Apresento dois programas musicais na Rádio Thathi FM (91.3): aos sábados das dez às onze horas, e aos domingos, das nove às onze horas. No nosso “Canta Ribeirão” de sábado procuramos dar uma mesclada de ritmos, só com artistas brasileiros, incluindo os de Ribeirão Preto. Aos domingos, a “Roda de samba” toma conta da cidade, só com sambas de qualidade, nada de pagode em que o sujeito coloca uma pá de palavras dentro de um pequeno compasso, ninguém entende nada do que se canta e não passa nenhuma mensagem.
Tocamos o samba que conta uma história, o chamado samba raiz. Os dois programas contam com a produção de Carlos Calixto, mestre em conhecimento musical. Foi meu amigo Wander Ligabó que me deu um toque sobre a música “A lista”, criação recém saída do forno do cantor e compositor Oswaldo Montenegro – começa com a frase título.
Certa noite, estávamos na cobertura do Sócrates quando Wander disse: “Buenão, ouça essa música”. E colocou pra tocar o CD. Fiquei paralisado ouvindo mais esta obra deste genial artista, a canção muito me toca, levo no peito como uma das que mais gosto. Quando cantava na noite, a repetia várias vezes durante minha apresentação, e ainda a canto até hoje como se fosse a primeira vez. Muitas vezes me emociono viajando na letra, fecho os olhos, dedilho meu violão e a melodia me conduz aos amigos queridos, muitos tiveram que partir, mas, sinto-os ao meu redor, eles sabem que os amo.
Uma noite, assistindo na TV a uma entrevista com Oswaldo Montenegro, ele disse que “A lista” nasceu durante um voo naquela famosa ponte aérea São Paulo-Rio. Voo lotado, ele olhava para o rosto das pessoas e não conhecia ninguém. Então, pensou: “Será que neste voo tem alguém que já sentou comigo? Alguém que já tomou um chope comigo? Alguém que estudou comigo?”
Instintivamente, passou a mão em um bloco de papel e caneta e a coisa fluiu como que por encanto. Quando o avião pousou no Rio de Janeiro, estavam prontas a letra e a música, e dali mesmo ele ligou para o amigo compositor e produtor carioca Roberto Menescal. Os dois marcaram um encontro, Oswaldo Montenegro cantou a música e Menescal lhe disse: “Talvez seja sua obra-prima, parceiro”.
Falando em amigos, nesta quarta feira, 23 de outubro, partiu para o andar de cima o jornalista Saulo Gomes, amigo querido. Eu apresentava o musical “Ribeirão das Serestas”, com o grupo de chorinho Sexteto Colibri, toda última sexta-feira do mês, e Saulo e a esposa eram presenças garantidas num daqueles bancos da praça Sete de Setembro, do nosso lindo coreto eu lhe prestava merecidas homenagens.
Foi Saulo Gomes que me ontou a história de como viu nascer a maravilhosa música de Dolores Duran “A noite do meu bem”. Embora fosse fã de Saulo, nunca havia conversado com ele até que, certa manhã, eu estava tomando um café na Cafeteria Única, no Centro de Ribeirão Preto, quando ele se postou do meu lado, disse ser meu leitor de toda sexta-feira no nosso jornal Tribuna e que continuasse a escrever na mesma linha, contando causos e histórias de artistas e personagens brasileiras porque o público tem sede deste conhecimento, e disse que eu tinha todo jeito de conduzir o leitor a meu lado enquanto lia o que escrevi.
Ouvir tudo isso de um dos maiores jornalistas brasileiros me deixou com enorme responsabilidade e o dever de melhorar sempre. Trocamos telefones e a vida seguiu, passava minhas crônicas para seu e-mail até sair o tal de “zap”, ele viajava muito Brasil afora, mas sempre que nos víamos trocávamos histórias. Na quarta-feira (23), nos estúdios da Rádio Thathi FM, me emocionei ao receber das mãos do jornalista, amigo-irmão e parceiro José Fernando Chiavenato o último livro de Saulo Gomes.
Saulo Gomes, querido amigo, você está na minha lista de grandes amigos.
Sexta conto mais.