O jornalista, escritor e especialista em marketing político José Maria Braga trabalhou por muitos anos em jornais, revistas e emissoras de TV. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde também cursou o Teatro Universitário (TU). Apaixonado por literatura é autor de três romances, “Menino Pelado”, “A Mentira do Amor Perfeito” e “Menina de Papel”. Este último, será lançado em Ribeirão Preto, no dia 19 de dezembro, às 19 horas, na Biblioteca Sinhá Junqueira.
Ele tem forte ligação com a cidade. Das últimas quatro eleições municipais em Ribeirão Preto, Braga – como é conhecido -, atuou em três. Em 2012 fez a da então candidata à reeleição, Darcy Vera. Em 2016, comandou a do candidato Duarte Nogueira e este ano a de Ricardo Silva. Venceu todas.
Tribuna Ribeirão – O senhor retorna a Ribeirão Preto, depois de comandar a campanha eleitoral do prefeito eleito Ricardo Silva, para lançar seu novo livro. Por que escolheu a cidade para esse lançamento?
José Maria Braga – Foi uma escolha natural, pois morei em Ribeirão de julho a outubro deste ano de 2024. Vivi aqui quatro meses intensos durante a campanha eleitoral, onde ampliei o leque de amigos e a admiração que tenho por esta linda cidade. Com o perdão dos ribeirão-pretanos raiz, me sinto um filho da cidade. Lançar meu terceiro romance em Ribeirão é um gesto de agradecimento e gratidão, uma reverência que faço à cidade. Por falar nisso, o lançamento será no dia 19 de dezembro, a partir das 19 horas, na Biblioteca Sinhá Junqueira, no centro.
Este é o seu terceiro romance. Existe alguma relação ficcional entre as três obras?
JMB – Sempre há alguma relação ficcional entre as obras de um escritor, pois todas, independentemente do tema, trama e do estilo em que são escritas, nascem da visão de mundo do autor, de suas experiências, das sensações e sentimentos que julga ser fundamentais colocar pra fora para se livrar de seus “vulcões internos”. Menino Pelado, meu primeiro romance, é completamente diferente do segundo, A Mentira do Amor Perfeito. Diferente em estrutura romanesca, na trama, no tema e no estilo, diferente em tudo. Nesse terceiro romance, Menina de Papel, retomo, com variações, o universo, os personagens e um pouco do estilo de Menino Pelado. É uma espécie de continuação.
O que o motiva a escrever? O que pretende passar para o leitor com suas obras?
JMB – Arte é tudo aquilo que não conseguimos evitar, aquele momento único de prazer que nos empurra para a tela do computador. Essa frase resume os motivos que me fazem escrever. Sinto uma vontade incontrolável de me expressar, de trocar emoções, de dar vazão a um mundo imaginário que me persegue, queira eu ou não. Ao escrever, procuro retratar situações humanas, com suas nuances, contradições e simbologias. Minha origem no jornalismo me faz optar por frases curtas e diretas, guardando certa distância de adjetivos e advérbios.
O senhor é considerado um profissional vitorioso. Quais foram suas principais campanhas eleitorais?
JMB – Comecei em campanhas eleitorais ainda muito jovem, na primeira eleição presidencial de 1989. Descobri naquela experiência que era o que queria fazer pelo resto da minha vida. Desde então, não parei mais. Estive presente em todas as grandes campanhas nacionais, inclusive nos dois plebiscitos, de 1993 e 2005. Aprendi muito com os pioneiros do marketing político. Já trabalhei para as lideranças mais conhecidas do país, entre elas o presidente Fernando Henrique Cardoso, os governadores José Serra, Geraldo Alckmin, Orestes Quércia, Paulo Maluf, o ministro Gilberto Kassab, o senador Romeu Tuma e tantos outros. Sobre as campanhas mais importantes, fico com a vitoriosa campanha de Chico Amaral (um completo azarão em Campinas, em 1996) e com as três que fiz em Ribeirão. Todas muito difíceis, mas vitoriosas.
Qual sua relação pessoal e política com Ribeirão Preto?
JMB – Acompanho a vida política de Ribeirão desde sempre. Quando estava iniciando, em 1992, fui procurado por João Gilberto Sampaio, então candidato a prefeito. Depois, em 1996, tive conversas com o Luiz Roberto Jábali, ou seja, faz tempo que a política da cidade e seus principais atores se fazem presente no meu dia a dia profissional. Depois disso, fiz as campanhas de 2012, 2016 e 2024 em Ribeirão, todas vitoriosas. Pulei 2020 por causa da pandemia. Do ponto de vista pessoal, como disse, adoro a cidade. Aqui, me sinto em casa. Sempre penso em morar de vez por Ribeirão, mas, infelizmente, ainda não aconteceu. Uma hora dá certo.
A campanha do, hoje prefeito eleito, Ricardo Silva, causou surpresa no meio político da cidade. Depois de ele quase ter sido eleito no primeiro turno, ganhou por uma diferença de apenas 687 votos no segundo turno. Como o senhor analisa isso?
JMB – Analiso de maneira tranquila. Ribeirão tem tradição de levar a disputa sempre para o segundo turno. A vitória poderia ter vindo de fato no primeiro turno, e quase deu. Ricardo recebeu 48,44% dos votos válidos, sem dúvida uma estratégia vitoriosa. Faltou pouco. A explicação para ter acontecido um segundo turno pode estar na grande abstenção de 33%, muito acima da média nacional, e também na guerra de fake News de que o Ricardo foi vítima. Fake News disparadas e impulsionadas por todos os outros três adversários à base de muito dinheiro e impulsionamento, sem o menor apreço pela verdade. Como cidadão sinto certa frustração ao ver que na política, infelizmente, ainda reina o vale tudo na hora da eleição.
