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Estudo mostra que mortes de pretos e pardos foram 28% maior no primeiro ano da pandemia

TOMAZ SILVA/AG.BR.

Cerca de 270 mil brasileiros morreram acima do esperado em 2020 em comparação com os anos anteriores, revelando que o número real de mortos da covid-19 pode ser maior do que as contagens oficiais, que soma­vam 195.000 óbitos em 31 de dezembro do ano passado. Des­sas 270 mil mortes em excesso, 153 mil ocorreram entre pretos e pardos, 36 mil óbitos a mais em comparação com o excesso de mortalidade da população bran­ca do Brasil. Os novos dados di­vulgados, que foram coletados e analisados pelo Afro-CEBRAP, centro de pesquisa em questões raciais, e a organização global de saúde Vital Strategies, evi­denciam um quadro alarman­te: as desigualdades raciais e sociais pré-existentes foram intensificadas pela pandemia de covid-19, levando a um nú­mero maior de mortes entre a população negra do Brasil.

“Nossa análise mostra as disparidades alarmantes entre a população negra e branca na saúde, que pioraram durante a covid-19. Incentivamos aque­les que têm poder de decisão a usar os resultados deste estudo para orientar planos de combate a covid-19 que levem em consi­deração as lacunas na contenção do vírus, no atendimento com base na raça/cor. Isso inclui me­lhorar o acesso ao tratamento e a vacinas com prioridade, melho­rar a qualidade do tratamento e melhorar a coleta de dados”, diz Fatima Marinho, epidemiolo­gista e especialista sênior da Vi­tal Strategies.

O estudo utiliza o excesso de mortalidade como indicador. Este é um método usado por epidemiologistas e especialistas em saúde pública para calcular a diferença entre o número de mortes esperadas e o número de mortes observadas em um determinado período e local. Isso pode mostrar mudanças na saúde geral de uma população. Nesta análise, foi comparada a quantidade de óbitos por causas naturais esperada em 2020 e a quantidade de óbitos observada para o mesmo ano. Os resulta­dos revelam os impactos diretos da covid – a partir do aumento de mortes pela doença – bem como os indiretos, devido a restrições de movimentação, superlotação de hospitais e unidades de saúde, redução da busca por atendimento médico por parte de doentes graves por medo de se infec­tar, além do cancelamento ou adiamento de procedimentos médico-hospitalar para doen­tes graves, devido ao risco de infecção pelo SARS-COV-2.

A análise dos indicadores de excesso de mortalidade por raça/cor está disponível na pla­taforma Raça e Saúde Públi­ca e mostra como a covid-19 escancarou as desigualdades raciais no Brasil. O levanta­mento dos dados revelou nú­meros preocupantes quando se analisa o excesso de morta­lidade em 2020 por raça/cor e por idade e sexo. O excesso de mortalidade da população ne­gra com mais de 80 anos foi de 16% enquanto o da população branca na mesma faixa etária foi de 8%. As mulheres negras também foram afetadas de for­ma desproporcional: o excesso de mortalidade foi 57% maior do que o das mulheres brancas.

As fontes de coleta dos dados de óbitos por causas naturais fo­ram o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministé­rio da Saúde (SIM) e o Registro Civil (sistema de informação da Associação Nacional dos Regis­tradores de Pessoas Naturais – ARPEN-Brasil), além de dados populacionais do IBGE.

Segundo Márcia Lima, co­ordenadora e pesquisadora do Afro-CEBRAP, ao longo da pan­demia as desigualdades raciais deixam desproporcionalmente a população negra exercendo serviços essenciais, o que acaba aumentando sua exposição ao vírus. “Enquanto as camadas mais privilegiadas da sociedade – de maioria branca – dispõem de recursos que lhes garantem a possibilidade de cumprir o iso­lamento social trabalhando em casa, os profissionais informais e precários – majoritariamente negros – continuam cada vez mais expostos”, diz Márcia.

Principais conclusões por idade, sexo e região
– Em 2020, o excesso de mor­talidade por doenças (incluindo doenças respiratórias como a covid-19) foi de 28% (153 mil) entre pretos e pardos em comparação com 18% (117 mil) entre pessoas de cor branca.

– Os dados mostram que pesso­as pretas e pardas até 29 anos morreram 32,9%. Brancos na mesma faixa etária morreram 22,6% a mais.

– Na comparação por sexo, os homens pretos e pardos morreram duas vezes mais do que as mulheres brancas e, entre os homens negros, o excesso de mortalidade foi 55% maior quando comparado à mortalida­de dos homens brancos.

– Nas regiões Sul e Sudeste, as desigualdades raciais do impac­to da pandemia são maiores do que no Norte. Apesar da menor população negra, o excesso de mortalidade entre pessoas pretas e pardas foi quase duas vezes maior do que entre pesso­as de cor branca, em especial no estado de São Paulo, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Paraná.

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