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Ex-policial acumula 244 anos de prisão

JF PIMENTA/ ESPECIAL PARA O TRIBUNA E REPRODUÇÃO/SSP (DETALHE)

O ex-policial civil Ricar­do José Guimarães, apontado pelo Ministério Público Es­tadual (MPE) como chefe de um grupo de extermínio que atuou em Ribeirão Preto nas décadas de 1990 e 2000, foi condenado nesta terça-feira, 2 de abril, por um júri popular, a mais 38 anos de prisão pelas mortes de Maikon Nahid Silva, de 19 anos, e Rogério Fernan­des da Silva Esvarela, de 20, em agosto de 2002. Os dois foram encontrados mortos a tiros no Parque São Sebastião, na Zona Leste da cidade.

Agora, Guimarães já soma cinco condenações por outros seis homicídios – somadas as sentenças desfavoráveis, acu­mula 244 anos de cadeia e ain­da vai responder por mais cin­co assassinatos. O julgamento no Salão do Júri do Fórum Estadual de Justiça começou às 13 horas e terminou dez horas depois. A defesa do ex-investi­gador, representada pelo advo­gado César Augusto Moreira, não quis se manifestar, mas deve recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP).

A sentença foi lida pelo juiz Giovani Augusto Serra Azul Guimarães, da 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais. O ex-investigador está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, des­de 28 de maio do ano passado, quando a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) descobriu um suposto plano de fuga em Tre­membé que envolveria o resga­te de Guimarães.

A defesa do ex-policial diz que seu cliente tem sido alvo de ameaças de morte de uma facção criminosa e, por isso, deve retornar para Tremem­bé. Os dois jovens assassina­dos em 31 de agosto de 2002 tinham passagem por tráfico de drogas. Segundo a Polícia Civil, foram executados com tiros na cabeça durante a ma­drugada. Foram usados qua­tro tipos diferentes de pistolas automáticas. Os corpos foram achados entre as ruas Sebas­tião Agenor Dib e Pedro Bar­bieri, no Parque São Sebastião.

A mais recente condenação de Guimarães havia sido em 2 de agosto, quando foi con­denado, por um júri popular, a mais 30 anos de prisão pelo homicídio de Thiago Aguiar da Silva, de 14 anos, suspeito de envolvimento em delitos como tráfico de drogas. O ra­paz foi morto a tiros em 11 de janeiro de 2004, no cruzamen­to das ruas Comandante Mar­condes Salgado e Florêncio de Abreu, na região central da cida­de. O ex-investigador é acusado de, na companhia de mais três pessoas, executar o adolescente.

Foi a quarta condenação de Guimarães por homicídio. No total, pode pegar até 300 anos de reclusão. O ex-policial sem­pre negou todas as acusações feitas pelo Ministério Público. Segundo o promotor José Gas­par Barreto, a prova de con­fronto balístico comprovou que os projéteis da pistola 765 que Guimarães usou no assas­sinato da dona de casa Tatiana Assuzena e no atentado con­tra o noivo dela, Almir Rogé­rio, meses depois da morte de Thiago Silva, eram idênticos.

O ex-investigador também deve voltar a júri popular ainda este ano em Ribeirão Preto pela morte de Thiago Xavier de Ste­fani, de 21 anos, baleado com dois tiros na cabeça, no Jardim Independência, em 2003. O rapaz foi morto na porta de casa. Na residência dele ha­via, segundo investigações da época, porções de maconha. A mãe da vítima sempre negou o envolvimento do filho com o tráfico, diz que o rapaz foi exe­cutado e os entorpecentes e o revólver foram “plantados” por Guimarães.

Em 2004, detido depois da morte de Tatiana Assuzena, fugiu pela porta da frente do presídio da Polícia Civil, em São Paulo. Em 22 de fevereiro, em um júri popular que durou mais de 14 horas, o ex-inte­grante da Delegacia de Investi­gações Gerais (DIG) sentou-se no banco dos réus pelo assas­sinato da dona de casa Tatiana Aparecida Assuzena, em 24 de março de 2004, nos Campos Elíseos, Zona Norte.

Catorze anos depois, ele foi condenado a 56 anos em regime fechado e mais dez dias-multa. O ex-policial já havia sido con­denado a 120 anos de prisão por causa de quatro homicídios. Ele sempre negou envolvimen­to com grupos de extermínio e quando assumiu alguma morte disse que foi em legítima defesa, no exercício da profissão.

No dia 11 de julho de 2017, Guimarães foi condenado a 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza, então com 15 anos, e Enoch de Oli­veira Moura, de 18, em maio de 1996, no Parque Avelino Alves Palma – duas das oito vítimas assassinadas e atribuí­das ao ex-policial. Em 5 de de­zembro, foi condenado pelo 5º Tribunal do Júri da Barra Fun­da, em São Paulo, a 48 anos de prisão pelos assassinatos e ocultação de cadáveres de dois ex-policiais civis, ocorridos em julho de 2005 no Uruguai.

Ele nega participação nos assassinatos dos ex-policiais civis do Rio Grande do Sul Ro­naldo Almeida Silva e Leonel Jesus Ilha da Silva. Segundo o promotor Marcus Túlio Ni­colino, o grupo de extermínio agiu em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002 e pode ter execu­tado 70 pessoas. Em 1994, a cidade registrou 94 homicí­dios. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002).

Crimes atribuídos a Ricardo Guimarães
Condenações
Abril de 2019 – 38 anos de prisão pelas mortes de Maikon Nahid Silva, de 19 anos, e Rogé­rio Fernandes da Silva Esvarela, de 20, em agosto de 2002
Agosto de 2018 – 30 anos de prisão pela morte de Thiago Aguiar Silva, de 14 anos, em janeiro de 2004
Fevereiro de 2018 – 56 anos de prisão pela morte da dona de casa Tatiana Assuzena, de 24 anos, em março de 2004
Julho de 2017 – 72 anos de pri­são pelas mortes de Anderson Luiz de Souza e Enock de Olivei­ra Moura, em maio de 1996
Dezembro de 2017 – 48 anos de prisão pelas mortes de dois policiais no Rio Grande do Sul, em julho de 2005
Acusações
Março de 2002 – Sandro Alberto Lima, o Pezão, assassinado den­tro da Santa Casa de Ribeirão Preto
Abril de 2002 – execução do detento João Paulo Alves da Silva em uma cela no 1º Distrito Policial de Ribeirão Preto
Maio de 2003 – assassinato de Thiago Xavier Stefani, de 21 anos, na casa do rapaz, no Jardim Independência

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