Ribeirão Preto recebeu, nesta semana, representantes do Ministério dos Transportes e da Secretaria do Patrimônio da União para uma vistoria em pontos estratégicos da cidade e discussão sobre novos projetos. O principal foco da visita foi a análise do novo sistema viário, composto pelas Vias Oeste e Leste, e a revitalização da histórica Estação Barracão, no Ipiranga.
Construída em 1900 para receber imigrantes que chegavam pela Estrada de Ferro da Mogiana, a Estação Barracão é um dos patrimônios da malha ferroviária local. A proposta em estudo busca preservar sua memória histórica e integrá-la aos projetos de mobilidade urbana.
“A visita a Ribeirão Preto demonstra nossa preocupação com a preservação histórica e o transporte ferroviário. Nosso objetivo é desenvolver projetos que resgatem e valorizem a memória da cidade, proporcionando melhorias significativas para a população”, destacou Denis Selymes, coordenador da Secretaria do Patrimônio da União (SPU-SP).
“A ideia é um trabalho conjunto entre a Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário e Ribeirão Preto”, explica Sérgio Alcântara, assessor técnico da Secretaria Nacional de Transportes Ferroviários, do Ministério dos Transportes. Os projetos viários incluem a implantação na avenida Rio Pardo de um novo corredor de ônibus, que vai ligar a avenida Eduardo Andrea Matarazzo (Via Norte) até a avenida Dom Pedro I.
Junto a isso, também está em estudo para construir uma nova avenida ao longo do córrego do Tanquinho, que será denominada Via Leste. “Queremos oferecer uma nova mensagem para Ribeirão. Não apenas com as obras, que já estamos fazendo, como o novo Hospital das Clínicas e o Instituto Federal, mas também pela forma como pensamos e vivemos a cidade”, diz o secretário municipal de Governo, João Augusto do Carmo.
“Dar vida novamente à Estação Barracão é dizer que todas as pessoas que passaram por ali, há 50, 100 anos, sim, foram e são importantes. O bairro Ipiranga nasceu dali, há descendentes das famílias italianas que vieram em busca de um sonho. Somos, na verdade, a continuação dessa história. Precisamos criar um vínculo de afeto, de comunhão com quem dividimos a cidade e a vida”, completa.
A histórica Estação Barracão também pode fazer parte do programa de incentivo ao turismo ferroviário, lançado pelo governo de São Paulo em 6 de novembro do ano passado. O projeto prevê a implantação de uma malha ferroviária turística, ligando o espaço ribeirão-pretano à gare Mogiana, em Franca.
Segundo a Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, o trecho está inicialmente em estudo para operação turística. Também existe a possibilidade de inclusão de outros projetos que ainda não estão inseridos no programa, como o trem turístico entre Ribeirão Preto e Tambaú.
A proposta integra o Programa SP Nos Trilhos, que engloba mais de 40 projetos de transporte ferroviário, com investimentos de R$ 194 bilhões. De acordo com o governo estadual, os projetos de trens turísticos serão incluídos na via férrea.
História da malha ferroviária – Desde 1883, com a chegada da Companhia Mogiana, Ribeirão Preto viveu um período de grande prosperidade econômica, sendo reconhecida como “A Capital do Café”. A extensa malha ferroviária foi essencial para o transporte do café, então chamado de “ouro verde”.
Atualmente, restam apenas quatro estações ferroviárias na cidade: Barracão, Silveira do Val, Evangelina e Joaquim Firmino, sendo a Barracão a única localizada na área urbana. Ribeirão Preto também conserva duas locomotivas remanescentes: a 420 da Mogiana e a U.S. Amália.
A Estação Barracão, localizada na junção das avenidas Dom Pedro I e Capitão Salomão, teve papel fundamental no desenvolvimento dos bairros Ipiranga e Campos Elíseos, originalmente chamados de Barracão de Cima e Barracão de Baixo. Oficialmente desativada em 2011, a estação ainda preserva sua relevância histórica e cultural para a cidade.
Maria-fumaça – A maria-fumaça “Amália” está na miniestação ferroviária Luiz Henrique Paschoalin, no Parque Maurílio Biagi, desde julho de 2023.
A locomotiva foi batizada de “Amália 12” por causa da usina a que pertencia antes de ser doada ao município. O nome está gravado nas laterais do equipamento. Foi fabricada em 1912 estava exposta desde 1973.
Conppac – É tombada pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac). Os trabalhos de restauração da locomotiva foram realizados pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), em Campinas. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo investiu R$ 749 mil na restauração. A estação custou R$ 523.854,13.
Todos os componentes foram restaurados ou substituídos, quando não foi possível a recuperação. A locomotiva Phantom, popularmente conhecida como maria-fumaça, pertencia a Usina Amália e em 1912 foi doada para Ribeirão Preto pelas Indústrias Matarazzo.
Borsig – O modelo é uma das três remanescentes do fabricante alemã Borsig no Brasil. As outras duas estão em Itapetininga e Jaguariúna. Ribeirão Preto tem outra maria-fumaça, a “Mogiana”, instalada na antiga Estação Ferroviária Mogiana, na Zona Norte. A Câmara pediu e o Conppac aprovou seu tombamento. A locomotiva a vapor 420 foi projetada em 1893 para atender as necessidades da Companhia Mogiana na época.