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Emoção (3): Expressões faciais

De tempos em tempos, os obstinados pela teoria cultural da emoção alegam que os estudos de Paul Ekman mostraram apenas que as expressões faciais associa­das com as emoções básicas são universais e inatas. Argumentam que os estudos nada nos revelam sobre os sentimentos subjetivos subjacentes àquelas expressões. Obviamente, se nossas experiências subjetivas fossem realmente muito diferentes, tornar-se-ia difícil saber como poderíamos nos comunicar. A comunicação é possível sem o uso de palavras e isso é possível graças às emoções básicas que todos nós compartilhamos. Vejam que, para nossa alegria e prazer (duas emoções), quando lemos poemas e novelas escritas por autores de outras culturas, ocidentais ou orien­tais, nós podemos reconhecer as emoções que eles descrevem. Se as emoções fossem inven­ções culturais, variando conforme o idioma, a linguagem, tais textos, ou descrições, poderiam nos soar estranhos e impenetráveis. Mas, ao contrário, são carregados de emoções.

Quando os antropólogos entra­ram em contato, pela primeira vez, com tribos primitivas, totalmente isoladas de contato social, seus meios de comunicação foram via expressões faciais e gestos corporais, muitas das quais designadas para expressar emoções. Os sertanistas podem sorrir, uma expressão que será reconhecida imediatamente pelas tribos isoladas e primitivas. As tribos podem também retribuir com um sorriso, mostrando aos antropólogos que eles compartilham o mesmo sentimento, a mesma emoção. Agora que a unidade psicológica da espécie humana é mais reconhecida, talvez, seja mais difícil entender como a teoria cultural da emoção tenha tido tão ampla aceitação. Talvez seja por causa da tendência humana para exage­rar as pequenas diferenças entre os vários grupos humanos. Na busca da identidade cultural, nós, naturalmente, afirmam os estudiosos, fixamos mais em coisas que nos faz diferentes dos outros do que naquelas coisas que nos conectam, nos fazendo ficarmos próximos. Assim, quando falamos das emoções, prestamos atenção às pe­quenas diferenças culturais e tendemos a ignorar as grandes similaridades.

Vejam o experimento interessante que Paul Ekman e Wallace Friesen conduziram, com homens americanos e japoneses, enquanto eles assistiam clipes de filmes. Alguns dos clipes foram eventos neutros ou prazerosos, tais como um passeio de canoa, enquanto outros foram, ao contrário, coisas desgostosas, tais como um ritual de circunci­são, parto assistido por sucção de um bebê e uma cirurgia nasal. Numa condição mostrada, os participantes assistiram aos clipes privadamente, enquanto, em outra, um entrevistador estava presente. Quando sozinhos, expressões faciais similares foram observadas tanto nos participantes americanos quanto nos japoneses. Entretanto, quando o entrevistador esteve presente, os japoneses sor­riram mais e mostraram menos desgosto do que os observadores americanos. O mais marcante do experimento ocorreu quando as gravações foram assistidas em câmera lenta. Apenas, en­tão, foi possível constatar que, quando o entrevis­tador esteve presente, os participantes japoneses realmente começaram a fazer as mesmas expres­sões de desgosto como os americanos fizeram e conseguiram, com sucesso, mascarar estas expressões por poucos segundos depois. Em ou­tras palavras, as mesmas expressões básicas foram sentidas tanto por americanos quanto por japo­neses. Importante, estas respostas foram biológicas e automáticas, para além do controle voluntário. Ape­nas após a tomada de consciência, uns poucos milissegundos depois, as regras da configuração aprendidas puderam ser impostas no topo da resposta biológica básica.
Tomados juntos, os resultados revelam que as emoções básicas, tais como medo e desgosto, são respostas automáticas, similares aos reflexos, sobre as quais temos pouco controle consciente. E tal como os reflexos, elas são muito mais rápidas do que qualquer outra coisa que nós fazemos voluntariamente. Assim, as regras culturalmente determinadas, impostas socialmente, sempre adentram ao cenário após a resposta emocional básica ter entrado em ação.

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