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Escola, Educação e Inteligência (1)

Nos últimos anos, têm sido publicados inúmeros comentários acerca do desempenho dos nossos estudantes dos ensinos básico (fundamental e mé­dio) e universitário em diferentes avaliações nacionais e internacionais que permeiam o sistema educacional brasileiro. Essas críticas, focalizando desde as técnicas estatísticas empregadas em sua análise até o levantamento do nível socioeconômico de pais e alunos, passam pelas praticadas neles aplicadas, o ambiente escolar, a qualidade das escolas e a qualificação de seus professores.

Todavia, muitas das discussões e interpretações desses resultados são questionáveis, não por causa do tipo de análise de comentários que os subja­zem, mas, sim, por conta da omissão de resultados de pesquisas previamente relevantes. Em outras palavras, por fracassarem em considerar, discutir e men­cionar resultados bem estabelecidos de pesquisas alta­mente relevantes que explicam, em profundidade, tanto o conteúdo quando as con­clusões das avaliações escolares. Por que agem assim? Tal prática de omissão é considerada, muitas vezes, inadvertida e não intencional. Entretanto, em minha opinião, a causa de tal omissão é outra: para mim, os analistas das avaliações desconhecem, sim, as pesquisas relevantes em avaliação educacio­nal, razão pela qual omitem qualquer discussão que envolva especialmente os traços dos estudantes por acreditarem que isto vai contra as concepções sociopolíticas vigentes, ou seja, contra o argumento do politicamente correto.

No Brasil, nos EUA e em grande parte do restante do mundo, professores são culpados ou elogiados pelo desempenho acadêmico dos estudantes para os quais ensinam. E, em lendo qualquer pesquisa educacional sobre isso, bem como, os grandes cartazes fixados em perímetro urbano, verifica-se facilmen­te a ideia que se vende da educação, a saber, a dos professores serem comple­tamente responsáveis pelos resultados educacionais dos alunos. Argumento, entretanto, que essa ideia é pessimamente mal entendida. E, nesta série, pro­curarei mostrar que os professores são responsáveis por uma porção mínima da variança total nos desfechos educacionais. Interessante é que esse fato tem sido conhecido nos últimos cinqüenta anos, embora a pesquisa mostrando isso venha sendo largamente ignorada pelos pesquisadores.

Nesta mesma série procurarei mostrar, também, que a maioria da va­riança nos escores educacionais está associada com as características dos estudantes, provavelmente tanto quanto ocorre em noventa por cento dos países desenvolvidos. Neste contexto, uma parte substancial dessa porcenta­gem, algo entre cinqüenta e oitenta por cento, sendo devida às diferenças na habilidade cognitiva geral dos discentes. Na sequência, também argumentarei sobre a importância de a pesquisa educacional, como um todo, que fracassa em focar as características dos estudantes, nunca ser capaz de entender tal fracasso e, tampouco, vir a ser hábil em melhorá-lo enquanto não desvendar seus olhos para a realidade. É certo que não seja possível explicar noventa por cento da variança total baseando-se somente na habilidade cognitiva geral, mas características dos estudantes explicarão a maioria da variança dos escores das avaliações, bem como, a habilidade cognitiva geral dos mesmos explicará a maior parte da mesma.

O grande demérito da educação brasileira atual em ignorar a influência massiva dos estudantes em seu próprio desempenho educacional decorre do elevado número de outras pesquisas que sustentam o contrário.

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