Nem na hora da morte, um dos momentos mais delicados para uma família, há opções em Ribeirão Preto. Se a família não tem jazigo adquirido em um dos cemitérios públicos da cidade, não terá escolha: a saída será pagar bem mais caro, algo em torno de R$ 8,6 mil, no também único cemitério particular da cidade. Uma licitação na Prefeitura para comercialização de novos jazigos está suspensa.
O Tribuna apurou que no cemitério particular Memorial Parque dos Girassóis, o jazigo mais barato, com três gavetas, custa hoje R$ 8.318,84 à vista ou a prazo pode chegar ao valor de R$ 8.640,00, o que corresponde a R$ 2.880,00 por gaveta e o mais caro pode custar mais de R$ 20 mil, com nove gavetas. Já no Cemitério Público Bom Pastor quatro gavetas custava R$ 5.947,66, equivalente a R$ 1.486,91 por gaveta. No cemitério Bom Pastor o jazigo era parcelado em até doze prestações de R$ 550,00.
Os números mostram que enterrar no cemitério particular Memorial Parque dos Girassóis é muito mais caro. A diferença é 75% maior que no cemitério público municipal do Bom Pastor. Não bastasse isso, as taxas de sepultamento, exumação e manutenção no cemitério particular Memorial Parque dos Girassóis também são mais caras em relação ao Cemitério Bom Pastor. No cemitério particular a taxa de manutenção semestral custa R$ 721,37, enquanto no municipal a anual é de R$ 99,81, uma diferença de R$ 621,56, sem contar que uma é anual e outra semestral.
“Realmente as empresas recebem muitas reclamações de pessoas questionando valores e a falta de comercialização de jazigos no Bom Pastor. Infelizmente essas famílias não têm o que fazer e nem nós. É um problema do Poder Público, relata Francisco Rosa, presidente da Associação das Empresas de Luto da Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
Prefeitura garante sequência na licitação
A reportagem do Tribuna procurou a Prefeitura Municipal para saber a razão da falta de comercialização de jazigos no Cemitério Bom Pastor. Em nota, a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) informou que “a venda de jazigos está temporariamente suspensa, enquanto a Prefeitura providencia nova licitação para a construção de mais jazigos”.
A reportagem fez novo questionamento, uma vez que uma licitação já havia sido aberta e em curso, com uma empresa vencedora. “A licitação está em fase de recurso, sendo que na próxima semana já terá andamento obedecendo os trâmites legais”, informou a CCS em nova nota.
Questionada sobre a falta de comercialização de novos jazigos, a Prefeitura informou que, desde março, “(a comercialização) está suspensa, pois os jazigos estão sendo usados para covas sociais”.
O Tribuna apurou que a licitação prevê a construção de novos 500 jazigos e o Bom Pastor tem capacidade para mais 3 mil.
Licitação do Bom Pastor foi questionada pelo cemitério particular
Maurício Ferreira Mendonça, proprietário e gestor do Memorial Parque dos Girassóis, reconheceu que foi a sua empresa que questionou a licitação em vigor no Cemitério Bom Pastor. Segundo ele, “por não respeitar questões ambientais”. Ele, inclusive, defende o fechamento do Bom Pastor.
Para Memorial valores estão previstos em edital
Questionado pelo Tribuna, o proprietário e gestor do Memorial Parque dos Girassóis, Maurício Ferreira Mendonça, afirmou que os valores praticados no cemitério estão dentro do previsto em edital. “Foram valores sugeridos em licitações. Nós fazemos as correções anuais pelo IGP-M”, explica.
Perguntado sobre a razão das diferenças de preços com o Bom Pastor, Mendonça alega que o Parque dos Girassóis “oferece maior qualidade no serviço”. Quanto aos jazigos que ultrapassam R$ 20 mil, ele diz que há descontos e prazos maiores. “Esse plano equivale a três jazigos e nove gavetas. Mas todos os jazigos têm o mesmo padrão, a diferença é o número de gavetas”.
Mendonça, claro, é contrário a novos jazigos no Bom Pastor. “A Prefeitura nos vê como concorrentes. Se abrir novos jazigos, o Poder Público vai gastar mais e quem paga somos nós contribuintes. Outro problema é o ambiental, que não é respeitado no Bom Pastor”, finalizou.
Pobre é enterrado como indigente
Se uma família não tem condições financeiras e comprovar receber até dois salários mínimos, a única opção será enterrar o ente querido nos chamados sepultamentos assistenciais (indigentes). Esse serviço é disponibilizado no Cemitério Bom Pastor, porém, é necessário, acompanhamento de técnicos da Secretaria de Assistência Social. Comprovada a falta de renda, a Prefeitura arca com sepultamento e as despesas de funerária.
O detalhe é que os jazigos sociais, determinados para indigentes, são emprestados para família por um prazo de três anos. Depois as ossadas são retiradas e colocadas nos muros do Bom do Pastor.
Cidades optam por soluções modernas
Considerado como uma solução viável para as novas construções de cemitérios no mundo, o cemitério vertical é tido como uma alternativa para cidades do porte de Ribeirão Preto e menores. Além de menor espaço, questões ambientais e financeiras são apontadas como diferenciais.
Várias empresas também estão investindo no setor, apresentando projetos inovadores que promovem tecnologias modernas. Uma delas, a Vilatec, apresenta um sistema que permite a rápida instalação de gavetas e ossuários que garantem segurança e respeito. Por se tratar de um sistema de vanguarda, os equipamentos levam em consideração a utilização de sistemas que respeitam o meio ambiente, tanto na fase construtiva quanto nos sistemas escolhidos para execução dos serviços de sepultamento e exumações.
A cidade de Santa Bárbara d’Oeste é um exemplo no estado de São Paulo de quem, para resolver problemas ambientais e de falta de espaço, investiu em uma parceria público privada para a construção de um cemitério vertical.