Por Caio Nascimento
Cláudio Martins, de seis anos, tem deficiência auditiva e enfrenta dificuldades em se comunicar com os colegas da escola. O menino ainda está se alfabetizando na Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas sua mãe, Edvalda Martins, se preocupa com as relações sociais do garoto no futuro. “Já percebi que ele não tem muitos amigos na escola. Existe uma fronteira muito grande entre as crianças com e sem deficiência”, lamenta.
Essa fronteira não é exclusiva do pequeno Cláudio: há quase 10 milhões de surdos em todo o País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desses, 2,1 milhões enfrentam limitações severas, com uma perda de 70 a 90 decibéis.
Pensando nisso, a estudante de design Luisa Scaletsky, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e os de computação Anderson Maia e Virgilius Santos, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do mesmo Estado, resolveram criar o primeiro aplicativo de celular que faz a tradução de Libras para o português: o Charles Tradutor.
De acordo com Luisa, existem diversos softwares que interpretam para Libras o português, mas não há programas que façam o contrário. A plataforma ainda está em desenvolvimento e não há previsão de lançamento, mas já se sabe como vai funcionar: basta executar os sinais em frente à câmera do celular que a tradução aparece por escrito na tela, por meio de inteligência artificial
A estudante explica que pode ser que o aplicativo não capte a informação de primeira, devido às diferenças regionais, mas haverá um banco de dados colaborativo em que o usuário pode inserir gírias, abreviações e outras variações da língua. Futuramente, os três universitários pretendem fazer uma parceria com intérpretes, mas não há nada certo sobre isso. “Queremos diversificar o máximo possível”, enfatiza Luisa. “O aplicativo vai ser bem visual. Entendemos que nem todos têm uma fluência boa no português escrito, então tentamos deixá-lo bem intuitivo, sem textos longos”, completa.
Prêmio pode impulsionar ideia
Luisa, Virgilius e Anderson se conheceram no curso Apple Developer Academy, que ensina a criar aplicativos para o sistema iOS e tiveram a ideia do Charles Tradutor depois do fim das aulas. Hoje a ideia do trio é finalista na categoria diversidade do prêmio Campus Mobile, do Instituto Claro NET Embratel, que estimula a formação de jovens talentos.
Segundo a vice-presidente da organização, Daniely Gomiero, o Charles Tradutor competiu com mais de 200 projetos de 25 Estados do Brasil e será avaliado por professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo(USP). Os vencedores, que serão escolhidos na próxima segunda-feira, 6, serão enviados para o Vale do Silício, na Califórnia, para conhecer empresas como o Google e o Facebook, onde poderão incrementar suas ideias.
Daniely diz também que, como os jovens participantes estão em começo de carreira, não há a obrigação dos projetos de tecnologia serem adicionados aos serviços da operadora Claro.