Um dos temas mais comentados da semana foi o vídeo, onde três universitárias de biomedicina, de uma instituição privada de Bauru, zombam de uma aluna de 44 anos de idade, com falas: “ela tem 40 anos, era para estar aposentada” e “como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Após a péssima repercussão, uma delas tentou se retratar, alegando que a manifestação foi infeliz e não reflete seu pensamento. As jovens que podem responder por injúria qualificada, difamação e violência psicológica, proporcionaram a discussão pública sobre o etarismo ou sadismo que conceitualmente é discriminação e preconceito baseados na idade, geralmente das gerações mais novas em relação às mais velhas.
Diante do fato fiz uma viagem no tempo recordando a chegada à universidade, onde a realidade na sala 30B da turma de Direito era outra e todos acolhiam com muito carinho os colegas mais idosos. Uma delas, inclusive, tinha um filho matriculado no mesmo curso. Não existia o Estatuto da Pessoa Idosa, mas já sabíamos exercitar o respeito e gostávamos de conhecer as histórias de luta e superação e absorver as experiências que eram gentilmente compartilhadas. Os alunos de maior idade eram nosso espelho, referência e provavam que sempre é tempo para realizar sonhos e projetos.
Diferente do que propagaram as alunas de Biomedicina, no pós-pandemia, parte do empresariado passou a valorizar os “quarentões”, unindo o potencial dos jovens com a experiência dos maduros. O mercado busca profissionais com competências agregadas pela multifuncionalidade e pelo conhecimento específico, assim a aluna vítima está correta ao buscar uma graduação. Quanto à aposentadoria, elas também erraram feio, pois em todo o mundo as alterações nos regimes previdenciários buscam o aumento da idade mínima já que, apesar de todas as mazelas, estamos vivendo mais. No Brasil, segundo os últimos dados do IBGE, a expectativa de vida dos homens passou para 73,1 anos e a das mulheres para 80,1 anos e já temos quase 30 mil pessoas com mais de 100 anos de idade.
Aproveitemos a polêmica para aprofundar no tema, especialmente nos agravos à saúde mental da pessoa vítima desse tipo de preconceito e da falta de políticas públicas e ações da iniciativa privada para proporcionar acessibilidade, não apenas nos serviços de saúde, mas no trabalho, atividades culturais, desportivas e de lazer. Nosso desafio é reconhecer o preconceito etário e trabalhar para superá-lo. Ações como educar sobre o valor das diferentes gerações, promover a diversidade etária nos ambientes de ensino, trabalho e na sociedade em geral e, acima de tudo, exercitar o respeito e dignidade, independentemente da idade.
Finalmente quanto às autoras do vídeo infame, que respondam na medida da lei e possam compreender que a Biomedicina é uma área bastante diversificada com suas mais de 30 habilitações possíveis, que vão da Genética à Biossegurança, mas que tem o ser humano de todas as idades como principal destinatário. A universidade é um dos espaços ideias para difusão do conhecimento e da abordagem mais inclusiva e consciente, capaz de romper as barreiras do preconceito etário colaborando para a formação de uma sociedade mais justa e equitativa para todos. Registra-se que vários alunos do mesmo curso foram solidários à vítima de Bauru que, apesar da tristeza, disse que não irá desistir. Nós também não!