Estou em uma fase da vida que posso me permitir algumas coisas. Entre elas, escrever sobre o que eu não entendo, sem me censurar. Escrever sobre o que a gente entende é fácil, e até automático, às vezes, mas falar do que não entendemos, e do que nos aflige, exige uma certa coragem que, talvez, quando mais jovem eu não tive.
Escrevi um artigo, recentemente, intitulado: “Entre achismos, certezas e incertezas”, no qual me referi à angústia que essa pandemia vem causando nas pessoas, inclusive em mim, por não sabermos em que e nem em quem acreditar mais. Recebi o retorno de algumas pessoas dizendo que se identificaram com o meu desabafo. Gostei da brincadeira e resolvi continuar, agora para falar de um assunto que não coube no outro artigo.
Não sou um cientista político, mas acho que nem é preciso conhecer muito esta ciência para perceber como a politização da pandemia contaminou o nosso país e agravou ainda mais a nossa crise sanitária e econômica. Nos perdemos e fomos capazes de nos dividir em um momento em que era mais do que fundamental a nossa união. É como se estivéssemos em um Fla-Flu, ou para quem é de Ribeirão Preto (SP), como eu, em um Come-Fogo. Será que é tão difícil entender que não existe time A ou B, que estamos todos no mesmo barco e se cada um puxar para um lado, não vamos chegar a lugar nenhum? Ou seja, esse dualismo está nos deixando à deriva.
E aí fica mais fácil vir alguém de fora para querer ditar regras, o que já está acontecendo com a pressão do mundo sobre o Brasil, que, por conta da divisão já citada e de falha na nossa comunicação, está ameaçando desinvestir no país devido à expansão do desmatamento. E o Agronegócio, em vez de se unir e promover uma campanha para mostrar que somos o país que mais preserva no mundo, se divide novamente entre os que querem a saída do ministro do Meio Ambiente (como se isto fosse resolver o problema) e outros que fazem moção de apoio a ele.
Isso me faz lembrar de uma das frases do pensador italiano Maquiavel, até hoje adotada como referência nos meios políticos: “dividir para governar”. Mas no mundo atual, essa velha prática parece estar nos levando para um caminho que não condiz com Quarta Revolução Industrial (4.0), denominação que engloba algumas tecnologias para automação e troca de dados e utiliza conceitos de sistemas ciber-físicos, internet das coisas e computação em nuvem. Não entendo muito desta nova realidade, mas, em recente palestra que assisti de um expert no assunto, para mim ficou claro que na sociedade 4.0 não caberá individualismo e egoísmo, mas sim empatia e compartilhamento. Então, por que não cooperar para evoluir?
Deixo essa pergunta no ar, para reflexão. Enquanto isso, em meio a tantas teorias, fake news, abre e fecha de comércio, enxurradas de whatsapps, overdose de notícias, de repente me chega à informação: Extra! Extra! Urgente! Uma nuvem de gafanhotos ameaça atingir o Brasil! Governo decreta calamidade pública no sul do País. Primeiramente, achei que fosse mais uma notícia falsa. Depois, pensei por alguns segundos e cheguei até a um devaneio, será que eles vieram para acabar com a pandemia? Mal tinha me recuperado do susto, outra notícia digna de filmes ficção aparece na tela do meu celular: uma nuvem de areia do deserto do Saara encobriu parte do Caribe. Ufa! Mas ainda bem que esta nuvem não traz somente malefícios. Segundo os cientistas, serve como fertilizante para a Floresta Amazônica.
É muita nuvem para minha cabeça. Saudade de quando eu pensava que nuvem era apenas um aglomerado de gotículas de água em suspensão no ar, dando origem às chuvas. Devaneios à parte, cheguei à conclusão de que realmente não está fácil entender 2020 e me solidarizo com todos que se sentem assim: no ar, como as nuvens.