No último final de semana, o povo ribeirão-pretano elegeu os 22 representantes do Poder Legislativo para os próximos quatro anos. Ao término da apuração dos votos, e com todas as cadeiras preenchidas, notou-se um fato que não ocorria há 24 anos na cidade: nenhum candidato ligado à pasta esportiva foi eleito.
O último pleito que não elegeu nenhum vereador ligado ao esporte foi em 1996. Na ocasião, Walter Gomes até teve uma quantia significativa de votos, mas por conta do quociente eleitoral, acabou ficando de fora.
Posteriormente, Walter Gomes se tornou um dos principais expoentes da pasta esportiva de Ribeirão Preto e foi eleito em quatro eleições consecutivas. Entretanto, em 2016, às vésperas da eleição, o vereador, que atuava como presidente da Câmara, foi acusado de diversos crimes, acabou afastado do cargo e não foi reeleito.
Walter Gomes é réu na Operação Sevandija, em uma ação sobre fraudes em licitação de contratos entre a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp) e a Atmosphera Construções.
Desde agosto de 2018, ele responde ao processo em prisão domiciliar, após passar um ano e oito meses preso preventivamente na Penitenciária de Tremembé.
Em 2020, os vereadores André Trindade (DEM) e Orlando Pesoti (PDT), que tem em comum a proximidade das pautas esportivas, não conseguiram a reeleição por conta do quociente eleitoral. Trindade, inclusive, além de ter ligação com o Botafogo Futebol Clube, foi um dos grandes responsáveis pelo retorno do futebol amador de Ribeirão Preto. Outro que não se reelegeu foi Marco Antônio Di Bonifácio, o Boni (Podemos), bicampeão Olímpico com a Seleção Brasileira de Voleibol Feminina e doutor em Psicologia Esportiva.
Em entrevista exclusiva ao Tribuna, Trindade afirmou que a falta de representantes da pauta esportiva na câmara vai deixar uma lacuna e reiterou que outras pastas podem ser influenciadas por essa ausência.
“Eu vejo que todos os temas são importantes. Porém, o parlamento deve ser diverso para que caiba dentro dele vocações distintas de classe, religião, para que todos sejam representados”, disse.
“Vai ficar uma lacuna no esporte. O esporte é muito mais para a cidade do que somente as modalidades. O subproduto do esporte ajuda muito em várias camadas como educação, saúde e várias outras coisas”, completou.
Fracasso nacional
O insucesso dos políticos ligados ao esporte nas eleições municipais de 2020 não é exclusividade de Ribeirão Preto. Em âmbito nacional, o êxito também foi pequeno para os “esportistas”.
Para os especialistas, o desempenho ruim dos apoiadores da pauta tem pouco a ver com o esporte em si e mais com o momento político do país. Segundo Luiz Rufino, cientista político, a explicação para a baixa adesão é de que a pasta esportiva não é mais um polo de votação.
“A lógica do voto vai mudando de acordo com as demandas da população. A única pauta que perdura por mais de 40 anos é a saúde. O esporte tem se mantido abaixo da casa dos cinco itens mais prioritários. Isso faz com que o político que está ligado em pesquisa, que está atento às demandas, mude o seu discurso. A pauta esportiva está completamente deixada de lado porque não traz voto”, afirmou Rufino.
Para André Trindade, além da questão do voto, a falta de investimento em esporte fez com que os temas ligados à pasta e também os candidatos que trabalham em cima do tema perdessem visibilidade e espaço.
“Eu acredito que esse fracasso dos políticos ligados ao esporte tem a ver com a falta de investimento que a pasta tem. Sem visibilidade, tende a cair mesmo. Isso é um erro, porque o esporte é mais do que a prática de uma modalidade, é o desafogo para diversas áreas como saúde, educação, segurança”, completou.
Rufino alertou sobre a gravidade do problema. Para ele, a falta de representantes na câmara tira a voz de quem deveria cobrar do executivo as decisões em relação ao esporte.
“Isso é um problema grave, porque os esportistas não tem representação. Você passa a perder cada vez mais voz diante do legislativo para poder cobrar do executivo certas decisões em relação ao esporte. Junto com a cultura, o esporte deveria ser a segunda pauta de urgência”, finalizou.
Neste ano, a Secretaria de Esportes foi uma das que menos recebeu recursos. R$ 15,4 milhões. Para 2021 houve um ligeiro aumento. São R$ 15,5 milhões, mas ainda entre as que recebem menos. Na prática, a falta de vereadores ligados à pasta faz com que cada vezes menos exista “briga” por recursos para o esporte.