A esperança é uma das três virtudes teologais. Nenhum cristão tem o direito de abrir mão da esperança. Nossa fé se debruça sobre a esperança sempre: desde que nascemos (até mesmo antes de nascermos) até o dia em que nosso nome ecoar na eternidade e morrermos (até mesmo depois de nossa morte). Daí a importante necessidade de renovarmos nossa esperança para um tempo pós-pandemia. A pandemia vai passar e todos nós deveremos recomeçar pautados sempre sobre a esperança de tempos melhores.
Apraz-me fazer alusão às palavras do amado Papa Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a Fraternidade e a Amizade Social, no que diz respeito à segunda Virtude Teologal, a Esperança. São dois parágrafos deste belíssimo texto, escrito com a simplicidade do Santo Padre, onde pretende “dar voz a diversos caminhos de esperança”. O Papa escreve: “A recente (podemos afirmar a presente) pandemia permitiu-nos recuperar e valorizar tantos companheiros e companheiras de viagem que, no medo, reagiram dando a própria vida.
Fomos capazes de reconhecer como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida, escreveram os acontecimentos decisivos da nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, empregados dos supermercados, pessoal da limpeza, cuidadores, transportadores, homens e mulheres que trabalham para fornecer serviços essenciais e de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosas… compreenderam que ninguém se salva sozinho” (Fratelli Tutti 54).
O Papa nos convida “à esperança que ‘nos fala de uma realidade cuja raiz está no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos de uma sede, de uma aspiração, de um anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. (…) A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna’. Caminhemos na esperança”, conclui o Papa (Fratelli Tutti 55).
As provações que a vida nos impõe, ou amadurecem nossa fé em Deus, ou nos revoltam e afastam d’Ele. Sempre dependerá de nossa eleição pessoal.
Ao nosso redor, tantas coisas mexem com o coração e desafiam a nossa fé. Tantas pessoas que se afastaram das nossas comunidades. Milhões de crianças que moram nas ruas, na mais triste pobreza. Tantos jovens entregues às drogas. É incontável a fila de irmãos e irmãs que passam fome e não tem casa para morar. Entre muitos poderosos avarentos, que se sentem donos do dinheiro, impera o egoísmo, a concentração de poder, os privilégios. São milhões os sobrantes e excluídos da mesa comensal da vida.
A fome do irmão, as crianças abandonadas nas ruas, as violências ao ser humano são convites de Jesus para subirmos com ele na barca (a Igreja) e entrarmos nos desígnios de Deus Pai, depois de compreendermos e assumirmos nossa missão e fazermos a nossa parte. Páscoa é isso: passagem de situações de menos vida para situações de mais vida, de situações de pobreza e miséria para uma vida digna, bonita, feliz e realizada para todos. Continuemos alimentando, portanto, nossa esperança de uma vida melhor para todos!