Tribuna Ribeirão
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Em um tempo que era assim 

Edwaldo Arantes * 
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Nos tempos do meu tempo, com muitos “São Pedros” na “cacunda”, como se dizia lá nas minhas terras, protegidas pelas montanhas e serras. Com trilhas e curvas sinuosas tal qual uma prancheta desenhada pelos traços poéticos do gênio de Oscar Niemeyer. 
 
Do alto dos meus mais de meio século de existência, busco reminiscências de um passado remoto e a importância das pessoas e dos  ofícios de um tempo bom. 
 
A senhora dona sempre na porta do Cine São Sebastião, recolhendo os ingressos e permitindo nossas alegrias nas matinês dos domingos. O Dr. José Spósito, médico de antigamente, onde as consultas eram longas e completas, curando todos os males, principalmente os incuráveis, portanto o Toninho coveiro pouco labutava. 
 
A Pharmácia Sant’anna que encantava com seus vidros multicores, bálsamos, pomadas e poções manipuladas pelas mãos mágicas e divinas do Farmacêutico, Dr. José Ananias Alves Ferreira Júnior. Acreditem! Vendia sonhos, esperanças e remédios. 
 
O Gerente do Banco do Brasil, socorrendo as finanças de todos, em especial minha mãe, às voltas com três filhos pequenos sozinha. Não era necessário, senha, cartão ou caixa eletrônico, que sequer imaginavam. Era importante e imprescindível apenas “existir”. 
 
As portas sempre abertas, imagino minha mãe adentrando um Banco hoje, sob o som estridente do alarme e um segurança com o olhar de poucos amigos, já indagando impaciente e rude:  A senhora carrega algum objeto de metal? E minha mãe sábia, mineira e simpática: 
 
Pode ser que sim! Abrindo a bolsa retirando um molho de chaves, parcas moedas e uma relíquia de São Francisco de Assis feita de bronze que certamente também não podia passar, desconfio que hoje em dia nem na “porta giratória” do Céu, possa. 
 
A jovem bonita, vestida de aeromoça sempre escondida, com voz suave e aveludada dizendo: 
 
Telefonista. Boa tarde! 
 
Cinco, por favor. 
 
E um dedinho de prosa se iniciava pelo telefone preso junto à parede. 
 
A mercearia do senhor José, lugar onde a gente chegava com uma caderneta amarelada e surrada na mão e nunca faltou arroz, feijão, carne e pão. 
 
Hoje depende da senha e do saldo, correndo o risco de ficarmos ora sem pão, ora sem feijão e quase sempre sem direção. 
 
Tenho a impressão que a saudade não está apenas ligada a um ser ou um momento qualquer. Estamos e estaremos sempre  dependentes da nossa história, das raízes e de todas as lembranças feitas da vida e presos a ela. 
 
Talvez seja por isso que quando olho as fotografias dos entes queridos em um álbum familiar, sempre serenas mais acredito na vida, na sinceridade, dignidade, honestidade, correção, integridade e no fiel compromisso do homem com a Democracia e com o seu tempo. 
 
* Agente cultural 

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