Por Felipe Rosa Mendes e Renan Fernandes
Henrique Modenesi, Craig O’Shannessy e Daryl Morey não são atletas. Mas, através de análise de dados, estes especialistas em vôlei, tênis e basquete, respectivamente, trabalham nos bastidores para mudar a forma como são jogados tradicionais esportes.
Australiano, O’Shannessy é formado em jornalismo, mas atuou como treinador de tênis por 20 anos, trabalhando com atletas como o sul-africano Kevin Anderson, atual vice-campeão de Wimbledon. Intitulado analista de estratégia, presta serviços ao Aberto da Austrália e ao Grand Slam britânico.
No entanto, seu maior feito é mudar o estilo de jogo de Novak Djokovic. Contratado pelo sérvio em 2017, ele foi um dos responsáveis por levar o tenista ao topo do ranking novamente. Seu maior “insight” foi perceber que, segundo os seus próprios números, tenistas que vencem o maior número de pontos curtos em uma partida acabam faturando a vitória em 85% dos casos.
“Não faz sentido ficar treinando pontos longos porque, na verdade, eles representam apenas 10% dos pontos disputados em uma partida”, explica. De acordo com sua análise, foi isso que fez a diferença para Djokovic na conquista do Aberto da Austrália deste ano. “Os dados vão criar uma mudança de paradigma e este novo aprendizado influenciará fortemente os treinos”, aposta.
A análise de dados também tem ajudado o Houston Rockets, na NBA, graças ao trabalho do gerente-geral, o norte-americano Daryl Morey, um engenheiro da computação com um MBA no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Nos Rockets desde 2007, ele foi o criador do “true shooting percentage” (porcentagem de chute verdadeiro). O sistema mostrou que arremessos de três pontos, apesar de terem um aproveitamento menor que os de dois, são mais efetivos se tentados em maior quantidade. Assim, a NBA passou por uma grande revolução. Até mesmo o lugar “perfeito” para a execução da jogada existe: o canto da quadra, onde a linha dos três pontos está mais perto da cesta.
Em 2012, James Harden foi contratado justamente para atender as necessidades apontadas pelos dados. A aposta deu certo. Ele registra médias de 35,9 pontos por jogo e corre atrás de seu segundo prêmio de melhor jogador da liga. Como efeito de comparação, a melhor temporada de Michel Jordan teve exatos 35 pontos de média.
Como resultado das apostas de Morey, os Rockets foram na última temporada a primeira equipe na história da NBA a terminar os 82 jogos da temporada regular tentando mais chutes de três (3.470) do que de dois pontos (3.436). No último domingo, os Rockets converteram 27 cestas de três contra o Phoenix Suns e estabeleceram novo recorde na NBA. A marca anterior era do próprio Houston, que tinha convertido 26 duas vezes na atual temporada.
VÔLEI – No esporte no qual o Brasil é referência, a presença do chamado “Big Data” se faz presente desde o início da década de 1980. Henrique Modenesi, analista de desempenho da seleção brasileira masculina, usa os dados em treinos, análises pré-jogo, durante as partidas e no pós-jogo. E aponta o saque como o grande beneficiado pelo trabalho com os dados.
“De uns dez anos para a cá o saque evoluiu muito, tanto o ‘viagem’ como o ‘flutuante’. Existem trabalhos específicos que usam análise de dados para entender o efeito na recepção, a velocidade e a frequência que os jogadores devem sacar, o ritmo. Se é para colocar a bola em jogo ou forçar”, disse o especialista. Para garantir a precisão dos números, as equipes chegam até a usar radares de velocidade durante os treinamentos
Atuando desde 2009 na área, ele explica que software mais difundido no vôlei atualmente é o “Data Volley”, criado na Itália, mas algumas comissões optam por desenvolver sistemas próprios. Foi isso que aconteceu na troca alguns membros da seleção brasileiro na saída de Bernardinho, em 2017.