Pe. Gilberto Kasper *
[email protected]
Conversando com inúmeras pessoas e observando o comportamento de tantas outras, percebe-se especialmente como sequela da pandemia da COVID-19, uma acentuada falta de paciência nas mais diversas circunstâncias. A começar de mim mesmo, preciso reconhecer e fazer minha confissão pública, de que não poucas vezes me falta a paciência. Chegando ao entardecer da vida e depois que se entra no “Clube das Pessoas Idosas”, mesmo não nos dando conta de que estamos envelhecendo, a não ser quando as crianças e os jovens nos chamam de “vovós”, a tendência é querer resolver a vida o mais depressa possível, recuperar tempo perdido, fazer acerto de contas, reajustar atividades, as mais inusitadas, correndo de um lado a outro, esquecendo que já não temos mais a mesma versatilidade de anos passados. E os anos passam a cada ano bem mais depressa. Tudo isso nos conduz à falta de paciência!
Sabemos que a paciência “é a qualidade de quem sabe esperar e a virtude que consiste em suportar dores, infortúnios com resignação”. Depois de confinados ou privados de encontros, confraternizações, atividades de trabalho, lazer ou de tantas outras naturezas; depois de obrigados a adiar congressos, assembleias, celebrações, como matrimônios, aniversários e viagens, submetidos a encontros somente virtuais, tem-se a impressão de que, como animalzinho saído de confinamento, corre-se para “resolver o mundo”, que por mais de dois anos quase parou. Ao invés de reconhecermos aprendizados que a pandemia nos proporcionou, ainda nos assola a falta de paciência!
Corremos atrás do tempo, como as crianças numa pelada de futebol correm atrás da bola. Só mesmo fazendo o Gol é que nos aquietamos. Ficamos frustrados quando esse não sai. É bem verdade que retomamos alguns valores importantes: valorizamos mais a vida, fizemos uma mais profunda e prolongada experiência de solidariedade, nos tornamos mais sensíveis em relação a tantas perdas: das vidas de pessoas amadas, de empregos, oportunidades de bons negócios, de estudos mais apurados, de abraços mais apertados e de encontros presenciais edificantes.
Mesmo assim constata-se a falta de paciência na convivência hodierna das pessoas, e eu me incluo nesse grupo, suplicando o perdão às pessoas com quem convivo nas Comunidades e em outras atividades que tento desenvolver e servir com a ternura de meu coração. Nem sempre sei exercer a virtude da paciência, quando as coisas não acontecem como previa ou desejava, mesmo que em benefício da promoção da dignidade do próximo!
A falta de paciência é notória nas salas de aulas. Seria compreensível se fosse nas salas de aulas dos pequeninos, mas refiro-me aos alunos de cursos superiores, nas faculdades; nas filas aguardando atendimentos médicos; nas filas dos caixas de supermercados; nas filas do transporte público, quando a UBER demora em demasia ou desiste de atender a viagem solicitada; nos desvios indicados por conta das obras da mobilidade urbana, que está deixando nossa cidade mais ágil, segura e bonita; nas expressões de opinião, como por exemplo sobre as eleições que se aproximam, e nem por último quando o sermão do padre passa dois minutinhos do tempo que pensamos ele deveria ter utilizado para pregar. Gastamos horas a fio em estádios de futebol, nos barzinhos que depois da fase aguda da pandemia sempre estão lotados, nos shows e, finalmente dialogando com o celular, ao invés de conversar mais com os familiares nos próprios lares. Desses últimos ouve-se frequentemente a mesma reclamação: nesta casa há muita falta de paciência!
Nos atendimentos espirituais, a falta de paciência, é o desabafo que geralmente tem o primeiro lugar. Precisamos encontrar meios, exercícios e atividades individuais, familiares, sociais e eclesiais para superar nossa falta de paciência e viver melhor o presente. Até porque o passado já se foi e o futuro ainda está por vir, e dependerá de cada um de nós, uma melhor qualidade de vida, parando de ter falta de paciência!
* Teólogo, reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres; pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila, presidente do Fraterno Auxílio Cristão de Ribeirão Preto e jornalista