Nas minhas andanças acerca da cognição humana, lembro-me, talvez com o intuito de contrastar razão e emoção, de ter escrito que emoção é o sal da vida. O sal é um composto químico que além de dar o tempero aos nossos gostos e sabores, é também uma substância vital para a sobrevivência da espécie. Analogamente, é fácil de constatar que algumas das emoções têm ajudado aos nossos ancestrais a sobrevirem. As emoções, sentimentos poderosos, espontâneos, e às vezes inesquecíveis acrescentam animação à nossa vida. Entre todas as espécies, nós, os humanos, somos os que mais se emocionam. Estudiosos afirmam que com mais freqüência que qualquer outra espécie no planeta, nós expressamos medo, raiva, tristeza, alegria e amor.
Acredito que todos vocês se lembram do Sr. Spock, personagem marcante, de Jornada nas Estrelas (Star Trek) que personificava a inteligência fria, racional, desprovida de emoção. Do mesmo modo ocorria com Data, o andróide de aparência humana em Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração. A criatividade e o raciocínio de Data lhe permitiam uma inteligência analítica, cognitiva, super-humana. Não obstante, ele, inteligente que era, compreendia que lhe faltava algo (talvez, um elemento afetivo nas suas interações). Podia ele escrever poesia, mas tal era insípida sem as paixões do coração, sem um sabor, uma pitada de sal, da dimensão afetiva. A habilidade cognitiva de Data leva-o a inferir sobre o medo, a raiva e a alegria. Por mais que se esforce, ele não consegue criar tais sentimentos, pois Data, como um andróide que era, é totalmente cognição, sem emoção. Era uma face só de Janus, diria meu amigo Sérgio Mascarenhas, sem a face da emoção, apenas com a face da razão, cognição, pura inteligência no seu mais elevado grau.
De onde surgem as emoções? Estudos mostram que as emoções, como muitos outros constructos psicológicos, podem ser estudadas a partir de vários indicadores. As emoções constituem uma mistura de três componentes principais; (1) uma excitação fisiológica, (2) comportamentos expressivos e (3) experiência consciente. Entretanto, o grande desafio no estudo das emoções é entender como esses 3 componentes interagem, envolvendo cérebro, mente, corpo e suas interações com o contexto, situação, ambiente, em que vivemos.
Pesquisadores, atualmente, concordam que há muitas emoções básicas, mas não quanto ao número exato, incluindo alegria, sofrimento, raiva, medo, surpresa e desgosto. Também concordam que não há cultura na qual as emoções estejam ausentes. Ademais, elas não são aprendidas; elas são interconectadas no cérebro humano. As expressões emocionais não similares às palavras, que diferem de cultura para cultura; ao contrário, elas são muito iguais à respiração a qual é uma parte integrante da natureza humana. Podemos dizer que as emoções constituem uma linguagem universal.
De outro lado, há estudiosos que supõem, para além das emoções básicas, a existência das chamadas emoções cognitivas de ordem mais elevada, porque as mesmas envolveriam muito mais processamento cortical do que aquelas denominadas de emoções básicas. São também universais como as emoções básicas, mas exibem maior variação cultural. Um exemplo, que iremos considerar é a emoção que chamamos amor.
Em outras palavras, enquanto as emoções básicas são largamente processadas nas estruturas subcorticais encravadas sob a superfície do cérebro, emoções como o amor (será o amor universal?) são mais associadas com áreas do neocórtex (posteriormente falaremos sobre a neurociência das emoções). Outras emoções cognitivamente mais elevadas são culpa, vergonha, constrangimento, inveja e ciúme (já ouviram falar ou já sentiram em algum momento da vida?). Parece até que essas emoções cognitivas elevadas foram designadas pela seleção natural exatamente para ajudar nossos ancestrais a lidarem com um contínuo e progressivamente complexo ambiente social. Essas emoções podem ser o cimento que une a sociedade humana.