No segundo turno, tivemos que lidar com o elemento surpresa, o que colocou nome de um adversário totalmente desconhecido, e sem o menor preparo, no centro dos comentários da população. Isso é natural que aconteça em situações assim. No fim, repetiu-se o que ocorreu em 2018: o voto antissistema, o “contra tudo e contra todos”, e uma abstenção ainda maior, de 38%. Mas tudo isso, agora, são águas passadas, o que importa é que Ricardo Silva é o novo prefeito de Ribeirão Preto.
O que espera da administração de Ricardo Silva como prefeito?
JMB – Espero que faça uma grande administração, transparente e eficaz; que mude de fato a vida da população no dia a dia. Espero, principalmente, que compreenda o novo momento político, em que precisa criar laços mais sólidos com as pessoas; que implemente uma comunicação inovadora e criativa, sem repetir as velhas fórmulas tão comuns em praticamente todas as prefeituras. Se fizer isso e for ousado, terá uma reeleição tranquila. O discurso antissistema continuará presente nas redes sociais. O prefeito será a vítima da vez. A oposição ficará quatro anos em ação com fake News e gritarias. Ricardo precisa criar seus biombos de proteção.
Neste tempo todo em que o senhor comanda campanhas quais as principais mudanças que o senhor vislumbrou nos políticos e nos eleitores?
JMB – O Brasil vive uma tendência crescente de radicalização na política. Começou há alguns anos, com o “nós contra eles”, e foi ampliado e amplificado nesta eleição de 2024. As pesquisas não têm conseguido prever os altos índices de abstenção e nem tampouco as mudanças de voto de última hora. Entender esse fenômeno, vale lembrar que mundial, é o desafio que os comunicadores têm pela frente. Além disso, há sempre uma onda em cada eleição. Em 2016, foi a onda do candidato novo, o que elegeu João Doria prefeito de São Paulo. Em Ribeirão conseguimos frear essa onda. Agora, em 2024, voltou o discurso antissistema, o mesmo que elegeu o Bolsonaro em 2018. Enfim, eleitor é uma caixinha de surpresa. Cada campanha tem sua história.
As redes sociais mudaram o jeito de se fazer uma campanha política?
JMB – A comunicação política sempre foi e sempre será dinâmica. O jeito de fazer campanha muda de uma eleição para outra. Não vamos confundir forma, meio, mídia, com conteúdo. As redes sociais são forma, ferramenta, e não conteúdo em si. Rádio, TV, santinho, jornalzinho, entrevistas, debates e encontros com os eleitores etc. também são meios de comunicação. As redes sociais chegaram pra ficar e fazem parte do conjunto de ferramentas à disposição dos profissionais do marketing eleitoral. O papel da comunicação é falar com a população de todas as formas possíveis. Endeusar este ou aquele meio de comunicação pode ser fatal em uma campanha. Hoje existe muita confusão sobre o que funciona e o que não funciona na construção da reputação de um candidato. Há uma constelação “de especialistas em redes sociais”, inclusive muitos candidatos, pela facilidade de produzir e postar vídeos a partir de celulares. O problema é o seguinte: se todos conseguem fazer o que eu faço, como vou me diferenciar? Aí, entra a boa análise das redes como veículo, a inteligência criativa e a análise dos resultados atingidos semana após semana. Planejamento, pesquisas, diagnóstico preciso e uma estratégia clara e bem definida continuam a ser os segredos mais decisivos em uma campanha eleitoral.
Os políticos eleitos para cargos no Executivo este ano devem priorizar as redes sociais para terem sucesso em seus governos?
JMB – Como disse, redes sociais são um veículo a mais na construção da imagem de uma administração ou de um político. Eu diria que existem outros meios muito mais eficazes, capaz de enraizar conceitos e valores para a reputação de um prefeito. Tenho falado muito sobre isso. Rede social todo mundo vai fazer, inclusive a oposição, e sem a responsabilidade de ter que dar solução para os problemas reais do povo e da cidade. Como fazer diferente, ser eficiente e criar adesão à imagem do meu cliente? O fundamental é a utilização cada vez maior da inteligência artificial e do aprofundamento dos laços reais com a população, e isso não se consegue com redes sociais feitas na intuição, sem qualquer base analítica. Faz tempo que trabalho com Comunicação Corporativa, como é o caso de prefeituras. Uso todas as ferramentas, inclusive as redes sociais, mas sem atribuir a elas uma importância que não têm na construção da reputação e da imagem positiva do prefeito.
Em sua avaliação, o que Ricardo Silva precisa fazer para realizar um bom governo?
JMB – Primeiro de tudo, profissionalizar a gestão no limite do possível. Não é tarefa nada fácil montar uma equipe capaz de encontrar soluções para os problemas de uma cidade do porte de Ribeirão. O Ricardo vai ter que subir o morro e olhar mais longe, buscar bons quadros administrativos onde eles estiverem. Só uma liderança segura, que delegue, confie na equipe, sem excessiva centralização, pode fazer um governo competente, respeitado e eficiente aos olhos da população. Imagino que o Ricardo tenha esta percepção e consciência.
Quais seus próximos desafios profissionais?
JMB – Escrever um novo romance e dar continuidade ao trabalho que sempre faço nos intervalos das campanhas eleitorais: palestras e consultorias em comunicação corporativa para prefeituras e governos. E, claro, descansar, viajar um pouco e arrumar tempo para ler muito, minha paixão de uma vida inteira.