Edson Vieira não economiza em sua análise sobre o futebol brasileiro, que teria deixado de encantar plateias ao redor do mundo com sua arte, para se transformar em um circo de horrores. Segundo ele, foi assim nas Copas de 2014, a dos 7 a 1, contra a Alemanha, e a de 2018, na Rússia, quando a seleção brasileira foi eliminada nas quartas de final pela Bélgica.
“Há uma década nós enumerávamos 10 craques do futebol brasileiro com facilidade. Quero ver encontrar três craques, acima da média, apenas três, nos dias de hoje. Neymar não vale. Quem bate bem na bola? Quem bate falta? Quem é o cara? Nós estamos caminhando para um ponto crítico. E sabe qual é o próximo? Ficar fora de uma Copa. Daí vão dizer: Agora chegamos ao fundo do poço. Não. Chegamos antes,” profetiza.
Atualmente no Comercial de Ribeirão Preto, time que disputa a Série A3 do Paulista, Edson Vieira, ou Edson Maradona, ou ainda ‘El loco, ’ anda preocupado com os destinos do esporte mais popular do País e aponta a desorganização, o amadorismo na gestão e a falta de cuidados com os jogadores da base, além de outros interesses, como sendo as principais causas que levam à derrocada. “Futebol e política não são primos: são irmãos gêmeos, um copia o que há de pior no outro e vice-versa, então é preciso repensar o que temos e o que queremos,” instrui.
Para o ex-meia, que despontou para o futebol no Botafogo carioca, onde se profissionalizou aos 16 anos de idade, e chegou à seleção brasileira sub17, outro problema está na formação dos jogadores, o que irá refletir negativamente na carreira dos atletas. “De baixo até em cima, da base ao profissional, tanto a modelagem do caráter quanto o aprendizado do esporte são péssimos. Como é então que você pode esperar o surgimento de grandes jogadores?” indaga.
Edson Viera fica indignado quando aborda a situação das categorias de base nos clubes. “A base brasileira foi jogada na lata do lixo, com todo o respeito. Os grandes jogadores que se dedicavam a burilar esses meninos foram excluídos e trocados por jovens recém-formados em cursos de educação física, que podem ser bons, mas não têm experiência. Aqui no Brasil deixamos de lado a idade, chutamos os mais velhos, chutamos aquele que aprendeu na derrota, o que aprendeu na dificuldade, esse vale muito pouco. O jovem veio sem preparo e atropelou,” constata.
E prossegue: “Mas quem dá a canetada”? Quem coloca um treinador na base que tem apenas 30 anos de idade? Quem tem essa capacidade? Cadê as pessoas para falarem dos desvios de jogadores. Cadê as pessoas para falarem que há corrupção? E dizem ao menino: vai embora que lá na esquina vão te pegar. Jogador passou por tal clube, não fica e depois volta contratado. Porque mandaram embora?
Para o técnico, que no ano passado foi vice-campeão da Copa Santa Catarina pelo Hercílio Luz, muitos jogadores da base são colocados ‘no colo’ de diretores de clubes, que querem transformá-los em ídolos com objetivos meramente financeiros. “Essa gente está assassinando o futebol brasileiro,” afirma.
“Tive grandes treinadores que me ensinaram muito, entre eles Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Orlando Fantoni, Zagalo, Jorge Vieira,” relembra.
Retratos
Série A3 é um ‘deserto’
Considerado um dos maiores vitoriosos na Série A3, Viera diz que a divisão é um deserto e não um paraíso, mas que no Comercial, as coisas são diferentes, e usa uma metáfora para explicar. “Hoje eu trabalho onde há remédio para picada de cobra, escorpião, quando chega a água não é miragem. Estou em um clube que tem condição de A2 e não de A3. Quem dirige o Comercial nos dá essa garantia,” compara.
O técnico não se considera um injustiçado por ainda não haver sido convidado para dirigir um clube das principais divisões do futebol. “Estou preparado para trabalhar na A do Brasileirão, na Série A do Paulista,” explica. “O elogio sempre deve vir de outras pessoas, mas estou preparado,” desabafa.
Apelidado de Edson Maradona por João Saldanha, jornalista e técnico da seleção brasileira nas eliminatórias da Copa de 1970, por causa de sua habilidade com a perna esquerda, Edson Vieira quer fazer história no futebol brasileiro, agora como técnico.
Aos 53 anos de idade, ele sabe que ainda tem uma longa carreira pela frente e que tudo pode acontecer menos abandonar o futebol, porque como disse a pastora Cristina, não é isso o que Deus quer.