milhões de veículos em nossas ruas e estradas.
Graças à solução do etanol, nossa taxa de poluição é menor. Os governos europeus e asiáticos abraçaram a causa ambiental e prepararam legislações que banirão o fabrico de motores a combustão até o final da década de 2020, no mais tardar em meados da década de 2030. Isto forçou as montadoras a realizarem grandes pesquisas, que apontaram o carro elétrico como solução para esta demanda.
Existem hoje dois modelos de veículos movidos a eletricidade: os elétricos puros, com baterias que estocam energia e que precisam de serem plugados na tomada. Têm tempo de carregamento alto e autonomia ainda pequena, em torno de 350 a 400 km. E os híbridos, que produzem a sua própria energia, sem necessidade de serem ligados na tomada, funcionando com dois motores, um a combustão, outro elétrico, que são administrado por circuitos eletrônicos que ora usam um ou outro motor, ora combinam os dois.
Estes veículos não têm problema de autonomia e podem ser imediatamente usados enquanto não há uma rede eficiente e suficientemente ampla de postos de recarga elétrica. Porém, mantém o motor a combustão, ainda poluente. A montadora Toyota desenvolveu para o Brasil o primeiro Corolla híbrido que funciona com motor flex, ou seja, aceita gasolina ou etanol, ou ambos em mistura a ser feita pelo usuário. É um veículo que, quando usa o etanol, polui pouquíssimo (a taxa de poluição do etanol representa 11% da produzida pela gasolina) e é o mais conveniente para nosso país. Porém, a solução etanol é doméstica, em larga escala só existe no Brasil.
É verdade que, na Europa e na Ásia produzir a energia elétrica pode ser poluente. Muitos países, como a China, por exemplo, tem várias usinas de carvão para produção de eletricidade. A solução final talvez esteja nos veículos movidos a hidrogênio, combustível abundante na atmosfera e que produz vapor de água como efluente. Já existem, mas são ainda muito caros.
A discussão vai longe. Mas, o que me marcou muito foi a constatação de que todas estas mudanças são decorrência da vontade da população europeia e asiática, que, consciente das necessidades ambientais do planeta, passou a exigi-las de seus governos. Demonstram assim uma responsabilidade social e ecológica, muito pouco encontrada entre nós. Pergunte a um motorista brasileiro que está enchendo o tanque de seu veículo por que está usando etanol e a resposta na grande maioria – ou talvez unânime – é a de que este combustível é mais barato.
Ninguém responde que está usando o álcool porque polui menos. Neste momento que o Brasil vive, objeto de repulsa pela comunidade internacional, ninguém enfatizou o uso do etanol como forma bem sucedida de reduzir a poluição.Não temos consciência de que podemos sim, com nossos gestos, fazer a nossa parte para salvar o planeta onde moramos . Aliás, a indústria automotiva brasileira há muito tempo, com seus carros movidos a etanol e motores flex tem feito a sua parte.
Esta consciência ambiental só se constrói com o tempo e com o amadurecimento e cultura da população. Por que não fazermos uma campanha para que os motoristas de nossa região só usem etanol em seus tanques, iniciando assim pioneira postura em defesa do meio ambiente?