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Em tempos de infiltração virtual 

A Polícia Civil se especializou e hoje utiliza as mesmas técnicas de phishing contra o crime organizado para combater golpes virtuais. Diretor da DEIC, delegado Kleber de Oliveira Granja, comenta o tema 

O diretor da DEIC de Ribeirão Preto, Kleber de Oliveira Granja (Alfredo Risk)

Por Adalberto Luque 

A Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC) tem hoje um intenso processo de aperfeiçoamento para enfrentar o crime em condições de igualdade – e até superioridade – na internet. Técnicas como infiltração virtual são utilizadas para “pescar” criminosos que aplicam golpes escondidos na rede. 

A DEIC conta com quatro setores especializados: a Delegacia de Investigações Gerais (DIG), a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), a Delegacia de Homicídios e o Setor de Enfrentamento aos Crimes de Corrupção, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro (SECCOLD), esta última também com status de delegacia. Além de especializadas em suas áreas, as quatro delegacias utilizam ferramentas tecnológicas, garantindo bons resultados no combate ao crime, sobretudo virtual. 

O diretor da DEIC, delegado Kleber de Oliveira Granja, explica que investe na capacitação da equipe para tornar a luta favorável à Polícia Civil. Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, ele contou sobre essa nova realidade. Acompanhe os temas abordados. 

Entendimento 

“O ponto central hoje do trabalho da Polícia Civil de Ribeirão Preto, é de primeiro, entender que o crime se aperfeiçoou. Desenvolveram ferramentas tecnológicas como WhatsApp ou Facebook. Quem desenvolveu foi para o bem, visando a melhoria da condição humana. Não se cria uma estratégia de comunicação entre pessoas para fins de prática de crime.  

Os criminosos evoluíram, se aperfeiçoaram, se especializaram na área tecnológica. Hoje temos indivíduos infiltrados em corporações do crime que visam cada vez mais adaptar-se a essa evolução para a prática de criminalidade. A Legislação, por sua vez, tende a se adequar a essas ações.  

Tivemos a edição recente da Lei que qualificou a pena de estelionato. Dentro do Código Penal, temos um crime chamado Estelionato Virtual. Um chamado Furto Virtual. Tenho condutas tipificadas, como a invasão de sistemas informatizados por parte de indivíduos que querem colocar maliciosos, os chamados phishings, para que aquela empresa tenha um prejuízo, que são os ciberataques”. 

Organizações criminosas 

“A gestão da DEIC hoje atua basicamente visando o enfrentamento a células criminosas, que realizam crimes dos mais diversos. Quando se fala em organização criminosa, não podemos pensar apenas em crime dentro do sistema penitenciário, daquela facção criminosa que atua junto ao sistema prisional e fora dele. Hoje, em Ribeirão Preto, temos organizações criminosas, por exemplo, voltadas para o furto e roubo de veículos, voltados especificamente aos desmanches clandestinos e aos desmanches cadastrados que continuam teimando em receptar peças usadas. 

Temos células criminosas voltadas para o tráfico de drogas. Temos as voltadas para a prática de homicídios contra indivíduos que praticam crimes, os chamados grupos de extermínios. Sempre que a sociedade avança, vem o lado negativo que tenta fazer com que ocorra a involução”. 

Capacitação 

“Temos como métrica de enfrentamento ao cibercrime, a necessidade de capacitação. É o primeiro pilar. Nossos policiais têm que entender os processos de evolução e involução e entender que não é a idade do policial que vai limitar. Tenho policiais aqui – os chamados antigões – que estão fazendo cursos de lavagem de dinheiro, de gestão em rede tecnológica. Já tenho policial formado em T.I. 

Vamos buscar bancos de talentos junto ao nosso departamento [Deinter-3] para recepcionar novos policiais [aprovados em concurso público] e identificar perfis de indivíduos que possam colaborar nesse enfrentamento à cibercriminalidade. Quando falamos em estelionato virtual, há criminosos entrando nos sistemas operacionais para cooptação de informações sensíveis de uma empresa, para espionagem industrial. Hoje, precisamos de estratégia da atividade de inteligência buscando dados negados, coletando informações em rede aberta, para gestar um processo e apresentar para um tomador de decisão a melhor saída. ou pelo menos algumas saídas efetivas. É isso que temos realizado”. 

Engrenagem 

“Mais do que simplesmente registrar boletins de ocorrência, temos sistemas informatizados com o uso de tecnologia da informação e inteligência artificial, que estão sendo desenvolvidos pelo nosso Departamento de Inteligência Policial (Dipol), que irá alinhar a capacitação do policial a ferramentas tecnológicas. 

