Por André Cáceres
O público brasileiro, um grande consumidor de mangás, já está acostumado ao caráter aventuresco e frenético dos quadrinhos japoneses voltados ao público infanto-juvenil. No entanto, ainda há poucas referências no País de obras mais adultas nesse estilo. É essa falha que motiva a exposição Isto é Mangá: A Arte de Naoki Urasawa, que abre hoje na Japan House, apresentando a obra de um dos grandes nomes dos mangás atuais.
“Quando eu era criança, eu não gostava muito de mangá para criança… Quando me mostravam algo infantil eu pensava ‘não subestimem as crianças'”, afirma o artista em entrevista por e-mail ao jornal O Estado de S. Paulo. O gênero predominante entre os mangás mais populares no Brasil é o “shonen”, voltado a adolescentes. Já a área de atuação de Urasawa é o “seinen”, que tem um público alvo mais adulto.
“Quando eu era criança, a revista semanal de mangá se chamava Shonen Magazine, mas o conteúdo era praticamente ‘seinen’. Os alunos do movimento estudantil da década de 1960 também eram leitores fervorosos dessa revista”, lembra Urasawa.
Graças à complexidade de suas tramas e profundidade psicológica de seus personagens, Urasawa conquistou público e crítica. Suas obras não foram apenas premiadas no Japão, mas também internacionalmente: ele tem dois prêmios Eisner e três honrarias concedidas no Festival de Angoulême.
“Urasawa tem histórias que podem se passar no Japão ou em outro lugar, mas tratam de dramas universais que podem ser compreendidos por pessoas de qualquer cultura. Isso explica o sucesso internacional dele”, disse Satomi Maeda, diretora do departamento de cultura da Yomiuri Shimbun, que participou da concepção da exposição. “O traço dele se diferencia de outros mangakás pelas fisionomias mais realistas, em que você consegue perceber os sentimentos de uma pessoa de verdade.”
Já Kaitaro Kiuchi, responsável pela expografia, afirmou que a ideia é “mostrar os mangás como uma forma de arte da cultura japonesa”. Os visitantes poderão ler as páginas com as artes originais de capítulos inteiros, tanto para os leigos se familiarizarem com a linguagem do mangá (há até um diagrama explicando como funciona a ordem da leitura oriental dos painéis), quanto para os fãs do estilo entrarem em contato com obras que nunca chegaram ao Brasil, como o clássico Sawara!, dos anos 1980, sobre uma jovem judoca que tenta conciliar a exigência do esporte com a tentativa de levar uma vida normal. “O mangá é a combinação do gráfico mais a narrativa, por isso tentamos mostrar essa mescla aos visitantes. Quisemos deixar o caminho livre, sem uma ordem determinada, para que as pessoas se sentissem instigadas a ler o que as deixasse mais impactadas”, acrescenta Kiuchi.
Apenas três de seus mangás chegaram ao Brasil: Monster, sobre um neurocirurgião que salva um garoto e descobre, anos depois, que ele virou um serial killer; 20th Century Boys, sobre um grupo de crianças que brincam sobre salvar o mundo e, quando crescem, são acossados por uma seita que põe em prática planos idênticos aos que eles imaginavam na infância; e Pluto, que se passa no universo de Astro Boy, clássico de Osamu Tezuka (1928-1989), um dos pais do mangá moderno.
Paralelamente à mostra, a Japan House promove, nos dias 7, 9, 12 e 27 de novembro, um ciclo de palestras sobre o mangá no Brasil, em parceria com a editora JBC. Os debates contam com a presença de quadrinistas e profissionais da área. Já os trabalhos de Urasawa ficam expostos até 5 de janeiro de 2020.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.