Jornalista de redação por muitos anos, sempre tive horror ao erro. Errar, para mim, era a morte. Fosse um erro simples de digitação, ou um erro mais sério, de apuração. Nunca fui muito tolerante com a falha, principalmente com a minha – embora, ao longo da minha carreira, tenha errado, e muito.
Com quase 20 anos de carreira e perto dos 40 de idade, entretanto, percebi que o erro, mais que parte do processo, é item fundamental para o crescimento e aprendizado. E devo essa descoberta tardia ao ecossistema de empreendedorismo de Ribeirão Preto.
Ao começar a atender, como assessor de imprensa, o Supera Parque de Tecnologia e as aceleradoras Sevna Startups e Pluris, ouvi uma frase, proferida pelo CEO da Sevna Startups, João Geroldo, durante um evento, que me chamou muito a atenção: errar é essencial, portanto, o objetivo é errar o mais rápido possível, corrigindo o erro no menor tempo e perdendo, no processo, o mínimo de recursos – incluindo nisso o “vil metal”, os chamados recursos financeiros, ou mais especificamente, a grana.
Para mim, foi uma revelação! Apliquei essa máxima à minha própria carreira, e vi que as maiores evoluções profissionais que tive foram decorrentes de erros. Não de acertos, mas de erros, muitos deles absurdos!
Lembro-me claramente quando, editor de um jornal em Americana, era o responsável pelo fechamento do fim de semana. Como chefe do plantão, editava os textos do dia, fechava a página e comandava dois editores e toda a equipe de diagramação e reportagem do sábado e do domingo. No fechamento, deixei de ler uma página que seria produção de terceiro. Um dos diagramadores me alertou que havia algo possivelmente errado com a coluna em questão, mas não dei bola – tinha muita coisa para fazer e achava absurdo perder tempo com artigo de terceiro. Afinal, o responsável que fizesse seu trabalho direito.
Evidente que houve um erro grotesco, provavelmente feito por mim mesmo, que coloquei naquela página um conteúdo errado. O artigo do terceiro não tinha ido para a página, mas sim um texto próprio, repetido, por sinal. Não publicamos o material e ainda demos a coluna errada! Um absurdo, digno de demissão, inclusive.
Não fui demitido, mas passei semanas me martirizando pelo erro, que foi sério. Por outro lado, nunca mais deixei de ler com atenção qualquer conteúdo sob minha supervisão, fosse próprio ou de outra pessoa. Esse erro nunca mais cometi, nem cometerei, certamente. Aprendi com o erro, embora tenha sido aterrorizante na época.
Ao tomar contato com o mundo do empreendedorismo, e falar com muitos empreendedores, percebi que o erro faz parte do processo natural de maturação de uma empresa. É, inclusive, um reconhecimento para o próprio mercado. Alguns investidores, inclusive, só aportam recursos em empresas de sócios que já tiverem “quebrado” ao menos uma empresa.
Pode não parecer, mas faz sentido: esses empreendedores já fizeram coisas erradas na administração de suas empresas e, ao passarem pela experiência, certamente não repetirão os mesmos erros. Ter passado pelo traumático processo de quebrar, portanto, acaba sendo um diferencial.
Além da cultura de aprender com o erro, de resto muito diferente do que a gente vê na nossa própria sociedade, a beleza do ecossistema empreendedor é que o processo de aprendizado é contínuo. Errar nunca será um problema, desde que se aprenda com os erros, corrigindo-os da forma mais rápida possível. Enquanto errar é incentivado, permanecer errando a mesma coisa é um pecado capital. Afinal, a aprendizagem é o caminho para se chegar ao resultado.