Quando registro um boletim de ocorrência de estelionato virtual e uso a base da inteligência artificial para processamento das informações que são milhões de dados, pego o policial capacitado e, junto a ele, uma rede neural que lhe dá a facilidade de analisar dados com maior rapidez e confiabilidade. Com essa engrenagem, consigo com menos fazer mais”. 

Efetivo 

“É óbvio, estamos com uma defasagem de efetivo, não tenha dúvida nenhuma. Até porque a Polícia Civil não é só tecnológica, é de base territorial. E temos policiais muitíssimo capacitados. 

Nesse período de entressafra que tivemos em relação ao investimento da política pública na formação e capacitação do policial civil, só não colapsou Ribeirão Preto por conta dessa dedicação. Há um histórico do policial civil de Ribeirão Preto, de muito amor e dedicação à sua comunidade”. 

Negócio Social 

“Hoje, seu tenho um negócio aqui. E um negócio que pode não dar muito lucro financeiro, mas dá muito lucro social, do ponto de vista da sensação de segurança. É preciso alinhar minha marca a outras marcas fortes, como Polícia Militar, Polícia Federal, a Polícia Municipal – que é como já denomino a Guarda Civil Metropolitana. Muitos não têm ideia do poder de integração que está havendo entre essas instâncias”. 

Criptografia 

“Criminoso hoje não combina um crime por telefone. Vai no WhatsApp, com uma manta criptográfica. Que foi criada para uma gestão policial conversar coisas sensíveis numa operação. O criminoso se aproveitou dessa forma de comunicação para blindar a atividade de inteligência dele”. 

Crime virtual também deixa rastro 

“As formas como os chamados golpes por meio eletrônico se processam são muito rápidas. Se aperfeiçoam a cada dia para chamar a atenção da vítima, para realizar a engenharia social. 

Temos identificado a perspectiva de migração de algumas fontes do crime para o crime cibernético. Recentemente desarticulamos uma estrutura criminosa que estava praticando estelionatos virtuais em shows. O cara se passando por vendedor ambulante, usando uma máquina [de débito/crédito] fake, trocando o cartão da vítima e aplicando o golpe.  

Ou senão, subtraia a maquininha de uma loja. colocava uma fake e, quando a pessoa ia ver no final do dia, toda a movimentação tinha ido para essa estratégia. O policial que recebe a primeira informação e não está capacitado, tende a descartar algumas informações técnicas, alguns vínculos, algumas migalhas que o criminoso deixou (porque deixa rastro). Por isso a necessidade da capacitação”. 

Infiltração virtual 

“Assim como o criminoso, fisicamente, deixa um rastro de sangue, de pegada ou impressão digital, eu tenho os rastros digitais deixados no estelionato virtual. A legislação, através da Lei 12.850, me dá a condição de capacitar meu policial e realizar, com autorização judicial, uma infiltração policial. Eu insiro uma isca pela internet que, na realidade, é um gancho para realizar a infiltração dentro da estrutura criminosa. 

É o que o criminoso faz através de phishings, que é uma terminologia de pescaria do inglês. O criminoso vai lançando os anzóis com as iscas, dentro desse mar chamado Internet à procura daquele peixe mais desatento.  

Por isso falam que aumentaram muito as prisões na Polícia Civil de Ribeirão Preto. As apreensões. a retirada de droga, o esclarecimento. Estratégias de enfrentamento que estão sendo criadas, por exemplo, na modalidade de furto e roubo de veículos. Isso é ponto de honra: reduzir esse número de roubos”. 

Georreferenciamento 

“Qualquer crime pode ser praticado por meio eletrônico. A vida das pessoas está no smartphone. Você sai de casa, às vezes, sem um agasalho, mas não esquece o celular.  

Recentemente, chegou na DEIC a informação de um sequestro relâmpago. A família recebia o pedido no grupo dizendo que fulano estava sequestrado e tinha que fazer um depósito de R$ 5 mil na conta de beltrano. Entramos na investigação, dando imediatamente ordem para não negociar, ainda que fosse um sequestro efetivo. 

Entendemos a dinâmica e começamos a jogar algumas iscas virtuais. E a pessoa mordeu a isca. Conseguimos, por georreferenciamento localizar o golpista. Qualquer dispositivo eletrônico, ainda que desligado, pode dar georreferenciamento. 

E criminoso não vai para cena de crime sem celular. Ele deixa os rastros. E ele morde a isca virtual, a infiltração virtual. Graças à Lei. Foi outro avanço que a legislação teve para dar esse retorno ao policial. Mas não adianta dar esse viés de investigação se ele não estiver capacitado, com a ferramenta adequada para ele trabalhar e se minha estrutura de rede não estiver implementada”. 

 

 

 

 

 

 

 

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