Edwaldo Arantes *
[email protected]
Recebi uma mensagem que dizia mais ou menos assim, você precisa sorrir mais, o riso torna as pessoas ainda mais bonitas.
Não me considero bonito, talvez interessante, gostei, principalmente de quem partiu a opinião e o meu coração.
Lembro-me bem do lançamento do meu livro, minha filha querida, Marina, fotografava.
A cada instante olhava-me com a câmera às mãos, sempre sorrindo, daquela forma encantadora, meio tímida, sorria e repetia: “sorria, sorria, sorria Ed”.
Em um determinado momento, Justificando com um meio sorriso, brinquei:
Filhota, eu não sorri nem nas fotos dos seus aniversários, apesar de brotar uma felicidade imensa no meu peito e nos olhos.
Fiquei pensando, sorvendo o velho tinto seco português, divagando sobre o riso e sua atuação em todos os momentos da humanidade.
Lembrei-me de um excerto da brilhante obra do talentoso escritor, filósofo, professor, ensaísta e pensador italiano, Umberto Eco, em “O nome da rosa”.
“Quando o abade cego pergunta ao investigador William de Baskerville: -”Que almejam, verdadeiramente?”
Baskerville responde: -′’Eu quero o livro grego, aquele que, segundo vocês, nunca foi escrito. Um livro que só trata de comédia, que odeiam tanto quanto risos”.
“Provavelmente é o único exemplar conservado de um livro de poesia de Aristóteles”.
“Existem muitos livros que tratam de comédia. Por que esse livro é precisamente tão perigoso?
O abade responde: – “Porque é de Aristóteles e vai fazer rir”.
Baskerville replica: – “O que há de perturbador no fato de os homens poderem rir”?
O abade: – “O riso mata o medo e sem medo não pode haver fé, sem medo o homem não precisa de religião”.
Um raio de luz iluminou minha mente, confortando-me, iniciei um périplo na tentativa de crer que o riso elimina o medo.
Realmente, com o riso não existe temor sobre quaisquer situações ou ações expostas pela vida.
Convenci-me relendo a brilhante obra, nos intervalos tecia elucubrações e inações sobre os momentos e as ocorrências dos risos, sorrisos, gargalhadas, provocando confortos, deleites, prazeres e contentamentos.
Talvez tenha razão o dito, “rir é o melhor remédio”.
Corri para um velho álbum, com as fotografias presentes em diversas fases: festas, nascimentos, carteirinhas de cinemas, clubes, grupos escolares, primeiras comunhões, vacinas, natais, réveillons, casamentos, batizados, aniversários, férias, discursos, velórios, enfim, todo o itinerário obtido pela existência, com a Kodak marcando o tempo e suas revelações.
Em quase todas elas, dificilmente encontro-me sorrindo, quase sempre taciturno, macambúzio, fechado em meu interior, pensativo, olhar distante e alheio, como um verso do Poeta Maior: “E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação”.
Em devaneios, pensei ditados ouvidos nas minhas andanças: “olhar de anteontem”, “está pensando na morte da bezerra?”.
E outros tantos e eternos, “o riso é um atalho para a cura de muitos males”, “rico ri à toa”, “morrendo de rir”, “quem ri por último, ri melhor” e mais, muitos mais.
Uma frase enigmática, irônica e misteriosa de um pensador, “feliz é o homem que ri da sua própria desgraça”.
Os idealistas, sonhadores e românticos cunharam uma infinidade de frases, pensamentos e raciocínios sobre esta arte milenar: “o sorriso é a curva mais bonita do corpo humano”, “às vezes, tudo o que precisamos é de um sorriso para nos sentirmos bem”, “sorrisos são como pontes que unem corações”, “um sorriso sincero é a chave que abre o coração de qualquer um.”
“A beleza de um sorriso está na sinceridade dos olhos que o acompanham.”
Sinto esses olhos sinceros e belos, traduzindo o que de mais forte a alma esconde, são verdes, coroados pela mais oculta esmeralda, na mina da minha imaginação.
Seguem guiando meus passos e os caminhos íngremes das jornadas incertas e inexplicáveis, onde trilhamos toda uma luta eterna, equilibrando na corda bamba da vida.
* Agente cultural