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Emoção (2): Cultural ou Universal?

Ao longo de grande parte do século 20, predominou a concepção de que as emoções eram culturalmente determinadas. A teoria que fundamentava esta visão foi conhecida como Teoria Cultural da Emoção. De acordo com esta teoria, as emoções são comportamentos aprendidos, transmitidos culturalmente, similarmente aos idiomas. Primeiramente devemos ouvir Português antes de o poder­mos falar, do mesmo modo que devemos, primeiramente, ver os outros se sentirem alegres antes que possamos sentir alegria.

Baseado nesta teoria, as pessoas, vivendo em diferentes culturas, experienciariam diferentes emoções.
Todavia, no inicio de 1960, enquanto ainda reinava esta perspec­tiva cultural acerca das emoções, um jovem estudioso das emoções, chamado Paul Ekman, estava determinado a encontrar evidências científicas que sustentassem fortemente esta teoria cultural. Mas, para sua grande surpresa, ele acabou obtendo achados que corroboraram exatamente uma visão oposta àquela predominante que ele mesmo acreditava em princípio. Os estudos de Paul Ekman revelaram as primeiras evidências científicas de que a teoria cultura da emoção de­veria ser descartada. O que fez Paul Ekman? Sua metodologia foi simples, mas criativa. Ele viajou à uma cultu­ra remota e pré-letrada (os Fore, uma tribo do arquipélago de Papua Nova Guiné, na Oceania) para assegurar­-se de que as pessoas não tivessem visto fotografias ou filmes ocidentais e, portanto, nunca tinham aprendido emoções ocidentais. Ekman contou a elas várias estórias e, em seguida, solicitou-as para escolherem dentre três fotografias de Americanos expressando varias emoções, a foto que mais se aproximava da estória. Os dados obtidos foram muito re­veladores. Por exemplo, uma estória que eliciava medo nos ocidentais, quando narrada para as pessoas da tribo Fore, estes apontavam para as mesmas expressões que os ocidentais conectavam às estórias. Para endossar tais dados, Ekman perguntou a algumas pessoas da tribo Fore para fazerem expressões faciais apropriadas para cada estória e gravou-as. Quando Ekman retornou a São Francisco, na Califórnia, EUA, ele fez o experimento ao inverso, isto é, perguntou aos Americanos para associarem as faces dos Fore às estórias.

Obtidos os dados e os jul­gamentos computados, Ekman relatou seu trabalho, pela primeira vez, na Associação Americana de Antropologia, e conta-se que ele foi recebido com gritos de escárnio. A teoria cultural da emoção estava tão enraizada que quaisquer críticas eram motivos de risos e ridicularizadas. Porém, os argumentos de Ekman ganharam audiência e dados robustos. Os dados falaram mais fortemente e, atualmente, é aceito entre os estudiosos das emoções que algumas delas, pelo menos, não são aprendidas. Elas são univer­sais e inatas. Elas são parte de nossa natureza.

Nossa herança emocional comum faz a humanidade caminhar junta, de maneira que transcende as diferenças culturais. Em todos os lugares, e ao longo de todo o tempo, seres humanos têm compartilha­do o mesmo repertório emocional. Obviamente, diferentes culturas têm elaborado, e modelado com pequenas nuances, este repertório. Algumas delas exaltando diferentes emoções, outras tantas degradando algumas emoções, mas, todas, em uníssono, ex­pressando essencialmente as mesmas emoções bási­cas e muitas das emoções cognitivas mais elevadas.

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