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Eudóxia de Barros e um piano sob as árvores

No ano de 2000, em janeiro, fui nomeado para ocupar o cargo de Diretor dos Museus de Ribeirão Preto, minha sede ficava no complexo dos Museus Histórico e do Café.

O Museu Histórico e de Ordem Geral “Plínio Travassos dos Santos”, bem como o Café localizam-se dentro da Universidade de São Paulo – USP/RP, um local bucólico rodeado de uma área onde se destaca uma mata, formada por um conjunto botânico com as mais diversas e raras representantes da nossa flora.

Em 1940, a fazenda foi adquirida pelo Governo do Estado de São Paulo que, em 1942, instalou nela a Escola Prática de Agricultura da Universidade de São Paulo.

Bem. Depois das justas informações, vamos ao talento Eudóxia de Barros.

Comecei uma negociação direto com um dos mais importantes nomes da música do Brasil.

Estudou com Guilherme Fontainha, Magda Tagliaferro, Nellie Braga, Lina Pires de Campos e o compositor brasileiro Osvaldo Lacerda, com quem viria a se casar em 3 de setembro de 1982. O professor Osvaldo Lacerda faleceu em 18 de julho de 2011. Eudóxia de Barros aperfeiçoou-se na França, Estados Unidos e Alemanha. Venceu por unanimidade o concurso para solista da North Carolina Symphony, e foi solista da Cleveland Philharmonic Orchestra.

Elaboramos uma programação onde ela se apresentaria sábado no majestoso Theatro Pedro II, um dos três principais teatros de ópera do país, no domingo no complexo dos museus Histórico e do Café, em um pequeno palco, sob as árvores do riquíssimo conjunto.

Uma pessoa séria, competente e dedicada, de um talento ímpar, o convencimento e as tratativas foram longas.

Ela assim reportou:

– Senhor Edwaldo Arantes eu me apresentei nas mais diversas e importantes salas do mundo, nunca realizei um concerto nestas condições, envie-me fotos do local.

Com as fotos enviadas, as negociações ficaram ainda mais difí­ceis, mesmo com a beleza esplendorosa do lugar em uma mata com muitas árvores.

Com muita paciência e a insistência mineira, fechamos o con­trato.

Apresentação de gala no Theatro Pedro II foi um sucesso estron­doso, e no domingo seria o grande dia para a população assistir a dama da música.

No local funcionava um projeto denominado “Café da Manhã com Chorinho no Museu”, onde um conjunto se apresentava e os casais dançavam ao som das notas e protegidos do sol, pelos arvo­redos.
Às onze horas da manhã, na presença do Prefeito, Secretário da Educação, da Cultura, Presidente da Câmara, vereadores e figuras de destaque na sociedade, que tenho certeza nunca passaram por lá e nem sabiam da existência dos suntuosos museus.

As pessoas começaram a chegar, carros estacionaram, surgindo de todos os cantos da cidade por todos os lados, as pessoas chegan­do, parecia uma imensa procissão adentrando a USP/RP, umas três mil pessoas.
Eudóxia surgiu em um vestido verde esvoaçante, cumprimen­tou a todos com um leve gesto, se ajeitou no banco e assistimos umas das mais belas passagens da vida.

Ela começou a executar o “Hino Nacional” e um silêncio assom­broso se apossou do local, não se ouvia nem uma folha, de repente no auge da música, em um momento mágico e divino, folhas e flores começaram a cair sobre ela, que impassível, dedilhou até o final.

Aconteceu uma catarse, olhares emocionados, perplexos, sem conseguir entender nada, apenas ficarem maravilhados.

Tudo muito romântico e bucólico, quem teve o privilégio e a sorte de ter estado lá, provavelmente nunca mais se esqueceu e fez do seu domingo um exercício de sensibilidade, voltando para casa, com o coração em chamas, cheio de ternura e agradecimento.

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