Há quatro meses a assistente social, Ana Paula Fernandes, tenta voltar ao mercado de trabalho. Profissional de uma empresa que prestava serviços para os principais shoppings na cidade de Ribeirão Preto, ela trabalhava com crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Entretanto, com o decreto do estado de calamidade pública por causa do coronavírus e com o fechamento dos estabelecimentos considerados não essenciais, ela perdeu o emprego. Os shoppings estão incluídos nesta categoria.
Como assistente social realizava um trabalho essencialmente socioeducativo, mostrando e oferecendo ao público atendido, os serviços assistenciais disponíveis no município.
Com a demissão, a vida de Ana Paula mudou radicalmente. Agora mantém uma rotina diária atrás de uma recolocação em sites e agências de empregos. Também fica conectada no Linkedin, realiza ligações nos recursos humanos de empresas, além de encaminhar currículos para possíveis empregadores.
Como sabe que muitas empresas estão proibidas de funcionarem durante a quarentena, a assistente social tem direcionado sua busca para as classificadas como serviços essenciais. “Acredito que nesse atual cenário são empresas em que poderei ter a chance de conseguir uma contratação”, afirma.
Em função da pandemia e para ficar mais informada sobre o tema ela também aproveitou o período livre para realizar o curso Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (covid-19) disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Já para garantir a sobrevivência tem feito alguns bicos e contado com o dinheiro do Auxílio Emergencial do Governo Federal.
Assumidamente uma pessoa proativa – que tinha uma rotina de trabalho extensa, além de atividades físicas e de lazer -, ela ressalta que com a chegada da pandemia houve a necessidade de tirar o pé do acelerador. “Isso me fez lembrar de valorizar algumas coisas que estavam passando batido com a correria do dia a dia, como os momentos em família”, diz.
“Procuro sempre fazer minha parte quando se trata do meu retorno ao mercado de trabalho, pois quero crescer profissionalmente e mesmo em meio à crise não tenho desistido.
Embora alguns dias sejam mais cansativos porque a busca parece não ter resultados satisfatórios, tenho mantido a fé e acreditado que dias melhores virão”, ensina. Para ela, a crise é uma fase passageira e não um estado permanentemente. Por isso é preciso aprender e perceber e acumular as experiências positivas que ela pode gerar.
Se reinventar
Para o especialista em Recursos Humanos, Amauhry Zucolaro, apesar de a pandemia ter provocado uma grave crise na economia é preciso ficar atento para as oportunidades que estão aparecendo neste período.
Formado em Administração de Empresa, com pós graduação em Recursos Humanos e proprietário de uma empresa do setor, Amauhry diz que o mercado tem sido obrigado a se reinventar. E que muitos brasileiros que não exerciam uma determinada atividade, estão sendo obrigado a se readaptarem.
Ele cita como exemplo alguém que exercia a função de auxiliar de produção que perdeu seu trabalho em uma metalúrgica e que acabou se tornando, por exemplo, um atendente de e-commerce. O setor da tecnologia, e-commerce, trabalho via internet como aplicativos, empresa de foods service e delivery são alguns do setores listados pelo especialista como os que cresceram na pandemia.
Amauhry revela que sua empresa recebe em média, no site de cadastro, de 100 a 120 novos currículos por dia. “Quando abrimos uma vaga administrativa recebemos em nosso site mais ou menos 200 inscritos”.
Ele ressalta, porém, que apesar do desespero em voltar ao mercado de trabalho muitos candidatos não tem o básico exigido, como qualificação profissional e conhecimento específico na área que pretende atuar.
Por fim, ele aconselha que é preciso não desistir. “Nós brasileiros sempre damos um jeitinho e sempre acaba dando certo. Nesta crise o setor de Recursos Humanos se reinventou, inovou, buscou alternativas para atender esses profissionais que estão em busca de trabalho”.
Atualmente as entrevistas com os candidatos a uma vaga – que eram realizadas presencialmente – passaram a ser por meio de WhatsApp vídeo e Google Meet, entre outros.
Para Ismael Colissi, ex-diretor regional da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho em Ribeirão Preto, a primeira dica pra quem esta buscando um novo emprego é focar nas atividades em que tem qualificação. Atualmente ele atua na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, onde coordenou a 1º Feira de Empregabilidade e Empreendedorismo de Ribeirão Preto com mais de 20 empresas, 15 palestras gratuitas, 500 vagas de emprego e 2500 pessoas atendidas.
“Nos períodos de crises e com muita mão de obra disponível no mercado, as empresas valorizam candidatos preparados e qualificados”, garante. Em paralelo, o candidato deve buscar informações e capacitação constante, aproveitar ao máximo os cursos online gratuitos, principalmente àqueles ligados as áreas que mais abriram vagas nesta pandemia: saúde, varejo, logística, tecnologia da informação.
Outro ponto importante destacado por Ismael é que o candidato revise seu currículo: levantando, reescrevendo e ressaltando todas suas conquistas; fazer uma reciclagem, no sentido de conhecer os seus pontos fortes e aqueles que precisam ser melhorados. “Com mais currículos para serem analisados, os recrutadores e empregadores irão selecionar aqueles que melhor apresentem o que buscam”, completa.
O desemprego em Ribeirão
Segundo a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que em maio a economia de Ribeirão Preto encerrou mais 2.368 vagas de emprego com carteira assinada.
Naquele mês foram 3.643 admissões e 6.011 demissões em Ribeirão Preto, com déficit de 2.368 vagas de emprego formal. O resultado negativo do mês é 132 vezes superior ao superávit do mesmo mês de 2019, quando os principais setores da economia ribeirão-pretana geraram apenas 18 novos postos de trabalho com carteira assinada – fruto de 8.250 admissões e 8.232 demissões.
No acumulado do ano, entre 1º de janeiro e 31 de maio, o déficit do emprego formal já chega a 7.523, com 34.256 contratações e 41.779 dispensas, também como consequência da pandemia. No mesmo período de cinco meses de 2019, Ribeirão Preto contabilizava saldo de 2.459 carteiras assinadas, com 43.485 pessoas admitidas e 41.026 demitidas.
Segundo o Caged, em Ribeirão Preto, o setor de serviços registrou o maior déficit em maio, de 1.161, com 2.052 admissões e 3.213 demissões. O comércio vem em seguida, com 822 contratações e 1.652 dispensas, rombo de 830 postos de trabalho fechados.
Depois aparece a indústria, com 301 novas carteiras assinadas e 559 vagas extintas, déficit de 258. A construção civil contratou 456 pessoas e demitiu 579 operários, rombo de 123 empregos. A agropecuária admitiu 12 funcionários, dispensou oito e fechou o mês com superávit de quatro postos.