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Ex-policial Guimarães volta ao Tribunal do Júri

O ex-policial civil Ricardo José Guimarães, já condenado a 244 anos de prisão, vai a júri popular pela sexta vez nesta segunda-feira (27)   

O ex-policial civil ainda pode enfrentar pelo menos mais dois julgamentos (Foto: Arquivo/Tribuna Ribeirão)

Por Adalberto Luque 

Guimarães já fugiu do presídio da Polícia Civil pela porta da frente, teria agido na fronteira do sul do Brasil e a SSP descobriu até plano para resgatá-lo (Arquivo/Tribuna Ribeirão)

Acusado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) de comandar um grupo de extermínio, o ex-policial civil Ricardo José Guimarães volta a se sentar no banco dos réus. O julgamento será realizado a partir desta segunda-feira (27), no Tribunal do Júri da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto. 

O Júri será presidido pelo juiz José Roberto Bernardi Liberal (o mesmo que julgou o caso do menino Joaquim em 2023). Sete jurados vão decidir a pena a ser aplicada a Guimarães e ao também ex-policial civil Thiago Ferreira da Silveira Moreira, pelo homicídio de Thiago Xavier de Stefani, assassinado a tiros em 13 de maio de 2003. 

Grupo de extermínio 

Guimarães, ex-investigador da Polícia Civil, é apontado pelo MP-SP como o responsável por comandar um grupo de extermínio que agia em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002. Segundo a promotoria, policiais civis e militares integravam esse grupo, que pode ter executado pelo menos 70 pessoas. 

Na ocasião, o número de homicídios cresceu exponencialmente. Para se ter um parâmetro, em 2023 o número total de homicídios registrados em Ribeirão Preto foi 32. Em 1994, quando supostamente o grupo começou a atuar, foram 94 homicídios, um número quase 200% maior que ano passado. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002). 

O ex-investigador nega ter participado de muitos crimes a ele atribuídos. Os que assume, alega ter sido por questões pessoais, com desafetos e para sua própria defesa. Durante todos esses anos, envolveu-se em diversas questões que chegaram a desafiar a Justiça. 

Em 2004, detido depois da morte de Tatiana Assuzena, fugiu pela porta da frente do presídio da Polícia Civil, em São Paulo. Durante o tempo em que esteve foragido, atuou nas fronteiras do Brasil com Uruguai e Paraguai. É acusado, inclusive, de matar dois policiais civis do Rio Grande do Sul, Ronaldo Almeida Silva e Leonel Jesus Ilha da Silva, em 2005, no Uruguai. 

Por esses crimes foi condenado pelo 5º Tribunal do Júri da Barra Funda, em São Paulo, a 48 anos de prisão, por assassinatos e ocultação de cadáveres. Ele nega ter participado dos dois crimes. 

Em cinco condenações, Guimarães foi responsabilizado por seis homicídios – somadas as sentenças desfavoráveis, acumula 244 anos de cadeia e ainda vai responder por mais cinco assassinatos. Em seu último júri, no ano de 2019, Guimarães havia sido transferido meses antes da Penitenciária de Tremembé para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona Oeste da Capital. Na ocasião, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) descobriu um suposto plano de fuga que envolveria o resgate do ex-policial civil. 

Por outro lado, o advogado de defesa do réu, Cesar Augusto Moreira, alegou que seu cliente estava sendo ameaçado por membros de uma facção criminosa em Pinheiros. Por sua história, sempre que um júri envolve Guimarães, a segurança no traslado e em volta do Fórum é reforçada. 

O caso a ser julgado 

O júri que começa a ser realizado nesta segunda-feira, no Fórum de Ribeirão Preto, aponta Guimarães e o também ex-policial civil Thiago Ferreira da Silveira Moreira, como autores do homicídio de Thiago Xavier de Stefani, morto a tiros em 13 de maio de 2003. 

O crime ocorreu no Jardim Independência. De acordo com denúncia do MP-SP, Stefani teve um relacionamento amoroso com a então namorada de Guimarães, Fernanda Pereira Vedovato. Stefani e Fernanda ficaram juntos por três anos, num relacionamento conturbado. Segundo o Ministério Público, havia agressões mútuas. 

