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Escola, Educação e Inteligência (6)

Revelamos anteriormente que as escolas explicam menos que 10% da variância dos de­sempenhos escolares. Assim considerando, se as escolas explicam tão pouco, quais seriam as características dos estudantes mais associadas ao desempenho? Ao longo dos últimos 50 anos, a relação entre desempenho acadêmico e características dos estudantes tem sido objeto de profunda análise. E, embora não seja exatamente conhecido o porquê de as duas serem relacionadas, a topografia desta relação é muito clara. Um dado é particularmente poderoso: inteligência humana, ou habilidade cognitiva geral, explica, no mínimo, metade e, provavel­mente, muito do desempenho acadêmico que é atribuído às características dos estudantes.
Há, certamente, outras características dos estudantes que contribuem para o desempenho acadêmico. Mas tais não têm sido tão intensamente pesquisadas quanto à inteligência. Sumariemos, então, alguns estudos que atestam o papel da inteligência no desempenho acadêmico. Um dos estudos analisou mais que 70 mil estudantes ingleses. Sendo comum que todos os estudantes na Inglaterra sejam requeridos a tomarem um exame de certificação geral da escola secundária, este exame é um teste de desempenho acadêmico que envolve diferentes matérias, sendo cada um deles expresso num determinado escore/pontuação em relação à média da classe.

Também, um teste de habilidade cognitiva, envolvendo habilidades de raciocínio, é ampla­mente aplicado aos estudantes na Inglaterra. Os investigadores foram hábeis em emparelhar uma grande proporção dos estudantes de 15 a 16 anos de idade que tinham sido avaliados com o exame geral de ensino médio com os escores que estes alunos tinham obtido no teste de habilidade cognitiva na idade de 11 anos. O total de estudantes foi de aproximadamente 15 mil. Não surpreendentemente, a correlação entre o fator geral de desempenho acadêmico e o fator geral de inteligência foi 0,81. Em outras palavras, inteligência prediz, pelo menos, 2/3 do fator geral de desempenho acadêmico mesmo quando os dois testes são aplicados no intervalo de cinco anos. Do mesmo modo, inteligência geral também prediz os escores individuais em 27 matérias diferentes.

Um outro estudo correlacionou diferentes fatores de habilidades cognitivas e desempe­nho acadêmico de diferentes testes contendo domínios escolásticos diferentes. Novamente, a correlação entre um fator geral cognitivo e um fator geral educacional foi 0,83. A correlação variou, de algum modo, aumentando em função da idade, numa amplitude de 0,77 a 0,94. Importante, esses dados são para indivíduos separadamente.

Suplementando esses achados individuais, estudiosos investigaram a correlação entre escores nacionais de desempenho acadêmico e os QIs nacionais de cada país. As correlações variaram entre 0,92 e 1, indicando que inteligência é importante no nível nacional em deter­minar o desempenho acadêmico. Eu mesmo, e minha equipe, já demonstramos, robustamen­te, que o escore médio do PISA, tomado como um teste de QI, correlaciona-se altamente para os diferentes Estados brasileiros com indicadores escolásticos, bem como com indicadores sociais e econômicos.

O que é claro desses achados, e de muitos outros estudos que temos revisado ao longo de nossa carreira acadêmica, é que inteligência é extremamente importante no desempenho aca­dêmico. Inteligência explica entre 50% a 75% da variância total no desempenho acadêmico. Se considerarmos apenas os 90% da variância atribuível aos estudantes, inteligência explica de 56% a 70% da variância no desempenho acadêmico atribuível às características dos estudan­tes. Inteligência explica,portanto, de 6 a 9 vezes mais que a variância atribuível aos professores, contudo, o foco de atenção está em estudar os professores e não em enfocar o papel da inteli­gência. Mas, infelizmente, inteligência raramente é mencionada nos círculos educacionais.
Parece-nos, portanto, que a educação tem ignorado as características dos estudantes, mas, outros neurocientistas têm se ocupado muito delas, e hoje sabemos o papel substancial que elas têm, ou devem ter, no processo educacional. Os grandes contribuidores para esses avan­ços têm sido as pesquisas em ciência cognitiva, genética do comportamento e neurociência da educação. Inteligência precisa, portanto, deixar de ser um pária.

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