Considerando juntos todos os achados da relação escola, educação e inteligência, fica claro que escolas e professores explicam menos de 10% da variância do desempenho acadêmico e que as características dos estudantes explicam cerca de 90% da mesma. Esse dado tem sido suportado por inúmeros estudos e revisões sistemáticas acerca da interação entre as variáveis acima. Também, e não menos importante, este fato tem sido conhecido desde a década de 60. De fato, os poucos estudos que estimaram a variância de desempenho acadêmico atribuído aos professores, separando-a da variância atribuída às escolas, indicam que este fator situa-se de 1 a 8% na maioria dos casos. Todavia, também deve se destacar que, embora esta proporção seja um valor muito pequeno da variância total, os efeitos da variável professor no desempenho acadêmico é provavelmente o componente mais elevado dentre os fatores atribuíveis à escola quando as características dos estudantes são ignoradas.
Entretanto, a despeito da pequenez do valor do efeito desta variância no desempenho acadêmico por parte dos professores, os mesmos não devem ser ignorados dentro do processo educacional. Ao contrário: professores devem ser valorizados pela difícil tarefa que enfrentam. Independente do quão capaz eles sejam, eles nunca serão hábeis em revolucionar a educação e tampouco em tornar um gênio cada criança sob seu ensino. Eles não têm controle sobre as variáveis que são responsáveis pela maioria da variância dos resultados acadêmicos. Professores não fazem milagres. Eles trabalham com o que têm e com o que lhes chega às mãos. Portanto, não é sensato colocar exclusivamente nos ombros deles um peso muito grande no processo de reformar a educação como algumas autoridades educacionais têm praticado.
Assim considerando, o que deve, então, ser feito? Temos arguido que devemos entender inteligência à luz dos recentes avanços em genética, neurociência e cognição. No que nos sustentamos para tal? No fato de inteligência ser a característica do estudante que explica a maior parte da variância do que qualquer outra variável no cenário educacional. E isso torna óbvio que, para entender melhor o desempenho acadêmico, temos que entender melhor a inteligência. Do mesmo modo, sem entender as bases neurais e os mecanismos funcionais da inteligência, será impossível mudar as práticas educacionais de forma significativa como temos observado ao longo dos últimos séculos. Enfatizamos, com isso, que genes afetam o cérebro e este controla o comportamento. Portanto, a relação entre genes, cérebro e comportamento deve ser plenamente entendida.
Logo, entendo que um dos grandes problemas no processo educacional brasileiro ou internacional é o fracasso generalizado de reconhecer os achados relevantes no campo da genética do comportamento, especialmente, os que se referem ao desempenho acadêmico. Estes achados mostram que todas as tendências, traços, comportamentos e resultados em diferentes arenas da vida têm uma substancial base genética. Até mesmo a variabilidade diária nos afetos positivos e negativos tem sido mostrada ser sensível aos efeitos genéticos. Ademais, pesquisas também indicam que as pessoas buscam e criam seus próprios ambientes, educacionais ou não, baseadas em suas disposições e interesses geneticamente influenciados.
Em resumo, pesquisas que mostram comportamentos e desempenhos sendo melhorados exclusivamente por programas de intervenções ambientais têm omitido que estas mudanças são causadas principalmente por diferenças genéticas entre as pessoas. Tal omissão, no contexto educacional, coloca em dúvida a credibilidade de toda a pesquisa educacional. E tal omissão invariavelmente causa desperdício de tempo e dinheiro que pais, alunos e governo nunca têm em abundância.