O Facebook rejeitou a sugestão de Chris Hughes para desmembrar a empresa e “criar mais concorrência nos mercados de mídia social”. Hughes é o co-fundador da rede social e publicou nesta quinta-feira (9) um editorial no The New York Times defendendo a divisão da empresa e a intervenção de órgãos reguladores dos Estados Unidos para reverter a aquisição de WhatsApp e Instagram.
A publicação do texto mexeu com os ânimos de políticos: senadores e deputados do país agora pedem ao Departamento de Justiça que inicie uma investigação antitruste contra o Facebook.
A empresa tem estado sob escrutínio de reguladores em todo o mundo por suas práticas de compartilhamento de dados. Há algum tempo, legisladores dos Estados Unidos vem pressionando órgãos reguladores para desmembrar as grandes empresas de tecnologia, bem como pela criação de uma regulamentação federal sobre privacidade.
“Somos uma nação com a tradição de controlar os monopólios, não importa quão bem intencionados sejam os líderes dessas empresas. O poder de Mark é inédito e antiamericano”, escreveu Hughes, ex-colega de faculdade do executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg.
O Facebook tem mais de 2 bilhões de usuários em todo o mundo. A empresa também controla as plataformas WhatsApp, Messenger e Instagram, cada um usado por mais de 1 bilhão de pessoas.
Em uma rápida resposta às críticas de Hughes, o Facebook disse que não vai transformar o WhatsApp e o Instagram em empresas separadas e ressaltou que o foco deveria ser na regulação da internet. Coincidentemente nesta semana, Zuckerberg estará em Paris para discutir o tema com o presidente francês Emmanuel Macron.
“O Facebook aceita que, com o sucesso, vem a responsabilidade. Mas você não impõe a responsabilidade ao pedir o desmembramento de uma empresa americana de sucesso”, disse o porta-voz do Facebook, Nick Clegg, em um comunicado. “A responsabilidade das empresas de tecnologia só pode ser alcançada através da introdução meticulosa de novas regras para a internet. É exatamente isso que Mark Zuckerberg pediu”.
Hughes co-fundou o Facebook em 2004 em Harvard com Zuckerberg e Dustin Moskovitz. Ele deixou o Facebook em 2007 e foi trabalhar para o candidato à presidência Barack Obama, e chegou a dizer em um post no LinkedIn que fez meio bilhão de dólares por seus três anos de trabalho.
Hughes também sugeriu que Zuckerberg deve ser considerado responsável pela privacidade e por outros lapsos na empresa. “O governo deve responsabilizar Mark. Por muito tempo, os legisladores ficaram maravilhados com o crescimento explosivo do Facebook e negligenciaram sua responsabilidade de garantir que os americanos sejam protegidos e os mercados competitivos”.
Pressão aumenta
O senador democrata Richard Blumenthal disse à CNBC que o Facebook precisa ser desmembrado e que o departamento antitruste do Departamento de Justiça deve iniciar uma investigação.
Faz algum tempo que políticos tentam colocar o Facebook contra a parede. Em março, a senadora Elizabeth Warren, candidata democrata à presidência, prometeu romper o monopólio de Facebook, Amazon e Google se eleita presidente dos Estados Unidos em 2020. A ideia é aumentar a concorrência no setor de tecnologia.
Nesta quinta-feira (9), a candidata apoiou o editorial escrito por Hughes. “As grandes empresas de tecnologia […] destruíram a concorrência, usaram nossas informações privadas para lucrar, prejudicaram as pequenas empresas e sufocaram a inovação”.
Para muitos políticos, o valor de US$ 5 bilhões é uma “barganha” para uma empresa com US$ 15 bilhões em receitas trimestrais.
Depois da publicação do texto de Hughes, o deputado Ro Khanna, democrata da Califórnia, disse em um comunicado que, pensando em retrospectiva, os reguladores dos Estados Unidos “não deveriam ter aprovado a aquisição do Instagram e do WhatsApp pelo Facebook em 2012”.
Ele disse que “o caminho a seguir é investigar intensamente futuras fusões e garantir que nenhuma empresa tenha privilégios de plataformas anticompetitivas”.
Em um dos vários escândalos de segurança e privacidade que atingiram a empresa, o Facebook é acusado de compartilhar de forma inadequada informações pertencentes a 87 milhões de usuários da agora extinta consultoria britânica Cambridge Analytica.
Fonte: Reuters