Por Adriana Del Ré
Gritos, lágrimas, histeria. As definições de fãs de boyband foram atualizadas com o grupo sul-coreano BTS, que se apresentou neste sábado, 25, para um público lotado, de 42 mil pessoas, no Allianz Parque, em São Paulo – eles fazem show novamente neste domingo, 26, com ingressos esgotados. Mas as reações extremadas são praticamente as mesmas desde tempos de Beatles, passando, mais tarde, por Menudos, News Kids On The Block e Backstreet Boys. O que muda é a geração que está na plateia – e no palco. O interessante é que, diferentemente das outras bandas do gênero, o BTS é de origem asiática, derrubando uma hegemonia inglesa-americana de décadas.
Formado por Jin, Suga, J-Hope, RM, Jimin, V e Jungkook, que estão na faixa dos 20 e poucos anos, o BTS subiu ao palco às 19h, mas antes os fãs, conhecidos como Armys (lembram-se dos beatlemaníacos?), fizeram uma imersão nos clipes do grupo, exibidos na sequência antes da aparição deles. E o público acompanhava as músicas em coro, mesmo as letras sendo cantadas majotariamente em coreano. Quando eles começaram o show, o clima de clipe continuou. Megaproduçao, cenografia digital, troca constante de figurinos. Os integrantes cantavam, muitas vezes, olhando para as câmeras que reproduziam o show nos telões, como se estivessem num grande videoclipe (ou MV, na linguagem do k-pop).
É a boyband da era das redes sociais. Como figuras públicas, os sete integrantes são bem comportados, como um grupo de k-pop deve ser, passando longe das polêmicas que marcaram esse cenário nos últimos tempos, com casos de suicídio e corrupção. Carismáticos, cada um deles parece um emoji. Interagem com os fãs tanto na vida real, como fizeram ao longo do show no Allianz, como também na virtual – não raro, eles fazem lives em suas redes. A imagem é o forte deles. Isso se estende para a carreira, com clipes ultraproduzidos, e visual e gestos milimetricamente pensados.
No primeiro show em São Paulo, eles cantaram seus grandes hits, como Fake Love, Idol e Euphoria, dançaram com perfeição (resultado de horas e horas de ensaios diários), brincaram de sambar. Revezavam-se no palco com a formação toda e também em apresentações solos – com direito a integrante ‘voando’ no palco ou iniciando uma apresentação em uma cama suspensa (!).
Conversaram com o público ao longo do show, que durou 2h30, em coreano (com tradução simultânea), em inglês e até português, falando frases inteiras ou “eu amo vocês” e “Juntos e Shallow Now”, numa referência ao refrão da versão de Shallow, de Lady Gaga, feita por Paula Fernandes e que é assunto nas redes até hoje. Foi simpático da parte deles.
Apesar de os fãs conhecerem os significados das letras das músicas – o Google e os YouTubers fanáticos por BTS estão aí para isso -, é possível entender como a sonoridade deles também fisga o público, já que sua matriz está no pop e no rap americanos, o que é familiar ao mundo Ocidental desde que a pessoa praticamente nasce.
O tipo de música que eles fazem pode ser questionada, mas o grupo é um fenômeno da cultura pop mundial, não só asiática, e isso não pode ser minimizado. Existe uma combinação de talento e carisma ali. É sabido que a indústria do k-pop fabrica grupos em série, mas é preciso ter estofo para sustentar o sucesso. E talvez isso explique por que o BTS se tornou esse fenômeno todo, com milhões de visualizações no YouTube em seus clipes, liderando listas da Billboard, se tornando atração de premiações como o Grammy, a ponto de se tornar queridinho da América, o que é um feito para artistas não americanos.
Assim como outras boybond, o BTS tem, certamente, prazo de validade, mas a história deles já está escrita na história da música pop.