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Educar para perguntar 

A importância de formar questionadores em um mundo de respostas prontas

Daniel Barboza *
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Em um mundo cada vez mais inundado de informações e onde a tecnologia nos oferece respostas instantâneas para quase tudo, precisamos urgentemente desenvolver nos estudantes uma habilidade menos óbvia, porém extremamente poderosa: a capacidade de fazer perguntas. Mais do que buscar respostas prontas, é fundamental preparar nossos alunos para serem questionadores críticos e criativos, capazes de construir sentido e gerar conhecimento próprio a partir das inúmeras informações que recebem. Esse é um caminho essencial para o desenvolvimento da autonomia, para que se tornem solucionadores de problemas reais — uma competência que ultrapassa a sala de aula e os acompanha ao longo de toda a vida.

Essa habilidade não é importante apenas para a vida acadêmica, mas também para o exercício de uma cidadania ativa e para o mercado de trabalho, que cada vez mais valoriza profissionais com a capacidade de inovar, adaptar-se e enfrentar desafios com uma postura investigativa. As competências e habilidades propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforçam essa abordagem, ao destacar a importância de desenvolver nos estudantes o pensamento crítico, a resolução de problemas e a comunicação efetiva. Para que isso se concretize, é necessário que os educadores sejam capacitados a transformar suas práticas pedagógicas, estimulando o questionamento e criando um ambiente onde o aprendizado se constrói a partir de perguntas que fazem sentido para o estudante.

Uma das referências para essa abordagem é o trabalho desenvolvido pelo Right Question Institute, que tem liderado pesquisas e iniciativas para transformar a formulação de perguntas em uma prática central no aprendizado. Eles acreditam que, ao capacitar os estudantes a formular questões mais relevantes, abrimos espaço para um entendimento mais profundo e para um engajamento genuíno na construção do conhecimento.

Outro exemplo inspirador é o Project Zero, da Universidade de Harvard, que há décadas investiga como criar ambientes educacionais que incentivem a exploração, a curiosidade e o questionamento como um caminho para o aprendizado profundo. O pensamento visível e a cultura de perguntas são pilares centrais em suas pesquisas. Eles defendem que, em ambientes onde os estudantes sentem-se confortáveis para questionar, para explorar temas por múltiplas perspectivas e onde o erro é encarado como parte do processo de aprendizagem, desenvolvem-se competências mais profundas de resolução de problemas e inovação.

Do ponto de vista das neurociências, estudos como os de Daniel Willingham, professor de psicologia na Universidade de Virgínia, indicam que perguntas bem estruturadas têm o potencial de ativar redes neurais mais profundas, promovendo conexões que reforçam o aprendizado e a memória de longo prazo. Esse tipo de impacto é exatamente o que queremos provocar nas escolas: alunos que não apenas absorvem e retêm informações, mas que também compreendem como aplicá-las, ajustá-las e, principalmente, questioná-las.

Para os educadores, essa abordagem representa uma transformação profunda na prática pedagógica. É necessário adotar uma postura de facilitador e guia, promovendo um espaço seguro e estimulante para que o estudante se sinta confortável em perguntar, explorar e desafiar ideias. Essa mudança exige uma reflexão sobre a própria prática docente e um comprometimento com a criação de um ambiente acolhedor, onde o questionamento é visto como uma prática positiva e essencial. Além disso, requer que os professores saibam escutar e estimular as dúvidas dos estudantes, oferecendo a eles ferramentas para que possam transformar suas perguntas em pontes para o conhecimento.

Essa transformação é, de fato, um desafio, mas também uma oportunidade de construir uma geração mais engajada e consciente. Quando os estudantes aprendem a questionar, eles desenvolvem uma compreensão mais profunda dos conteúdos, pois deixam de apenas consumir informações e passam a interagir com elas de maneira ativa e crítica. Eles se tornam mais empáticos e abertos a novas perspectivas, pois entendem que há muitas formas de ver e compreender o mundo.

Portanto, em um contexto global onde a quantidade de informação é imensa e a capacidade de filtrá-la e compreendê-la é mais relevante do que nunca, o papel da educação é ajudar os alunos a se tornarem questionadores. E isso significa não apenas prepará-los para as provas, mas também para a vida. Significa dar-lhes as ferramentas para que saibam como construir conhecimento, adaptá-lo às suas necessidades e reavaliá-lo sempre que necessário. Em última análise, ao promover a capacidade de fazer perguntas, estamos contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos, mais criativos e mais preparados para os desafios do futuro.

* Educador há 19 anos, coordenador pedagógico e professor de história e geografia 

 

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