Fernanda, que também tinha um relacionamento conturbado com Guimarães, teria dito sobre as agressões que sofria do ex-namorado. O então investigador, resolveu se vingar do rival.  

No dia 21 de abril, Stefani seguia em um Ford Escort pela Avenida Senador César Vergueiro, Jardim São Luiz, zona Sul de Ribeirão Preto, quando Guimarães passou a perseguir seu carro em um VW Golf. O policial civil teria disparado quatro vezes, em dois momentos. Mas os tiros não acertaram o rapaz, que conseguiu fugir e foi para uma lanchonete, no Jardim Independência. 

Guimarães chegou pouco depois à lanchonete e agrediu Stefani com socos, chutes e coronhadas. Depois teria obrigado o rapaz a tomar uma cerveja com ele. Ao chegar em casa, Stefani foi novamente abordado pelo policial civil, que disse que iria matá-lo, mas não naquele dia, porque muitas pessoas tinham presenciado as agressões. 

No dia 13 de maio, Guimarães pediu ao policial civil Moreira que executasse o desafeto. Assim que Stefani deixou sua mãe em casa, após buscá-la no trabalho, saiu para a rua, quando foi abordado por Moreira, que efetuou os disparos e fugiu em seguida. 

Guimarães, de acordo com o MP, também estava por lá e conversou com os PMs que atenderam à ocorrência. Durante a análise do local do crime, foram encontrados meio tijolo de maconha na garagem da casa da vítima. No quarto de Stefani, várias armas foram localizadas. A mãe do rapaz nega que a droga e as armas fossem de seu filho e acusa de terem sido plantadas. 

Um PM, Cláudio Fernando da Silva, foi ouvido e negou que Guimarães estivesse no local do crime. Porém, testemunhas confirmaram a presença do réu e o PM foi indiciado por perjúrio. O mesmo crime foi imputado à então namorada do investigador, Fernanda Vedovato e a Álvaro Elmôr, que teriam dito estar na lanchonete com o policial civil no dia em que Stefani havia sido agredido e que a agressão teria partido da vítima. Testemunhas também desmentiram essa versão. 

Depois de diversos recursos das partes da defesa e acusação, Guimarães vai se sentar no banco dos réus ao lado de Moreira. O defensor dos ex-policiais civis ainda tentou mudar os rumos do Tribunal do Júri, justificando que Moreira sofre de insanidade mental, diagnosticado com esquizofrenia. Mas após todos os recursos, o juiz José Roberto Bernardi Liberal deve, portanto, com os sete jurados escolhidos entre os 21 convocados, definir os rumos de mais este crime atribuído ao ex-policial civil. 

Crimes atribuídos a Ricardo Guimarães  

Condenações 

Abril de 2019 – 38 anos de prisão pelas mortes de Maikon Nahid Silva, de 19 anos, e Rogério Fernandes da Silva Esvarela, de 20, em agosto de 2002; 

Agosto de 2018 – 30 anos de prisão pela morte de Thiago Aguiar Silva, de 14 anos, em janeiro de 2004; 

Fevereiro de 2018 – 56 anos de prisão pela morte da dona de casa Tatiana Assuzena, de 24 anos, em março de 2004; 

Dezembro de 2017 – 48 anos de prisão pelas mortes de dois policiais no Rio Grande do Sul, em julho de 2005; 

Julho de 2017 – 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza e Enock de Oliveira Moura, em maio de 1996. 

Acusações 

Março de 2002 – Sandro Alberto Lima, o Pezão, assassinado dentro da Santa Casa de Ribeirão Preto; 

Abril de 2002 – execução do detento João Paulo Alves da Silva em uma cela no 1º Distrito Policial de Ribeirão Preto; 

Maio de 2003 – assassinato de Thiago Xavier Stefani, de 21 anos, na casa do rapaz, no Jardim Independência. 

 

 

 

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