O governo de São Paulo manteve a posição expressa na tarde desta quinta-feira, 16 de setembro, de que continuaria com a vacinação contra a covid-19 de adolescentes de 12 a 17 anos, mesmo após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recomendar o contrário.
A Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto seguirá as recomendações do governo paulista. De acordo com dados divulgados pelo governador João Doria (PSDB), cerca de 72% dos adolescentes paulistas foram vacinados, e a recomendação de suspender a aplicação do imunizante causa “apreensão e insegurança em milhões de adolescentes e suas famílias”.
Notas reforçando a posição do governador paulista foram sendo divulgadas ao longo da tarde. Iguais em conteúdo, os comunicados adicionavam pequenas informações à postura adotada pela gestão paulista. Na primeira, antes das falas de Queiroga em coletiva, o governo declarava apenas que a decisão do ministério ia na “contramão de autoridades sanitárias de outros países”.
Mais tarde, após coletiva de imprensa onde o ministro reforçou o pedido para que fosse interrompida a vacinação de adolescentes, o governo repetiu a nota adicionando a informação de que decisão também ia “na contramão da orientação do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass)”.
Também foi adicionada a informação de que a aplicação das vacinas em adolescentes seguia a recomendação do Comitê Científico do Estado. Em nota emitida pelo Ministério da Saúde, foi recomendada a suspensão da aplicação das vacinas aos adolescentes sem comorbidades que, pelo calendário nacional, teria início na quarta-feira (15).
De acordo com o órgão, a revisão prevê que a imunização prossiga apenas para adolescentes que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. Na justificativa, a pasta aponta, entre outros fatores, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes, com ou sem comorbidades.
Diz ainda que a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela doença apresentam evolução benigna da covid-19. Na verdade, não há orientação contrária da entidade internacional para a vacinação dessa faixa etária.
A recomendação da OMS é para que os menores de idade só sejam imunizados depois que todas as pessoas dos grupos de maior risco estejam vacinadas. O uso da vacina da Pfizer/BioNTech nesta faixa etária foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Marcelo Queiroga falou em falta de “evidências científicas sólidas” e citou um caso de óbito de adolescente após receber o imunizante. Em seguida, ponderou a falta de relação causal comprovada entre a morte e a vacina.Já a Anvisa manteve a aprovação da vacina contra covid-19 da Pfizer para adolescentes de 12 a 17 anos.
A informação consta em boletim emitido pelo órgão na noite desta quinta-feira. “Com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente, quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos”, diz a Anvisa.
A agência cita ainda a liberação do imunizante para a mesma faixa etária em países como Estados Unidos, Reino Unido e também na União Europeia. “Benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos”, lembra o órgão.
Em nota, a Anvisa esclarece que a liberação do imunizante da Pfizer para adolescentes se deu após a apresentação de estudos de fase três com dados de segurança e eficácia e, ainda, reforçou a falta de informações sobre o óbito citado por Queiroga. “No momento, não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina”.
Diz ainda que “os dados recebidos ainda são preliminares e necessitam de aprofundamento para confirmar ou descartar a relação causal com a vacina”, diz a agência. “Todas as vacinas autorizadas e distribuídas no Brasil estão sendo monitoradas continuamente pela vigilância diária das notificações de suspeitas de eventos adversos”, acrescenta.
À noite, Queiroga afirmou que partiu do presidente Jair Bolsonaro a orientação para rever a vacinação de adolescentes no país. “O que o Ministério da Saúde fez? Na nota técnica 40 da Secovid, retirou os adolescentes sem comorbidades. O senhor tem conversado comigo sobre esse tema”, disse o ministro ao lado do presidente, na transmissão semanal ao vivo nas redes sociais feita pelo chefe do Planalto.
“Nós fizemos uma revisão detalhada no banco de dados do DataSUS”, emendou. “A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição. Eu levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo, o que chega ao meu conhecimento”, acrescentou Bolsonaro.
AstraZeneca
Queiroga também anunciou nesta quinta-feira o recuo da pasta com relação ao intervalo entre a primeira e a segunda dose da vacina AstraZeneca, contra covid-19. Após reduzir o intervalo da aplicação entre as doses do imunizante de doze para oito semanas, o ministro informou que, devido à falta da vacina, o MS decidiu manter o intervalo maior, em doze semanas.