Por Camila Tuchlinski
São 46 anos de consultório atendendo casais e pessoas que sofrem por questões ligadas ao amor e sexo. Em seu livro de número 13, Regina Navarro explora o contexto histórico dos relacionamentos interpessoais desde os primórdios até os dias atuais.
Em Amor na Vitrine – Um olhar sobre as relações amorosas contemporâneas, da editora Best-Seller, a psicanalista e escritora traz dados interessantes ao leitor, como a origem do patriarcado, há mais de cinco mil anos, e a partir de quando a mulher começou a ter um lugar mais submisso, de inferioridade e violência na relação a dois.
“Foi quase natural que o pênis se tornasse objeto de adoração e fé religiosa. O fenômeno do culto fálico se espalhou por todo o mundo antigo e é representado em vários monumentos em diferentes lugares”, diz. Ela explica que, antes, a mulher era vista como uma figura misteriosa, cujo corpo dá origem a vida e alimento através do leite materno, sem a participação masculina.
Quando o homem percebe que, para haver fecundação o esperma é necessário, começa uma super valorização do órgão genital masculino. É nesse momento que a mulher passa a ser considerada ‘sexo frágil’, que precisaria ser protegida pelo provedor. O que sucedeu desde então foi uma série de violências e abusos contra a mulher, evidentes até os dias atuais.
Porém, o surgimento da pílula anticoncepcional na década de 1960, na visão de Regina Navarro, marca o início da queda do patriarcado que, apesar de estar longe de ser concluída, deu autonomia para que as mulheres administrassem a natalidade.
Em capítulos muito bem divididos e parágrafos curtos, o livro da psicanalista é informativo e provocativo. Isso porque toca em um assunto ainda muito pouco abordado ou discutido nas rodas de conversas entre os homens: a fragilidade masculina.
Regina Navarro aponta que o comportamento dessa população pode ser tóxico, no entanto, o homem carece amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos, assim como as mulheres. Ao mesmo tempo, não à toa, ao suprimirem seus desejos e sensibilidades, eles estão mais expostos a vulnerabilidades como o suicídio – índice que tem prevalência entre pessoas do sexo masculino.
Além de discutir a estrutura do casamento e suas transformações como as relações livres, poliamor e sexo a três, a psicanalista fala sobre orientação sexual, heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade.
De maneira didática e cativante, também dá espaço para a discussão sobre o ideal romântico e a possibilidade de estar só. Ela ressalta que, no ocidente, somos incentivados a acreditar só ser possível encontrar a realização afetiva através da relação amorosa fixa e estável com uma única pessoa: “É fundamental desenvolver a capacidade de ficar bem sozinho. Uma relação não pode ser por necessidade do outro e sim pelo prazer de estar junto”, conclui.
Uma questão que ainda fica em aberto em Amor na Vitrine é a discussão sobre a descoberta da intimidade e do prazer sexual. Com a diversidade de relações e novas modalidades de afeto, será que teremos indivíduos mais livres e dispostos a experimentar afetos nunca dante explorados? Essa provocação, por si só, daria um outro livro.